Israel

Nesta terça-feira os árabes em Israel promoverão uma greve geral e manifestações de protesto contra os crimes em suas comunidades

167 árabes israelenses foram abatidos, principalmente a tiros, por outros árabes israelenses apenas de primeiro de janeiro a 3 de setembro de deste ano, o dobro do mesmo período de 2022.

O punhado de areia que transbordou a ampulheta da população árabe foi a execução em um iman, um clérigo islâmico, na porta da mesquita dele, quando saia para ir para casa. Isto, numa cidadezinha que até então teve zero assassinatos desde maio de 1948. Milhares acompanharam o corpo durante o funeral. A imensa maioria sequer o conhecia, mas fuzilar um iman numa mesquita é algo que não está de acordo com o islã.

Ainda mais se o assassinato está ligado com o crime organizado ou desorganizado. Aparentemente o iman não tinha relações com o crime, mas era uma pessoa chamada para resolver conflitos. Deve ter resolvido algo que desagradou tão profundamente que os desagradados preferiram matá-lo.

Enquanto a população árabe não disser claramente o que está acontecendo há cinco longos anos com ela, enquanto os policiais árabes israelenses não se meterem fundo na questão, ninguém vai entender. Acompanhando pelas notícias, parece que cada homicídio, cada fuzilamento de grupos de pessoas é um ato isolado e dissociado, mas tudo deve ter ligação.

Um sujeito mata alguém de quadrilha rival. Os amigos do quadrilheiro morto não conseguem encontrar o assassino, então fuzilam sobrinhos dele. Aí os tios mandam matar ou matam outros ligados aos carrascos de suas crianças. E assim isso se tornou uma bola de lama que rola o Hermon abaixo por cinco anos sem ninguém saber como começou, quem é o responsável e como ser para isso.

É necessário observar as manifestações desta terça-feira porque as frases de árabes publicadas na mídia israelense de segunda-feira davam um tom fantasioso e revisionista à crise de segurança: a culpa é deste governo, antes isso não acontecia. Bem, isso aconteceu durante 3 anos de Bibi, depois um ano com a oposição e continua acontecendo. Seria uma estupidez colocar a culpa dos feudos familiares árabes e guerra de quadrilhas árabes na conta do governo de Israel. Mas provavelmente vão fazer isso.

Por quê? Porque é simples, é fácil e Israel está na reta final para as eleições de prefeitos. Os candidatos árabes vão aproveitar para inflamar seus eleitores e todos os partidos e ramos árabes estão atualmente na oposição. Assim, acusar o governo e isentar seus parentes é praxe. Dois candidatos árabes com agendas anticrime já foram abatidos pelo crime nos últimos dez dias.

Opinião de José Roitberg – jornalista e pesquisador

Imagem: ilustrativa, árabes israelenses em Jerusalém, foto de Ronaldo Gomelvsky

José Roitberg

José Roitberg é um jornalista brasileiro e pesquisador em história, formado em Filosofia do Ensino sobre o Holocausto, pelo Yad Vashem de Jerusalém.