Morre no Rio Freddy Glatt, sobrevivente do Holocausto e presidente da Sherit Hapleitá RJ
por Victor Grinbaum jornalista e escritor
Morreu aos 93 anos de idade Siegfried Glatt z’l, mais conhecido como “Freddy”, sobrevivente do Holocausto e presidente da Sherit Hapleitá do Rio de Janeiro.
Nascido em Berlim em 31 de março de 1928, aos cinco anos teve que deixar a capital alemã com toda sua família, para fugir da perseguição nazista. Passaram a viver em Bruxelas, onde imaginavam que estariam seguros. Pouco tempo depois, seu pai, Majer, se divorciou de Rosalia, a mãe de Freddy, e se instalou no Brasil. O restante da família, que incluía os dois irmãos mais velhos de Freddy e seus avós maternos, permaneceu na Bélgica.
Após a invasão nazista da Bélgica, em 1940, tentaram escapar pelo interior da França, mas acabaram voltando para o local onde moravam, achando que as perseguições aos judeus cessariam. Foi um erro fatal. Norbert e Joachim, os irmãos mais velhos, foram convocados para supostamente trabalharem como operários na construção da Muralha do Atlântico. Mas foram levados para Auschwitz e executados logo em seguida. Mesmo destino dos avós, Salomon e Chaia.
Caídos na clandestinidade, Freddy e sua mãe passaram os anos seguintes sobrevivendo com a ajuda da Resistência Belga e de padres ativistas da Juventude Operária Católica.
Na década de 1950, Freddy e sua mãe se instalaram no Rio de Janeiro. De operário, acabou por se tornar empresário e representante comercial. Casou-se em 1954 com Betty Aronowitz, com quem teve três filhos.
Em 2015, após a morte de Aleksander Laks, Glatt se tornou presidente da Associação dos Israelitas Sobreviventes do Holocausto no Rio de Janeiro, a Sherit Hapleitá. Dedicava-se a proferir palestras em centros de ensino e a representar oficialmente sua entidade em eventos oficiais. Em 2018, lançou o livro de memórias “Roubaram Minha Infância”, escrito em parceria com o jornalista Victor Grinbaum e com organização da historiadora Sofia Débora Levy.
Freddy Glatt enfrentava desde o ano passado as sequelas da Covid-19. De acordo com sua família, ele resistiu bravamente à doença, mas na tarde de 14 de julho, seu organismo deixou de responder. Foi sepultado na manhã seguinte, no Cemitério Comunal Israelita do Caju.