Museu suíço quer revisão da origem de coleção de arte da era nazista
O anúncio do Kunsthaus em Zurique veio no momento em que renovadas suspeitas giram em torno das origens da era nazista de uma das coleções de arte particulares mais prestigiosas da Europa.
O falecido industrial Emil Bührle(1890-1956) acumulou uma fortuna vendendo armas para os nazistas e os aliados durante a Segunda Guerra Mundial, riqueza que o ajudou a comprar cerca de 600 obras de arte até o fim de sua vida.
O debate se ampliou com a publicação de “O Livro Negro Bührle” (em alemão), de Thomas Buomberger, historiador e jornalista, e do historiador de arte Guido Magnaguagno. O momento do lançamento da edição não foi ao acaso. Com o subtítulo: “Arte roubada para o Kunsthaus Zurich?”, o livro foi lançado bem no momento em que se iniciam as obras de ampliação do Museu de Belas Artes de Zurique. Grande parte da coleção Bührle – que conta 190 obras de arte, entre elas quadros de Monet, Cézanne e Van Gogh – será acolhida no museu ampliado, que deve ficar pronto em 2020.
A própria Fundação Buhrle confirma que 13 pinturas compradas pelo industrial alemão, que mais tarde adquiriu a cidadania suíça, foram roubadas pelos nazistas de proprietários judeus na França.
Após uma série de processos judiciais , Buhrle devolveu todas as 13 peças aos seus legítimos proprietários e, em seguida, recomprou nove delas, disse a fundação.
Mas as suspeitas de longa data em torno da proveniência de outras peças da coleção, que inclui obras famosas de nomes como Manet, Degas, Cézanne, Monet, Renoir, Gauguin e Picasso, ganharam força nos últimos anos.
A Fundação Buhrle, entretanto, apresentou um relatório ao Kunsthaus nesta semana sobre a pesquisa de proveniência que realizou nas últimas duas décadas, concluindo que não havia indicações de circunstâncias problemáticas ou proveniências problemáticas para qualquer uma das 203 obras na coleção atual.
Os autores do “Livro Negro” também exigem uma extensão do debate sobre a arte roubada. Segundo eles, a Suíça deveria reconhecer a categoria de obras “cuja perda é consecutiva à perseguição do regime nazista”.
São assim designadas, por exemplo, as vendas feitas por proprietários de obras de arte nos casos de emergência e de perseguição. “O fato que essas mudanças de proprietários sejam consideradas legais é totalmente alheio à realidade”, diz Thomas Buomberger.
Segundo o historiador jornalista, a Suíça deveria seguir o exemplo da Alemanha, que “dedica muitos recursos nesta pesquisa, pois em muitos casos os herdeiros não chegaram a reivindicar a restituição”.