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Reta final para a bomba atômica iraniana. Últimos dias antes da guerra. Será?

Preciso me colocar neste artigo. Eu estava em Jerusalém na semana das eleições de 2008. O tema que deu vitória a Bibi Netanyahu sobre Tzipi Livni era muito claro: quem o israelense quer ter comandando o ataque contra o Irã. Porque naquele momento, faltavam um ou dois meses para o Irã construir sua primeira bomba atômica.

Passaram 15 anos. A retórica dos dois lados continua a mesma. Em vários momentos políticos e militares, principalmente Bibi utilizou a carta atômica para garantir suas repetidas vitórias nas eleições, pois para ele e os marketeiros eficientes das campanhas dele, apenas ele, Bibi, é capaz de vencer o Irã. Até hoje isso deu certo. Sabemos que vários ataques não convencionais foram realizados contra o programa nuclear iraniano e isso atrasou mesmo a busca pela bomba. Mas Bibi foi somente quem autorizou tais ações. Não as planejou nem executou. Qualquer um pode autorizar, a bem da verdade.

Alguns fatos relevantes aconteceram de domingo para terça-feira 17/mai/2022. A aviação israelense atacou uma base de pesquisas subterrânea na Síria e seus aviões foram alvejados por mísseis antiaéreos S-300 operados por soldados russos, e não sírios. Não foi divulgado o número de mísseis disparados. Mas como amplamente verificado na Ucrânia, o material militar russo está muito defasado tecnologicamente dos equipamentos norte-americanos e israelenses. Nenhum avião correu risco. Isto significa existirem equipamentos de contra-medidas eletrônicas contra os mísseis russos. No Irã, além dos modelos russos, existem os de fabricação local, baseados ou copiados dos russos e norte-coreanos, que tendem a ser piores que os originais.

Dois dias depois, o ministro da defesa de Israel,  Benny Gantz, declarou em coletiva de imprensa que faltam poucas semanas para o Irã conseguir atingir o volume necessário de urânio enriquecido a nível militar e ser capaz de produzir UMA bomba atômica. Teriam entrado em funcionamento recentemente, mais 1.000 centrífugas de enriquecimento de urânio. Aliás, o Irã parece ser o maior produtor de centrífugas do mundo, e isso precisa ser levado em conta. A velocidade e o volume de produção é estonteante: ser for verdade.

Ter o urânio para fazer UMA bomba atômica, não transforma o Irã em potência nuclear. Precisa produzir de fato a bomba, detoná-la com sucesso (muita coisa pode dar errado), e começar a acumular urânico enriquecido novamente. Ou seja, após realizar seu primeiro teste, o Irã não terá mais nenhuma bomba e o cronômetro político-militar para a segunda bomba é zerado.

Nesta terça-feira começou o exercício militar “Carruagens de Fogo”, com duração prevista para um mês, não só com a força aérea israelense, mas com a participação da norte-americana. Provavelmente os americanos não empregarão apenas os aviões tanque de reabastecimento em voo, pois também possuem várias unidades dos velhos e ainda eficientes bombardeiros B-52, além de várias esquadrilhas de caças-bombardeiros stealth (invisíveis ao radar) F-22 e F-32 estacionados nos Emirados e Arábia Saudita, além de unidades navais em porta-aviões. É imprevisível o que vai acontecer. Será apenas um exercício ou um ataque será desfechado?

A grande maioria dos alvos do programa nuclear iraniano são absolutamente conhecidos. Não duvide de que os pendrives com as missões de cada avião já estão programados. Nos aviões computadorizados, o piloto recebe o pendrive de sua missão logo antes de levantar voo. O computador do avião é capaz de realizar o ataque por conta própria e programa bombas e mísseis guiados por GPS, logo após a inserção. É sem falhas. No ataque deste fim de semana na Síria, imagens de satélite mostram que nenhuma bomba deixou de acertar as edificações no alvo. Chega a ser impressionante comparado aos bombardeios russos indiscriminados na Ucrânia.

Além da aviação, a marinha dos EUA no Golfo é capaz de disparar uma chuva certeira de mísseis de cruzeiro sobre o Irã.

Mas é isso que se deseja? Qualquer acordo é melhor que uma guerra. Estamos vendo a impossibilidade de acordo cobrar alto preço aos ucranianos. Existem ufanistas em meio aos meus irmãos judeus “desejando e achando” correto Israel atacar e ocupar o Irã. Por favor amigos e irmãos: olhem a Ucrânia, país com as dimensões do estado de Minas Gerais. O Irã tem território maior que o da Alemanha. Não existe possibilidade militar de invadir por terra, derrubar o regime e consolidar uma nova bandeira sobre a capital. Esqueçam esta via de ação, por favor.

E há ainda uma carta mais ou menos secreta na manga: os drones. Se o drone Bayraktar turco é uma das armas que dizimou os blindados russos durante o dia e durante a noite na Ucrânia, o que se deve esperar dos drones israelenses e norte-americanos? Os drones Predator, Reaper e assemelhados são absurdamente mais evoluídos e capazes que o turco. Os israelenses estão na mesma linha dos norte-americanos. Mas isso se refere aos modelos conhecidos: não aos ainda secretos.

Um ataque aéreo maciço pode destruir o programa nuclear iraniano? Provavelmente não. Pode destruir todas as instalações visíveis na superfície e obstruir todas as entradas para o subsolo? Muito provavelmente sim. A destruição da infraestrura superficial e de energia elétrica que alimenta as mais de 100 instalações do programa nuclear iraniano vão atrasar de fato a possibilidade da obtenção da primeira bomba.

A força aérea iraniana é composta basicamente por aviões de duas ou três gerações atrás e não compõe obstáculo ao ataque.

Nesta segunda-feira do IDF realizou treinamento de ataque aéreo em Tel Aviv e Haifa, com acionamento das sirenes e determinando que as pessoas procurassem os abrigos nestas cidades. E Gantz tem um encontro, nesta semana com o chefe do Pentágono, nos EUA.

opinião de José Roitberg – jornalista e pesquisador

José Roitberg

José Roitberg é um jornalista brasileiro e pesquisador em história, formado em Filosofia do Ensino sobre o Holocausto, pelo Yad Vashem de Jerusalém.