O absurdo da distorção moral no debate sobre reféns e terroristas
Por Daniel Benjamin Barenbein
Nos tempos em que vivemos, parece que o óbvio deixou de ser óbvio. Como mencionei em minha live no último domingo, a necessidade de esclarecer o básico tornou-se uma obrigação. Um exemplo emblemático dessa inversão de valores é o recente debate nas redes sociais e na mídia sobre a troca de reféns israelenses sequestrados pelo Hamas por terroristas palestinos condenados.
Alguns posts viralizados comparam a libertação dos reféns com a dos terroristas, argumentando que os sequestrados aparentam estar “bem tratados”, enquanto os prisioneiros palestinos saem com “aparência desgastada”. Esses argumentos distorcidos são usados para insinuar que Israel é o “vilão” e que os terroristas são, de alguma forma, as “vítimas”.
Precisamos voltar ao básico: existe uma diferença abismal entre ser sequestrado em casa, em uma festa, ou no meio da noite – frequentemente acompanhado de estupros, execuções de familiares e deslocamento forçado – e ser preso, julgado e condenado, por cometer atos de terrorismo ou por planejar atos terroristas levados a cabo, ou por comandar terroristas suicidas para se explodirem dentro de ônibus e comércios da área de alimentação em Israel. Isso deveria ser óbvio, mas, aparentemente, a bússola moral de muitas pessoas está quebrada.
Igualar um civil sequestrado de dentro de sua casa, a um terrorista preso, julgado e condenado, é usar uma bússola moral viciada e com ponteiro torto.
Na foto do post
Este é o palco montado para libertação das 4 últimas reféns, no enorme banner atrás as frases estão às claras, em árabe e em inglês, para que todos as leiam e entendam. Nenhuma, repito, nenhuma mídia teve a óbvia e necessária coragem para mostrar isso aos leitores, pois vai contra a narrativa:
1) Palestina – a vitória do povo oprimido versus o nazi-sionismo (texto especificamente adequado aos marxistas);
2) Os lutadores palestinos pela liberdade sempre serão vitoriosos (texto especificamente korânico, onde está teologicamente determinado que os verdadeiros muçulmanos sempre venceram suas batalhas.
3) Gaza é o cemitério dos criminosos sionistas.
4) Al Aqsa Flood – uma revolução contra a injustiça e a criminalidade sionista (também bem focada nas narrativas marxistas).
As soldados declararam em Israel que estavam sorrindo e falantes para mostrar ao Hamas que elas não tinham sido intimidadas por eles, mas, infelizmente boa parte do público judaico entendeu como se elas estivessem colaborando com o Hamas, pensamento vergonhoso.
Além disso, há a questão da desproporção na troca de reféns. Israel está liberando 30 a 50 terroristas por cada refém israelense. Pessoas condenadas por atos de terrorismo – incluindo assassinatos – estão sendo trocadas por civis inocentes, muitos deles crianças, que nunca cometeram crime algum. Quem realmente coloca menos valor na vida humana? A resposta está na matemática dessas trocas: os próprios líderes do Hamas criam a equação em que a vida de um refém israelense vale dezenas de prisioneiros palestinos.
Não é a primeira vez que vemos isso. Na troca de Gilad Shalit, um soldado israelense sequestrado de dentro de seu tanque de guerra e mantido em cativeiro por anos, Israel libertou mais de mil terroristas palestinos. Isso demonstra que Israel valoriza a vida a um nível extremo, enquanto os líderes palestinos reforçam sua própria narrativa de desvalorização da vida humana. Yahia Sinwar foi um dos libertados no acordo por Shalit.
O que me causa ainda mais perplexidade é que essa narrativa distorcida só prospera porque o Povo Judeu está no centro dessa história. Se estivéssemos falando de outro país ou outro povo, a reação seria diferente. Imagine se cidadãos brasileiros fossem sequestrados, estuprados e levados para outro país sul-americano. Ninguém questionaria o direito do Brasil de resgatá-los ou a legitimidade de exigir o mínimo de dignidade para os reféns.
Ainda assim, o mais triste e doloroso é saber que muitos dos reféns sequer terão a chance de voltar. Muitos foram assassinados em Gaza e retornaram apenas como corpos – ou nem isso. Para eles, não haverá sorrisos forçados para câmeras, muito menos comparações absurdas com terroristas que, em alguns casos, continuam a matar após serem libertados.
Vivemos em tempos em que infantilidade, ignorância e absurdos morais são disseminados como fatos nas redes sociais. É nosso dever combater essas narrativas, não apenas por Israel, mas pelo senso de justiça e humanidade que parece estar em declínio.
Daniel Benjamin Barenbein é jornalista e defensor da imagem de Israel.