Quinto Relatório – Shin Bet (ISA)
Curiosamente a investigação sobre o Shin Bet, foi realizada pelo Shin Bet que é um grupo muito menor e mais fechado que as FDI. Não esclareceram nada e colocam a culpa no escalão político. Chegaram até a ressuscitar o libelo de que Ariel Sharon “provocou” a Intifada quando visitou a Esplanada das Mesquitas, narrativa NEGADA por Yasser Arafat. Desta vez teriam sido as visitas de Ben Gvir à Esplanada das Mesquitas um dos fatores deflagadores do ataque de 7 de Outubro.
Parece que o Shin Bet jogou com uma narrativa inverídica, na avaliação (errada) de que ninguém mais se lembra da Intifada e de Sharon. Aliás, avaliações erradas parecem estar nos fundamentos da inteligência israelense pré 7 de Outubro.
O sumário, não o relatório completo, não esclarece corretamente as responsabilidades do Shin Bet, atribuindo as culpas aos outros. Eles se escudam, afirmando que muitas das conclusões permanecem classificadas, pois revelariam as ferramentas e métodos secretos de inteligência do Shin Bet. Por exemplo, sobre a operação dos SIMCARDS já especificada no Primeiro Relatório e antes disso, divulgada pela mídia, este relatório traz apenas um número muito diferente do que a mídia vinha publicando.
Teriam sido ativados apenas 45 SIMCARDS na noite de 6 para 7 de outubro, e não mil, ou milhares, como foi amplamente publicado. Convenhamos, 45 ativações, hoje já sabedores que tais ativações não eram incomuns, de fato não deveria ter acendido nenhum alerta vermelho de ataque geral. Com isso, concordo plenamente. Curioso.
1) As falhas internas são apontadas a elementos externos.
2) Os maiores fracassos políticos e de segurança apontados pelo relatório incluíram uma divisão pouco clara de responsabilidades com as Forças de Defesa de Israel (IDF), uma política governamental excessivamente defensiva em relação a Gaza ao longo dos anos e o Shin Bet sendo inadequado para enfrentar um inimigo com características de exército, como o Hamas.
3) A investigação constatou que o Shin Bet não conseguiu alertar sobre o ataque em larga escala do Hamas em 7 de outubro, com sinais de alerta recebidos pelo Shin Bet na noite de 6 de outubro não resultando em ações significativas.
4) Embora uma pequena equipe de agentes de elite do Shin Bet e da polícia, que foi enviada à fronteira de Gaza antes do ataque, tenha conseguido contribuir para o combate, eles não foram capazes de impedir o massivo ataque do Hamas.
Porquê o Shin Bet não alertou sobre o ataque
5) Os planos de invasão terrestre do Hamas, obtidos pelo IDF em um documento conhecido como “Muralhas de Jericó”, não foram tratados corretamente ao longo de vários anos, e os planos não foram transformados em um cenário para o qual o exército e o Shin Bet treinariam. (OBS: está já absolutamente claro que as FDI treinaram durante vários anos na base militar de Tze’elim, que conta com mais de 600 edificações na arquitetura típica palestina, com subsolo, túneis e prédios de até 8 andares, tornando-se a tropa mais bem treinada do mundo neste tipo de combate, o que se comprovou em Gaza. Por outro lado, parece que nunca houve treinamento para combater na arquitetura de um kibtuz com a presença de cidadãos de seu próprio país. A missão de um exército é destruir o inimigo. O combate em tecido urbano amigo é diferente e exige treinamento especial de tropas tipo “BOPE” da polícia e não do exército.) Ao que parece não havia em Israel, e provavelmente ainda não há, batalhões de operações especiais especializados neste tipo de combate. Certamente existem unidades do Shin Bet e do Maglan, mas em número insuficiente.)
OBS 2: Ou seja, não só inexistiu o treinamento de cenário, simulado ou prático de mobilização para impedir uma invasão vinda de Gaza, como também para combater dentro de comunidades israelenses, tanto combates de defesa como de remoção e eliminação dos terroristas (apesar disto ter sido realizado). Um amigo meu, me escreveu hoje: “Zé, em 1948 também foi necessário combater em casa e em 1973 as FDI foram impotentes também para impedir uma invasão militar”. Então, podemos determinar um histórico onde as batalhas defensivas deveriam ser simuladas e treinadas. Parece que não foram. O que causa espanto é a conceptzia defensiva sem treinamento e definição de cenários defensivos.
6) Uma divisão pouco clara de responsabilidades entre a FDI e o Shin Bet sobre qual das organizações deveria emitir um alerta de guerra, em meio à transformação do Hamas de um grupo terrorista para uma força militar completa.
7) O foco do Shin Bet estava em frustrar ataques terroristas, e seus métodos não eram aplicáveis a um inimigo que agia como um exército.
8) Durante a noite entre 6 e 7 de outubro, houve falhas no “tratamento de informações e integração de inteligência”, bem como operações que não seguiram o protocolo usual e uma falta de “fusão” com a inteligência do IDF. (OBS: já ficou claro que as mensagens enviadas aos adidos do primeiro-ministro e ministro da defesa não foram classificadas, no envio, como urgentes ou de atenção imediata, porque não indicavam a necessidade de uma atenção imediata e não indicavam um ataque iminente por parte do Hamas. Assim, os canais oficiais reagiram de forma normal: sem urgência. Não sabemos, e os relatórios não dizem e não vão dizer, quantas comunicações oficiais não-urgentes os adidos recebem diariamente durante a madrugada. Não precisa nem ter uma ordem do tipo “se for urgente, me acorda”, porque isso faz parte do trabalho.)
