Transjordânia, Transilvânia e Transnístria têm denominação em comum: entenda
Quando o Império Britânico criou a Transjordânia em 1921, na primeira partilha da Palestina do Mandato Britânico, além de ser a recompensa à família/tribo Hussein da Arábia (ainda não um país) por ter apoiado os britânicos na Primeira Guerra Mundial contra os turcos (episódio real do capitão Lawrence da Arábia) também resolveu outra questão. A tribo Saud era a maior e mais forte, mas não tinha o controle de Meca, cidade dominada pelos Hussein. Levando-os pra Transjordânia, o poder Saud se consolidou na Península da Arábia, até os EUA criarem o país em 1935.
A Transjordânia, por decreto imperial britânico era um país Livre de Judeus, quatro anos antes de Aldolf Hitler escrever o livro Mein Kampf (Minha Luta).
Trans e Cis, estão entre os nomes bizarros da cartografia britânica. Trans é do outro lado, portanto do outro lado do Rio Jordão. Boa parte das pessoas imagina que o Rio Jordão corra de norte a sul por Israel, mas é a linha de fronteira entre Israel à Cis do rio e Jordânia à Trans do rio. A área hoje demoniada como Cisjordânia no geral, mas Judeia e Samaria pelos judeus é a maior parte do que estaria à Cis do rio Jordão. Ao norte da Judeia e Samaria, há uma parte do Estado de Israel com 26 km em linha reta, mas consideravelmente maior pois o Jordão é tortuoso na região, até sua formação do sul do Mar da Galileia, onde Israel está à Cis do rio.
A definição de “Cisjordânia não é árabe e sim britânica”, originalmente.
TRANSNÍSTRIA
Lá na Moldávia existe outra trans. É a Transnístria, nome totalmente alterado nas traduções e literalmente como a região é denominada em romeno, língua latina assemelhada ao português. O original é Transdniestre, do outro lado do Rio Dniestre. Uma faixa estreita entre a margem do rio e a fronteira com a Ucrânia, cuja largura varia de 2 km a 26 km.
A faixa do “lado de cá” do rio Dniestre, entre este e o rio Pug, a “Cisnístria” que nunca existiu com este nome, é exatamente a Bessarábia. Hoje, a o país denominado Moldávia é exatamente o território anterior da Bessarábia, tendo ficado toda a Moldávia oeste em poder da Romênia. O termo Bessarábia é uma denominação geopolítica com Império Turco-Otomano do final do século 14: Besarabya, significa livremente “Terra dos Besa”, que era a casa real dominante na região, de origem turca, no início do século 14.
A Transnístria possui algumas particularidades e é considerado um museu de estruturas do regime soviético. A principal evidência disto é sua bandeira, ainda contendo a foice e o martelo amarelos, apesar do regime político ser o semi-presidencialismo (como defendido pelo ministro STF Barroso), com eleições livres, 43 parlamentares eleitos, pluripartidarismo, apesar de apenas dois partidos majoritários.
Do século 13 (a ocupação mongol) até o século 18 quando foi incorporada pelo Império Russo, a Transnístria passou por várias mãos. Em março de 1919, durante a segunda fase da Revolução Russa, foi incorporada à República Socialista Soviética da Ucrânia, anexada a URSS quando ela foi criada em dezembro de 1922. Mas em 1924 é anexada a República Socialista Soviética Autônoma da Moldávia.
Desde 1917, com o Pacto de Separação de Forças entre Alemanha e Rússia revolucionária, a Bessarábia ficou com a Romênia. Portanto, o território dito acima de RSSA-M somada à Transnístria excluía toda a Bessarabia e também o centro-norte da atual Moldávia. É onde residiam centenas de milhares de judeus, e um número enorme deles imigrou para as Américas assim que terminou a Gripe Espanhola. Inclusive as famílias por parte de pai e mãe deste autor.
Em 23/ago/1939 é assinado pacto Pacto Molotov-Ribbentrop entre União Soviética e Alemanha Nazista, entre Stalin e Hitler. E no dia 28 de junho as tropas soviéticas avançam sem oposição sobre o norte da Transnístria, Bessarábia e Moldávia, criando numa nova RSSA-M com o mapa semelhante ao atual. Isso explica por que os judeus que vieram da Bessarábia, e norte da Moldávia, entre 1920 e 1939, eram romenos e os que vinham da Transnístria e sul da Moldávia eram soviéticos.
Mas em setembro de 1941 Hitler rompe o Pacto Molotov e avança sobre a Polônia ocidental soviética, Bielorrússia, Ucrânia e Moldávia. Além dos judeus locais, entre 1941 e 1944, 250 mil judeus ucranianos e romenos foram deportados para a Transnístria que fazia parte do território conhecido como Governo Geral da Romênia, e lá foram exterminados. Poucos sobreviveram aos campos de trabalho escravo. A área foi reconquistada pelo Exército Vermelho Soviético em 1944, e nunca mais as tropas russas saíram de lá.
Nos anos oitenta surgiu na Transnístria um movimento separatista nacionalista que acabou sufocado pelas tropas soviéticas presentes. Se tratava de um movimento pela independência e não de adesão à Rússia que existiam no leste da Ucrânia antes da guerra de 2022.
Desde 1992, portanto após a dissolução da União Soviética, a Rússia mantém um efetivo permanente entre 20.000 e 25.000 soldados, estacionados na Transnístria, região com população de cerca de 480.000 habitantes somente. Sendo assim, presença de tropas russas na região não é algo ligado à guerra atual, pois estão lá desde 1944 como soviéticos e desde 1992 como russos. A língua na Transnístria é o russo.
Todavia, a Rússia não reconhece a independência da Transnístria. Apenas dois outros a reconhecem: Abecásia, e Ossétia do Sul, ambos também separatistas não reconhecidos por outrem.
CONDE DRÁCULA
Resta ainda a Transilvânia na Romênia, lar da família Drakul (dragão). Aí o nome vem do latim medieval Terra Ultra Silvan (Terra Além da Floresta), onde silvan pode ser floresta ou selva em latin. Portanto para o inglês passou como Trans Silvan, se tornando Transilvânia.
Imagem: mapa da região citada com a Transnístria em destaque. Wikimedia Commons. A Gagaúzia é uma região autônoma sem continuidade territorial, de formada pelo povo turco seljúcida gagaúz, que se moveu da Turquia para os Balcans no século 13 e se converteram ao cristianismo ortodoxo. A população da Gagaúzia é semelhante à da Transnístria, contanto com cerca de 175.000 habitantes.