Judeu da sorte
Um antigo costume na Polônia parece, no mínimo, um pouco estranho. Em lojas e mercados, estão à venda fotos, pequenas estátuas e bugigangas retratando judeus em trajes tradicionais, contando dinheiro e moedas de ouro. Alguns habitantes locais consideram esses objetos como amuletos para obter mais lucros e sucesso em suas vidas.
As autoridades municipais da segunda maior cidade da Polônia pediram o fim da venda das chamadas estatuetas e pinturas de “judeus da sorte”, que retratam judeus ortodoxos com características faciais estereotipadamente antissemitas, contando moedas de ouro.
“Essas estatuetas são antissemitas e é hora de percebermos isso”, declarou Robert Piaskowski – o representante cultural do prefeito de Cracóvia, Jacek Majchrowski – na semana passada.
“Em uma cidade como Cracóvia, com uma herança tão difícil e um passado doloroso,esse objeto não deveria ser vendido”, disse Piaskowski. “Chega de varrer para baixo do tapete.”
O comunicado decorreu de um processo de consulta lançado em 2020 sobre a continuação da venda das estatuetas, que suscitou ira dentro e fora da Polônia. Museus, associações religiosas e outras instituições foram sondadas quanto às suas opiniões sobre o assunto pelo município de Cracóvia.
O fenômeno das estatuetas de “judeu da sorte” nas casas polonesas, normalmente feitas de madeira, cresceu em popularidade nos últimos 20 anos. Em determinado momento, as estatuetas puderam até mesmo ser compradas na loja oficial de presentes do parlamento polonês, até que protestos de grupos judeus em 2017 interromperam sua venda.
Os defensores do costume dizem que reflete nostalgia da presença judaica na Polônia, onde 3,3 milhões de judeus viviam antes do Holocausto. A Polônia agora tem cerca de 4.500 pessoas que se identificam como judias e aproximadamente 7.000 com pelo menos um pai judeu, de acordo com um estudo demográfico de 2020 do judaísmo europeu.
Embora as estatuetas sejam comumente defendidas na Polônia como totens inofensivos projetados para trazer boa fortuna financeira, grupos e historiadores judeus afirmam que evocam o estereótipo perigoso dos judeus como agiotas avarentos que desencadearam pogroms e outras atrocidades antijudaicas ao longo dos séculos.
De acordo com o site Salon24, a cidade pode negar concessões de mercado aos vendedores dessas estatuetas.