9) Havia lacunas no funcionamento dos mecanismos de supervisão de inteligência.
10) A avaliação era de que o Hamas estava tentando inflamar a Cisjordânia e não estava interessado em fazer o mesmo na Faixa de Gaza.
11) O Shin Bet tinha uma “compreensão incorreta” da força da barreira fronteriça israelense com Gaza e da capacidade de resposta do IDF. (OBS: você consegue entender como a avaliação do Shin Bet sobre as FDI estava errada? Eu não consigo. A impressão que tenho é de que não havia comunicação entre os dois setores e muito menos que o Shin Bet “investigava” as FDI para entender suas reais capacidades.)
12) As intenções presumidas do Hamas não foram suficientemente questionadas durante as avaliações.
13) Relativamente pouca inteligência, incluindo como resultado de uma liberdade de ação limitada na Faixa de Gaza, especialmente de forma independente pelo Shin Bet. O Shin Bet afirmou que a operação de inteligência malsucedida do IDF em 2018 em Khan Younis dificultou o recrutamento de fontes de inteligência humana em Gaza. (OBS: pelos relatórios iniciais de 3 das 41 batalhas – que ainda não publicamos, pois são complicados e enormes – a inteligência sobre Gaza que faltava ao Shin Bet a à Inteligência Militar, não faltava ao Hamas, principalmente sobre todas as bases militares das FDI da Divisão de Gaza: efetivo, horários, localizações internas precisas, armamentos etc, tinham tudo levantado e constava dos planejamentos apreendidos durante a guerra.)
Como o Hamas conseguiu fortalecer suas forças
14) A política de Israel em relação a Gaza era manter períodos de calma, o que permitiu o enorme fortalecimento das forças do Hamas.
15) O fluxo de dinheiro do Qatar para Gaza e sua entrega à ala militar do Hamas. (OBS: isso é uma realidade. Não era Israel que deveria financiar o que estava acontecendo em Gaza, mas o Qatar. Da forma como está colocado no relatório, parece querer indicar não um “acordo”, mas uma “conivência” entre o governo de Israel e o Qatar, seguindo a narrativa inicial de que o governo do Likud é o responsável pelo Hamas, o que é uma bobagem, ainda mais que o grande acordo e influxo feoi realizado no governo Bennet/Lapid.)
16) Uma erosão contínua do poder de dissuasão de Israel.
17) Uma tentativa de lidar com uma organização terrorista baseada em inteligência e medidas defensivas, enquanto evitava iniciativas ofensivas.
18) Os catalisadores para a decisão do Hamas de realizar o ataque incluíram o peso cumulativo das violações israelenses no Monte do Templo, a atitude em relação aos prisioneiros palestinos e a percepção de que a sociedade israelense estava enfraquecida. (OBS: neste ponto o Shin Bet lança a narrativa de culpar o governo de Israel por permitir que Ben Gvir fosse à Esplanada das Mesquitas e usa um fraseado estranho: atitude em relação aos prisioneiros palestinos. O que seria isso? Dar-lhes atendimento de saúde? Alimentação? Possibilidade de estudo, inclusive universitário, nas prisões? O que o Shin Bet quer dizer com isso? Quanto a percepeção de que a sociedade israelense estava enfraquecida e dividida, isso não era só impressão. Era a realidade.)
19) Em uma declaração acompanhando o relatório, o chefe do Shin Bet, Ronen Bar, disse que a agência “não impediu o massacre de 7 de outubro” e que “como chefe da organização, carregarei esse fardo pesado nos meus ombros pelo resto da minha vida”. Ele acrescentou: “A investigação revelou que, se o Shin Bet tivesse agido de forma diferente, nos anos que antecederam o ataque e durante a noite do ataque — tanto no nível profissional quanto no gerencial — o massacre teria sido evitado. Esse não é o padrão que esperávamos de nós mesmos, ou que o público esperava de nós.”
Conclusão final: é bizarra e bizonha a declaração do chefe de uma agência operacional de inteligência usando “se tivesse agido de forma diferente”… Não existe “se”, muito menos qualquer tentativa de criar uma expectativa diferente a partir de um passado que não existiu, nas avaliações de uma agência de inteligência.
Uma pergunta muito inconveninente: se o Shin Bet afirma que não possuia intlegiência humana (ou seja, não tinha agentes ou informantes), por vários anos dentro da Faixa de Gaza, quem seriam “as fontes” que o general Hertzi Halevi disse que não queria “queimar”? A explicação parece simples. Vimos, logo no início deste relatório que não havia comunicação adequada entre o Shin Bet e a Inteligência Militar. É muito provável que as fontes humanas fossem da Inteligência Militar, e o Shin Bet não fazia ideia de que existiam agentes ou informantes dentro da Faixa de Gaza. Consequentemente, nunca soube o que eles informaram.