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O pau comeu em Israel no sábado, mas não teve nada a ver com os manifestantes contra o governo: mais de 200 pessoas ficaram feridas.

No sábado 2/set/2023, em Tel Aviv 150 civis ficaram feridos, 20 em estado grave e 50 policiais feridos, um deles em estado gravíssimo tendo sido atingido por um fogareiro de acampamento que penetrou seu crânio e ficou preso.

Calma! Não teve nada a ver com as manifestações contra Israel. Não teve nada a ver com palestinos. Não teve nada a ver com sionismo ou judaísmo. Não teve nada a ver com Israel.

O embaixador de Eritréia chamou os imigrantes “ilegais” para um festival defronte a embaixada. Lá, os grupos contra e a favor do governo da Eritréia se engalfinharam com uma violência jamais vista em Israel. Adicionalmente lojas foram depredadas e saqueadas na confusão ao sul de Tel Aviv. A polícia teve que intervir e os eritreus muçulmanos e católicos passaram a bater nos policiais do Estado Judeu.

Conclusão. Os “ilegais” permanecem em Israel por decisão da Suprema Corte. Bibi disse que desta vez vai deportá-los. Espero que faça com vontade e força e peite a corte. Não a todos, mas os que foram presos ou identificados participando da briga generalizada precisam perder seus direitos.

Mas que direitos seriam estes se são “imigrantes ilegais”? De fato não são ilegais. Ele eram ilegais, mas hoje estão no limbo jurídico.

O caso é antigo e começou no ano de 2009. Existiu um afluxo estranhíssimo de imigrantes ilegais do Sudão e da Eritréia para Israel, durante os governos anteriores do Bibi. Ainda não existia a cerca da fronteira entre os desertos do Negev e Sinai. Eles simplesmente vinham pelo Sinai e entravam a pé pelo Negev MAS ISSO NÃO TEM NADA DE SIMPLES.

Enquanto nossa Revelação de Pessach, o Êxodo diz que levamos 40 anos para fazer esta jornada, os ilegais precisavam de 5 dias.

Eu nunca compreendi e nunca foi sequer falado publicamente, como estas milhares de pessoas, majoritariamente homens, atravessaram o Sudão, o Egito, o Canal de Suez e o Sinai. A única resposta rápida e imediata é a mais simples: tanto as polícias e os militares do Sudão e do Egito permitiram a passagem, já que iam para Israel perturbar os judeus.

O primeiro governo de Bibi deste momento que vem até hoje é de 2008 e a imigração ilegal a pé começou no inverno de 2009.

Mas são povos diferentes. No caso dos sudaneses a maioria era de cristãos do sul oprimidos mesmo pelos muçulmanos do norte. O Sudão não tinha relações diplomáticas com Israel.

Pela lei internacional um imigrante ilegal só pode ser deportado para seu país de origem ou para o país a partir do qual ele veio ilegalmente. Sem relações com o Sudão não dava para deportar. E o Egito, que permitiu o uso de seu território para os ilegais entrarem em Israel não os aceitava de volta.

No fim das contas, com uma pressão da ONU e aporte de países árabes, o Sudão foi dividido e criado o Sudão do Sul, cristão.

Então aconteceu a maior bizarrice contemporânea em Israel: deportaram “voluntariamente” os cristãos para o novo país, dando a cada um uma compensação financeira, enquanto os muçulmanos permanecem em Israel até hoje. Se algum quis sair voluntariamente, recebeu a mesma compensação financeira. Uma inversão total do que deveria ser feito.

Existe no Youtube um vídeo de 2018 onde um israelense judeu está nas ruas do sul de Tel Aviv mostrando os sudaneses. E pergunta a eles porque vieram para Israel. Dois, que foram colocados no vídeo na edição, dizem sorrindo: porque Israel é dos muçulmanos e não dos judeus. Certamente outros responderam outras coisas, mas isso não comprovava a tese do autor do vídeo. É muito claro: o sujeito que vêm do Sudão para tomar posse da Israel Islâmica tem que ser deportado. Zero de consideração.

Israel também não tinha relações diplomáticas com a Eritréia, portanto não podia deportar. A população lá é 49% muçulmana e 43% católica. Daqui de longe, sem dados, é impossível entender a composição religiosa dos eritreus em Israel. Mas a Eritreia é considerado o segundo país mais violador dos direitos humanos, somente atrás da Coreia do Norte. Não existe imprensa livre lá, só estatal.

A Eritréia se define como presidencialista com parlamento, mas nunca teve eleições, é controlada por um partido único e possui um sistema de serviço militar obrigatório de longa duração (tempo de serviço indefinido) do qual muitos homens e jovens fogem de fato.

Foi uma surpresa para mim que a Eritréia tivesse embaixada em Israel. Portanto, pode haver deportações.

Considerando isso, a Suprema Corte de Israel decidiu contra a deportação dos eritreus, quando governo Bibi, assim o aprovou em 2013. Não é humanista expulsar do país quem entrou nele ilegalmente. Essa é a tese vencedora de 2013 até sábado passado.

Quando se fala “imigrantes ilegais” é tão errado como “territórios ocupados”. Os territórios estão em disputa. Os “ilegais” tem o status de estrangeiros procurando asilo político, possuem um visto de residência a ser renovado a cada 6 meses ou 12 meses e permissões de trabalho. Existe um vácuo legal sobre a concessão de asilo político, que ninguém parece estar interessado em resolver. E isso, por mais de uma década. E eles vão ficando, vão trabalhando, casando, tendo filhos, alguns cometendo pequenos crimes.

O ministro do interior israelense, Moshe Arbel, do Shas deu uma declaração oficial afirmando que os pedidos de asilo político estão parados no ministério devido a “falta de pessoal”. Ok, durante vários anos o Shas teve controle deste ministério e parece que não existem funcionários… Será?

Os últimos dados publicados indicam que no final de 2021 existiam 28.000 cidadãos do Sudão e Eritréia vivendo em Israel, cerca de 21.000 da Eritréia e 6.100 do Sudão. Deste total 7.000 são crianças, a maioria nascidas em Israel. 10.000 vivem na parte sul de Tel Aviv, na região da antiga tachanat a merkazit (estação central de ônibus).

O número de envolvidos na pancadaria generalizada foi bem pequeno em relação ao volume de pessoas nesta situação. E é claro que falta uma consideração. Existir em Israel uma facção dos eritreus que é a favor de seu governo ditatorial, derruba qualquer teoria de que todos os eritreus saíram de lá temendo pela segurança deles e são exilados de uma ditadura. Não! Há quadros da ditadura eritreia no Sul de Tel Aviv e o governo tem que os deportar para o país deles. Também zero de consideração.

Não importa o que humanistas falem. Existem 54 países muçulmanos para os eritreus e sudaneses irem. O único país judeu não é o lugar deles. Mas sabemos que nenhum país muçulmano está disposto a aceitá-los.

 Opinião de José Roitberg – jornalista e pesquisador

Imagem: print de tela do site da Al Jazeera que fez a melhor cobertura da confusão e do rastro de destruição. Sugerimos assistir.

José Roitberg

José Roitberg é um jornalista brasileiro e pesquisador em história, formado em Filosofia do Ensino sobre o Holocausto, pelo Yad Vashem de Jerusalém.