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Partido do governo da África do Sul deverá perder eleições

Seria este o motivo fundamental para a África do Sul ir contra Israel como está indo neste primeiro semestre de 2024? As eleições são nesta quinta-feira, dia 30 de junho de 2024. O regime é parlamentarista com voto indireto para presidente, inexistindo a figura do primeiro-ministro.

As últimas pesquisas divulgadas dão no máximo 45% das 400 cadeiras para o CNA – Congresso Nacional Africano, atualmente no governo com 57,5% das cadeiras (230) e que governa sozinho, sem coalizão. É um partido que se autodefine como centro-esquerda, mas é filiado à Internacional Socialista (como o PDT no Brasil, único partido tupiniquin filiado). E é um partido absolutamente anti-Israel, pró-Hamas e em eventos de campanha foram feitas declarações contra os judeus da África do Sul e ameaças de prender e expulsar do país cidadãos judeus que venham de Israel, sob a acusação de crimes de guerra. Ainda não passou de apenas retórica eleitoral.

Não obtendo mais de 50% das cadeiras, a presidência e o governo ficam em aberto aguardando coalizões. Todavia, o segundo maior partido está muito longe do CNA. É a Aliança Democrática, um partido liberal com apenas 84 cadeiras do atual parlamento. Uma de suas plataformas é ser contra a corrupção. E um dos problemas do CNA é exatamente a corrupção.

O CNA, partido do falecido Nelson Mandela, está no poder, sozinho, desde 1994. Se for necessária uma coalizão, será a primeira vez na África do Sul. O CNA é acusado de corrupção generalizada e de não ter sido capaz, ao longo de 30 anos, de fornecer os serviços básicos de água e eletricidade para todo o país. Provavelmente segue a cartilha socialista e manter parte do eleitorado intencionalmente na pobreza para faturar votos com promessas que nunca cumpre.

A taxa de criminalidade é altíssima na África do Sul e o dezembro é enorme com um terço dos adultos em idade para trabalho desempregados. É uma fórmula socialista. E como as coisas estão ruins em casa, porquê não culpar Israel de alguma coisa e desviar o foco? Estratégia muito antiga e tradicional. Mas talvez os eleitores tenham perdido a paciência.

O terceiro “maior” partido é muito pequeno, com 44 cadeiras é um partido marxista com nome enganador: Lutadores Pela Liberdade Econômica… É claro que o marxismo nada tem de liberdade econômica.

Em seguida existe o partido Zulu que não tem qualquer problema com Israel com 14 cadeiras, o partido Afrikaner (dos colonizadores europeus, de direita) com míseras 10 cadeiras, e outros nove partidos, um deles com 4 cadeiras e os outros com duas ou uma apenas, inclusive um partido islâmico, com uma plataforma anti-sionista. Existem ainda outros 33 partidos que não chegaram nem aos 0,18% dos votos que deram a cadeira ao partido islâmico.

A partir de amanhã é muito provável que a África do Sul conheça seu primeiro embate parlamentar para formar uma coalizão. A posição do CNA é ruim neste momento pois para ele compor com os que lhe são oposição por 30 anos vai ser muito difícil.

Impossível prever o que vai sair daí. Por exemplo, com 45% mais 10% dos marxistas, o CNA poderia continuar no governo. Só que são inimigos políticos. Já aliança democrática, com os votos atuais, se unindo com todos os outros partidos, menos os marxistas, também não vai a lugar algum. Só existe uma certeza. A partir de amanhã o quadro político sul-africano muda e não dá para prever se para melhor ou pior para Israel, mas com certeza vai haver uma desestabilização interna.

José Roitberg

José Roitberg é um jornalista brasileiro e pesquisador em história, formado em Filosofia do Ensino sobre o Holocausto, pelo Yad Vashem de Jerusalém.