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Ucrânia não vai impedir peregrinação judaica a Uman em Rosh Hashaná, apesar das fakes news em listas judaicas

Isto está uma confusão danada e começou 15 dias atrás, quando foi publicada uma nota afirmando que o embaixador da Ucrânia em Israel (sem citar o cargo dele, mas com o nome completo), tinha avisado o governo israelense que a Ucrânia iria proibir a peregrinação ao túmulo do rabi Nachman de Breslov se o governo israelense não parasse de “deportar turistas ucranianos”. Na foto, a entrada e o lado externo do Ohel do rabi Nachman, em Uman, foto de Sasha India CC 2.0.

O The Times de Israel publicou isso pela primeira vez. Em primeiro lugar na notícia publicada não estava definido que aquele nome citado era do embaixador da Ucrânia em Israel e muito menos se ele fez a declaração em público, nas mídias sociais ou se questionou diretamente o ministério das relações exteriores de Israel.

A notícia não era o quê, supostamente o embaixador estava dizendo, e sim SE ISRAEL ESTAVA DE FATO DEPORTANDO TURISTAS UCRANIANOS. Pois sabemos que raramente Israel deporta alguém. Sim, poderiam ser ucranianos cujo visto de turista expirou e não pediram asilo. O assunto morreu e não foi em frente.

No domingo 21/ago/2023 às 12h21 horário de Jerusalém foi publicado um novo artigo com título absolutamente FAKE pelo Times de Israel, para minha surpresa. É aquilo que falei aqui diversas vezes, e a Globo usa e abusa: colocar um título com viés ruim e um texto do artigo ANTAGÔNICO ao título, que foi: “Ukraine threatens to shut border to Uman pilgrims, citing Israeli deportations” (Ucrânia ameaça fechar fronteira aos peregrinos de Uman, citando deportações israelenses).

Veja bem, é o título do artigo estranho de 15 dias atrás, mas voltou no domingo. Enquanto isso, o texto diz que no pronunciamento habitual de Zelensky de sábado, o presidente ucraniano falou que “os direitos dos cidadãos ucranianos devem ser garantidos” depois de receber um relatório sobre como eles estão sendo tratados em países estrangeiros, SEM CITAR ISRAEL.

O artigo do dia 21/ago segue, afirmando que naquele dia, o embaixador ucraniano em Israel, agora nominado e tipificado disse que a fala de Zelensky era especificamente sobre Israel e acrescentou muita coisa em relação a 15 dias atrás: 1) disse que os ucranianos estão sendo humilhados ao entrar em Israel; 2) disse que quer cancelar o acordo de dispensa de vistos entre os dois países; 3) disse que não é correto permitir a entrada de dezenas de milhares de israelenses em Uman com um custo pesado de segurança, enquanto Israel abusa dos ucranianos.

O ministro do interior e da saúde de Israel, Moshe Arbel (do Shas) declarou que não existe problema algum e tudo está de acordo com a lei israelense. De parte da saúde, está enviando constantemente remédios e material médico para a Ucrânia. Da parte do interior, os turistas ucranianos podem permanecer 3 meses e a permanência passou a ser estendida depois da Suprema Corte DERRUBAR a limitação de entrada de ucranianos não-judeus. Os ucranianos judeus estão recebendo cidadania automática.

A embaixada ucraniana informou que nos primeiros 6 meses de 2023 Israel deportou 2.307 ucranianos e em 2022 o total foi de 2.705, números sobre quais o governo israelense não comentou. Segundo o ministro Arbel, usar o visto de turista para trabalhar ou se assentar no país é ilegal. Mas ele não citou a expulsão de ninguém.

Uma fonte diplomática israelense não nominada, junto ao governo, declarou ao YNET News (Yediot Aharonot), que não é o embaixador quem define isso e as instâncias superiores ucranianas garantiram a peregrinação. Ela acontece agora antes de Rosh Hashaná, e pediram que a segurança seja feita por policiais israelenses para facilitar o trato com os judeus ortodoxos e aliviar as condições do país em guerra. A mesma fonte disse ainda que o embaixador está querendo criar uma tempestade na mídia, e está inflacionando os números intencionalmente para prejudicar as relações entre os dois países.

No site ucraniano visitukraine.today existe uma publicação atribuída ao embaixador de Israel em Kiev, totalmente oposta a do embaixador ucraniano em Israel. O diplomata israelense afirmou lá na Ucrânia, que os ucranianos podem ficar em Israel até o final da guerra. Isso foi publicado no dia 6/jun

Ainda assim não existe qualquer pronunciamento oficial ou informal israelense sobre os números citados pelo embaixador, mesmo passadas mais de 24 horas da publicação dos artigos do domingo, dia 20/ago. Em minha opinião, se o governo tivesse números melhores ou menores, ou ainda, não estivesse deportando ucranianos, teria dito rapidamente.

Por outro lado, Uman historicamente depende desta peregrinação anual, pois é o momento em que todo o setor comercial da cidade mais fatura durante o ano, ainda mais durante uma guerra. É uma cidade muito pequena, com 87.000 habitantes, e que recebe 30.000 visitantes em duas semanas, 20.000 deles de Israel, pelo menos.

É claro que vou fazer a pergunta que está na sua cabeça: então, durante a Guerra da Ucrânia existem cerca de 5.000 cidadãos de lá, não judeus, que foram fazer turismo em Israel nos últimos 18 meses? Número este além dos que não foram “expulsos” de Israel. Não é uma ideia razoável acreditar na existência de um fluxo de turistas de um país em guerra. E enquanto o governo israelense permanecer quieto, com o ministro do interior apenas declarando inexistir qualquer problema, não vamos ficar sabendo o que de fato está acontecendo e se está acontecendo. Uma coisa é certa: o número de judeus ucranianos e russos que foram para Israel desde o início da guerra e se tornaram cidadãos. Em 2022 foram 37.364 chegando da Rússia, 14.680 da Ucrânia e 1.993 da Bielorrússia. Não há números divulgados para 2023, apenas que em fevereiro e março aconteceu um recorde de judeus ucranianos chegando à Israel.

Opinião de José Roitberg – jornalista e pesquisador

José Roitberg

José Roitberg é um jornalista brasileiro e pesquisador em história, formado em Filosofia do Ensino sobre o Holocausto, pelo Yad Vashem de Jerusalém.