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Minas do Rei Salomão, Portugal e Marquês de Sapucaí – uma explicação histórica

Muitos judeus se surpreenderam ao ver na TV um desfile no Carnaval carioca com um enorme Rei Salomão dourado (com Estrela de David no peito) e alegorias representando a Menorá e a Estrela de David. O enredo da Unidos da Tijuca era sobre Portugal. Teria isso a ver com a presença judaica em Portugal e os expulsos em 1496? Não.

E isso precisa de uma explicação que não constava do enredo e muito menos dos comentaristas do desfile.

Apesar dos detalhes do período do Reino de Salomão terem sido removidos do Tanach no século 1 EC (Era Comum), historicamente se sabe que Salomão tinha operações comerciais de obtenção de insumos para as construções que realizou. Comprava “cedro de Líbano” diretamente dos fenícios, que eram o povo que dominava uma larga faixa do litoral do Mediterrâneo desde alguns km ao sul de Akko (Acre) até mais ao norte de onde hoje é a fronteira do Líbano com a Síria, minerais de onde hoje é o Iêmen e a Etiópia (então o Reino de Sabá) e os judeus permaneceram em ambos os territórios, madeira do oeste da Índia (onde uma comunidade judaica também floresceu), e a mina principal no hoje Golfo de Biscaia, litoral sul de Portugal, já no oceano Atlântico, após o Estreito de Gibraltar. É a este local que o enredo da avenida se remete.

Mas não era Portugal. Precisamos lembrar que David e Salomão são reis da Idade do Bronze. Naquela época a Península Ibérica era dividida em 28 etnias majoritárias e dezenas de minoritárias. Os fenícios, tinham estabelecidos postos comerciais seis locais no litoral sul hoje da Espanha (no Mediterrâneo) e os gregos, outros dois no extremo norte do litoral.

O que nos interessa é o sétimo posto fenício, Gadir, onde se localizavam as minas ou a mina (não existe informação histórica). A etnia dali chamava-se Turdetani, que desapareceu em batalha no século 6 AEC (antes da Era Comum). O Reino de Portugal surge apenas no século 12 EC.

O Rei Salomão na visão artística da Unidos da Tijuca, alegoria lindíssima. Foto de Divulgação

A marinha fenícia foi contratada tanto por Davi como por Salomão para as rotas de comércio necessárias ao reino. Os judeus não construíram navios, nem os operaram, mas existiam marinheiros judeus, pois isso consta da tabela de profissões antigas na Mishná. Provavelmente a história de Jonas e baleia assustou gerações.

O Templo de Salomão, segundo a Unidos da Tijuca, com uma estrela de seis pontas que não fazia parte destacada do judaísmo daquela época

A estrela, apesar do nome em hebraico, ser “magen” (escudo), não foi um símbolo nem do reinado de David nem de Salomão. Não havia bandeiras com a estrela ou ela pintada em escudos etc. Só muito posteriormente foi atribuída à ao Escudo (espiritual de David), à estrela de seis pontas. Mas ela também é utilizada em outras religiões com outros significados.

José Roitberg

José Roitberg é um jornalista brasileiro e pesquisador em história, formado em Filosofia do Ensino sobre o Holocausto, pelo Yad Vashem de Jerusalém.