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Desnazificar significa para Putin, o quê?

Parece que estamos vivendo um cenário ditado pela KGB soviética e não por uma Rússia que se afirma democrática, tem eleições etc e tal. Mas se manifestar contra esta guerra nas ruas da Rússia é comprar bilhete para a cadeia: todas as manifestações de rua são proibidas lá a alguns anos e isso não é específico contra quem sai hoje às ruas pedindo o fim da guerra e com a certeza de que será preso.

Só não sabemos é o que acontece com os cidadãos russos presos nas manifestações. Nesta segunda 28/fev, muitos puderam assistir ao vivo direto de São Petersbugo, cidade natal de Putin, dezenas de manifestantes, a maioria moças, sendo delicadamente (mesmo), conduzidos ao camburão, aliás, um caminhão bem grande produzido para prisões em massa. Não se viu reação à prisão. Mas como isso aconteceu na Rússia, não veremos nenhuma vereadora do PSOL tuitando que a Rússia prende mais mulheres que homens, como ela tuitou recentemente, que as mudanças climáticas matam mais mulheres que homens, após a tragédia em Petrópolis.

Prender manifestantes contra guerra e pela paz é uma atitude tipicamente fascista ou marxista, e jamais democrática. Mas pode existir uma explicação. Hoje, dia 28/fev na ONU, o embaixador russo declarou em entrevista a todas as mídias do mundo que os jornais precisam parar de usar o termo “guerra, porque não existe guerra nenhuma, é a penas uma operação militar limitada.” Questionado sobre as dezenas de imagens de ataques contra alvos absolutamente civis que circulam o mundo inteiro e todas as redes de TV, o embaixador simplesmente respondeu: “nada disso existe, são todas fakenews produzidas pela mídia globalista.” Portanto, na lógica oficial russa, quem se manifesta contra a guerra que não existe está criando fake news. Veja se aprende um pouco, ministro Alexandre de Moraes: dá para ser mais criativo ainda

Um amigo perguntou a mim, ontem à noite: “Zé, não estou entendendo nada. Me explique.” Respondi que ele estava completamente certo: não dá para entender nada. A Rússia acusa os EUA e a Otan de globalistas e de implantar a Nova Ordem Mundial. Os EUA acusam a Rússia de implantar a Nova Ordem Mundial. Quem acredita que o SarCov2 é intencional da China, a acusa de implantar a Nova Ordem Mundial. Antissemitas acusam George Soros de implantar a Nova Ordem Mundial através da Ucrânia. O PCO afirma que a guerra foi criada por Biden, porque os Estados Unidos é que são imperialistas. Se alguém quiser entender o que é guerra de narrativas, é exatamente o que estamos vendo. A verdade está em algum lugar. Não nas narrativas.

Setores da mídia demonizam a Rússia, outros setores glorificam a Rússia, outros transformam os ucranianos e o presidente judeu deles em heróis pela democracia e outros definem que nada disso: são nazistas. Mostram uma foto de um grupo de cerca de 30 soldados do Exército de Azov, esbirros ucranianos descendentes dos ucranianos anticomunistas que aderiram ao nazismo a partir de setembro de 1941 e passaram a lutar contra as tropas soviéticas, incluindo aí a etnia cossaca como um todo (ainda existe). Estes ucranianos nazistas de 1941, chegaram a formar um batalhão da SS tendo como missão principal a guarda de campos de concentração nazistas de judeus e campos de prisioneiros russos.

Mas as grandes publicações do setor militar, colocam o Exército de Azov com um efetivo de 600 a 800 combatentes somente. O exército regular ucraniano tem 190.000 homens. A população é de 48 milhões de pessoas. Mas o PCO, o UP – Unidade Popular pelo Socialismo e o PCdoB, além de Putin (QUE NÃO É COMUNISTA), criaram a narrativa de que os 48 milhões de ucranianos são nazistas.

