Irã culpa os judeus pelas manifestações pela morte de Mahsa Amini

A desfaçatez do governo iraniano e seu Conselho de Aiatolás seria apenas uma bizarrice, não fosse o mais puro antissemitismo. As mulheres iranianas continuam nas ruas protestando contra a obrigação do véu islâmico, apoiadas por muitos homens e o líder supremo, o aiatolá Ali Khamenei culpa os judeus.

Colocar a culpa nos judeus em situações das quais os judeus nem fazem parte é o antissemitismo clássico.

Mas não culpa seus 22.000 judeus amestrados. A culpa é nossa aqui. Minha, dos que nos leem, dos judeus que vivem em Israel, nos EUA, na Rússia, na Ucrânia, na Argentina etc. Nós aqui, junto com os norte-americanos estamos não só fomentando a revolta popular iraniana, como alimentando-a.

Khamenei disse isto no discurso de formatura da nova turma de oficiais da polícia de seu país, neste domingo, dia 2 de outubro.

Dias atrás, enquanto policiais já formados matavam civis nas manifestações nas ruas da capital Teerã, do púlpito da ONU os iranianos declaravam que os judeus de Israel são “selvagens”. Utilizam com estudo a técnica de culpar primeiro os outros, pelo que eles de fato são em casa.

Gritando no deserto, já com a areia pelo pescoço, apenas mais uma vez, infelizmente mais uma vez, inflexivelmente mais uma vez, preciso perguntar: onde estão estas porcarias de ONGs feministas de esquerda que querem mais que as mulheres no islã se ferrem ou sejam ferradas? Nunca, qualquer palavra de apoio ou repúdio às execuções de mulheres nos países islâmicos. Sejam apedrejadas por acusação de sexo fora do casamento, sejam açoitadas com crueldade por vestirem uma calça comprida debaixo da veste islâmica, sejam enforcadas em guindastes por serem lésbicas, ou como Mahsa Amini, espancada até a morte, por policiais, porque não estava usando o véu em público.

Mais de 90 já foram mortos igualmente pela polícia durantes os protestos. Enquanto isso, nós somos os selvagens, horrorosos, que acreditamos na democracia e na liberdade.

Opinião de José Roitberg – jornalista e pesquisador

Imagem: arte sobre foto das manifestações de rua em Teerã publicada no Twitter