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Quem atacou Isfahan, no Irã, a 1.500 km de Israel?

atualização 2/fev/2023 15h35 – O Irā acusou formalmente Israel pelo ataque. Fotos de satélite de antes e depois mostram danos apenas a pequena parte do estacionamento.

Poderia ter sido o Príncipe da Pérsia com seu tapete voador. Ou talvez o Ali Babá árabe original, não o chinês. O fato é que ninguém divulgou. Israel sequer foi acusado oficialmente pelo governo iraniano. Todavia foi “acusado” por duas mídias poderosas norte-americanas.

Primeiro foi o Wall Street Journal que afirmou ter sido o ataque perpetrado por Israel, alegando que a informação veio de um “oficial do departamento de defesa” norte-americano. Ou seja, uma fonte genérica, sem qualquer tipo de identificação.

Umas doze horas mais tarde, o The New York Times, que recentemente criou um mal estar ao afirmar que sempre foi pró-Israel, quando na maior parte das vezes era anti-Israel, incrementou a informação afirmando que “O Mossad realizou o ataque na instalação de defesa no Irã por seus próprios interesses”, ou seja, nada tendo a ver com a venda de drones e mísseis iranianos para a Rússia disparar contra a Ucrânia. O jornal de Nova Iorque também atribuiu a informação a uma fonte genérica que seriam “oficiais sêniores da inteligência dos Estados Unidos”, seja lá o que isso for. E mais de um.

Existe nos EUA e no Brasil lei que protege o sigilo da fonte. Mas também é muito, mas muito simples mesmo, simplesmente inventar e jogar na conta de “oficiais” de qualquer lugar, pois isso nunca será apurado, e lá entre eles, seja no departamento de defesa ou na “segurança”, que fiquem uns encarando outros imaginando quem tem contato com os jornais. É estranho pois NYT não atribuiu a informação à National Secrurity Agency, mas à inteligência, também sem colocar o nome da CIA.

Logo após o Wall Street Journal, uma manchete estapafúrdia do Jerusalém Post colocou mais lenha na fogueira. É a da imagem principal deste artigo: “Ataque de drones israelenses contra fábrica iraniana de armas é um sucesso fenomenal.” Provavelmente o título mais estúpido dado a um artigo jornalístico até hoje. Mas o JPost prova, com a foto do que parece ser uma enorme explosão alaranjada.

Serviço feito. Fake news por definição. Nós jornalistas, sabemos há décadas que o leitor verifica o título e a foto de um artigo (se houver). Em mais de 85% dos leitores, isto basta. O texto não é lido. Essa característica existente no mundo inteiro é amplamente utilizada contra Israel, com textos que chegam a contradizer a mensagem racista contra o Estado Judeu de alguns títulos. Mas a mensagem do título é a principal.

E tal artigo do JPost circulou o mundo nas mídias sociais, enchendo judeus ufanistas de orgulho. Os iranianos, devem ter rido muito. Se alguém se der ao trabalho de ler a legenda da foto, verificará que é a explosão de um MÍSSIL IRANIANO, num exercício das forças armadas do Irã, tirada por fotógrafo iraniano e divulgada por agência iraniana. Absolutamente nada a ver com o ataque contra Isfahan realizado pouco depois de meia-noite, hora de lá. Quando uma foto nada tem a ver com o texto do artigo, pois muitos não possuem fotos para os ilustrar, costuma ser utilizada “imagem ilustrativa”, deixando claro que não é uma imagem real. O que o JPost fez foi picaretagem.

E outro picareta foi o Zelensky, que logo emitiu uma declaração afirmando que a Ucrânia ia impedir a venda de drones para a Rússia. Apenas se aproveitou da situação.

Então, Zelensky deu a entender que foi ele, dois jornais que se estranham muito com Israel acusam o Estado Judeu de ser o perpetrador, o Jerusalem Post que apesar do nome, pouco tem a ver com Israel, publicando artigos sobre o que acontece dentro de Israel, comprados das agências de notícias (não enviam repórteres nem fotógrafos aos incidente ou eventos israelenses), e as agências oficias iranianas, são quatro, em momento algum acusaram Israel e sim: “ataque covarde perpetrado pelos inimigos do Irã”.

E são inimigos do Irã do Irã xiita todos os países árabes sunitas, exceto o Catar; a Turquia que é sunita não árabe, o Afeganistão, seja talibã ou não, que é sunita não árabe e de onde vem a maior parte do tráfico de drogas para a população iraniana, os curdos, divididos territorialmente entre Turquia, Irã, Síria e Iraque; a minoria sunita que habita o sul do Irã;~os traficantes de drogas iranianos que sentam o dedo nas forças de segurança e vice-versa; o Estado Islâmico sunita jihadista que opera na Síria, Iraque e possui operativos dentro do Irã e Afeganistão; a Al Qaeada sunita jihadista, que além destes locais possui operativos muito mais espalhados pelo mundo; os EUA; Israel; e atualmente a Ucrânia.

Captura de vídeo da câmera de segurança mostrando a pequena explosão do único drone que atingiu a instalação em Isfahan. Vídeo divulgado pela agência IRNA.

Imaginar que o Mossad utilizou 3 ou 4 pequenos drones com bombas pequenas para destruir o telhado do estacionamento e o JPost taxar isto de “sucesso fenomenal”, é muito bizarro e sem sentido. Caso Israel tivesse atacado Isfahan com drones o teria feito com modelos Predator ou superiores, inclusive stealth, invisíveis ao radar, que lançam mísseis de grande capacidade de destruição, a quilômetros ou dezenas de quilômetros do alvo e não Micro Drones suicidas com uma carga explosiva pífia que precisam bater lá na instalação iraniana.

Até mesmo os próprios drones iranianos em uso contra a Ucrânia teriam sido armas corretas para realizar este ataque e destruir a instalação. Na foto abaixo, imagem tirada de um vídeo de câmera de segurança do outro lado da avenida mostrando o momento exato da explosão de um dos drones no telhado da garagem. As explosões a noite parecem muito maiores que na realidade são.

Para terminar, eu preciso jogar um balde de areia fria em meus amigos judeus que teimam em querer que Israel ataque o Irã. Amigos, a guerra entre Israel e Irã está sendo travada na Síria. No dia em que Israel de fato atacar solo iraniano, veremos o lançamento de uns 5.000 a 10.000 mísseis militares a partir do Sul do Líbano, contra Israel, ao longo das duas ou três primeiras horas da guerra que vai se generalizar. Se a artilharia antiaérea a laser de Israel ainda não existir mesmo, então uns 90% destes disparos vão atingir o território de Israel.

Tem gente que acha que Israel, com 9 milhões de habitantes pode atacar, vencer e conquistar o Irã com 88 milhões de habitantes. Estas mesmas pessoas não conseguem entender o tamanho, a extensão territorial do Irã. Como comparação, a Alemanha, que é enorme na Europa, possui 357.588 km², enquanto o Irã possui 1.648.000 km². É praticamente cinco vezes maior que a Alemanha.

Você que torce por guerra entre Israel e Irã, tente compreender que a aviação Israelense precisa voar 1.000 a 2.000 km na ida e na volta para atacar alvos no Irã, enquanto existem 110.000 mísseis militares apontados contra Israel entre 120 km a 300 km, não de Israel, mas de Tel Aviv. Se você reza para alguma situação, reze para esta guerra nunca acontecer.

Opinião de José Roitberg – jornalista e pesquisador

José Roitberg

José Roitberg é um jornalista brasileiro e pesquisador em história, formado em Filosofia do Ensino sobre o Holocausto, pelo Yad Vashem de Jerusalém.