Uma das provas kafkianas e que desafia a razão de qualquer pessoa que não esteja completamente bêbada é que Zelensky , o presidente ucraniano, é abertamente judeu e foi eleito democraticamente. Alguém pode imaginar que um judeu seria eleito presidente de uma sociedade nazista de 48 milhões de almas? Os marxistas brasileiros podem, e afirmam nas suas mídias sociais que as eleições ucranianas desde 2014 são golpes orquestrados pela CIA, e mostram isso como prova: judeus são nazistas e fascistas no Brasil porque apoiaram e elegeram Bolsonaro (nós, sabemos que nem todos os judeus, uma minoria de esquerda votou no Hadad e vai votar no descondenado). Como o discurso do PCO e do UP é especificamente antissemita, eles já deixaram claro que não acreditam que existam judeus de esquerda. Parece piada, mas não é. Pela lógica embriagada marxista, se o sujeito é um judeu e presidente “tem que ser nazista”.

Eu estava passando na Cinelândia, no centro do Rio, alguns dias após o resultado da eleição de Crivella para a prefeitura do Rio. Havia um carro de som de Sindicato dos Petroleiros, pertencente ao PSTU, gritando que “Israel controla o petróleo do Oriente Médio”, e que “a eleição de Crivella foi golpe”. E é assim que estes perversos são. Todas as vezes que perderem as eleições e vão perder sempre, é porque houve um golpe. E o povo ucraniano, os “trabalhadores” ucranianos preferirem a União Europeia à Rússia, somente pode acontecer através de golpe dado pela CIA e pelo Imperialismo Americano-Sionista. São aberrantes político-sociais.

Putin lançou a “não guerra”, com o pretexto ridículo de “desnazificar a Ucrânia que está planejando o genocídio dos russos”, e seu embaixador da ONU, defendendo sua própria cabeça, repete isso para quem quiser ouvir, gravar, publicar ou engavetar.

Quem age como nazista neste momento é a Rússia. Acusar o inimigo de ser o que você de fato é, trata-se da estratégia mais antiga da propaganda soviética, inclusive criando a definição de Israel ser o novo estado nazista, após derrotar os árabes na Guerra dos Seis Dias. Coisa de setembro de 1967. Nada de novo. A mesma palhaçada de mídia de combate. Quando ser acusa um inimigo ou desafeto de ser nazista, quando é oposto disto, coloca o inimigo numa defensiva bizarra de ter que responder: eu não sou nazista. E nem Israel, nem a Ucrânia, tem os culhões de chegarem no púlpito da ONU, apontar para o embaixador russo e dizer: “Senhor embaixador, é melhor provar que meu país é nazista ou retirar este discurso imediatamente.”

Desnazificar a Ucrânia significa remover um governo democraticamente eleito, prender e arrebentar as lideranças democratas e instalar um governo fantoche pró-putinismo (outro termo criado neste conflito).

Conto os dias para na campanha eleitoral os esbirros de Lenin começarem a lançar a narrativa de “desnazificar o Brasil”. Vão fazer isso. Acredite em mim. Se você presta atenção às pichações de muros nas grandes cidades, não faltam “Abaixo o Regime Militar”, para o regime absolutamente democrático atual.

Mas pela verdade, a OTAN não cumpriu os acordos assinados ao fim da União Soviética.

Sobre os marxistas e comunistas brasileiros que se alinham descaradamente com uma Rússia não comunista, imaginando que a “não-guerra” na Ucrânia é contra o imperialismo norte-americano e não contra os ucranianos, hoje pode-se declarar em alto e bom som que são todos uns péssimos FILHOS DE PUTIN !!!

opinião de José Roitberg – jornalista e pesquisador

José Roitberg

José Roitberg é um jornalista brasileiro e pesquisador em história, formado em Filosofia do Ensino sobre o Holocausto, pelo Yad Vashem de Jerusalém.