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Últimas notícias da Guerra de Gaza

Chegamos a um ponto de inflexão na história de Israel. A Corte Internacional de Haia “derrotou Israel ou derrotou a África do Sul” por 15 a 2, na principal decisão: Israel não cometeu genocídio contra os palestinos de Gaza. É difícil escrever algo sensato com tantos textos bizarros e declarações estapafúrdias por aí. Se você conseguir entender, então mande um email e nos explique. A África do Sul queria que o Tribunal de Haia aceitasse a tese de que Israel está cometendo genocídio. O tribunal não aceitou, por 15 a 2. Só votaram contra, Uganda (que votou contra todas as seis decisões e… Israel. Entendeu? Então você é um gênio e nós somos idiotas. Israel votou contra a decisão que não o condenou por genocídio.

Além do mais, a Corte de Haia, oficialmente declarou estar ciente e os números do massacre de 7/out, e foi a primeira vez que um órgão internacional o fez, portanto, também é uma vitória.

A pergunta que mais vi nas mídias sociais judaicas é porque a corte não julga o Hamas. E isso vindo de pessoas comuns, mas também de formadores de opinião, um tanto quanto desinformados. A corte de Haia só processa países. O Hamas não é um país, não pode ser processado. A Autoridade Palestina não é um país, não pode ser processada. Este é um dos principais motivos para os palestinos não desejarem declarar a independência deles: se o fizerem, vão precisar seguir as leis internacionais. Como estão, podem fazer o que bem entenderem, infelizmente.

E o Hamas não foi processado, porque ninguém abriu um caso contra eles. Israel deveria já ter feito há muitos anos, apenas para mostrar como o conflito é assimétrico, pois a Corte de Haia iria recusar o processo, por não ter competência para julgar e Israel iria poder mostrar que precisa seguir as leis enquanto os terroristas não precisam seguir as leis.

Outra pergunta é porque a Guerra da Síria não foi levada à Haia. Mesmo motivo: nenhum país abriu o processo, e o Estado Islâmico-ISIS também não poderia ser processado. Na Síria, o governo Sírio, EUA, Rússia, Jordânia e Irã estavam todos do mesmo lado contra o ISIS.

⁂ Isso é advogadês alienígena demais para nossa cabeça. A única explicação é que Israel pretendia que o tribunal não aceitasse as afirmações da África do Sul e que não houvesse julgamento. Ao se declarar contra a acusação nos parece que o tribunal deu a vitória à Israel. Mas o governo de Israel está taxando-a de derrota, enquanto o Hamas está cantando vitória por Israel ter ficado “isolado”. De fato, 15 de um lado e Israel do outro lado.

A decisão do tribunal, que não é obrigatória de ser cumprida, determinou que Israel siga a carta de prevenção ao genocídio, nos itens tais e tais. Nem vale a pena perder tempo com eles, pois Israel SEMPRE OS CUMPRIU. Ou seja, o tribunal determinou que Israel cumpra o documento que é signatário e Israel deveria estar feliz dizer: ok, já estamos cumprindo. Mas aí… Aí os kahanista estão promovendo vergonha total. Genocídio é quando existe a intenção do estado em matar um grupo determinado. O governo de Israel não tem esta intenção, mas os kahanistas a tem abertamente e decidiram mostrar que são eles quem mandam em Israel, e que se danem as relações internacionais, os judeus que estão fora de Israel, que se dane tudo. Já com a nota pronta antes do veredito, o governo brasileiro se precipitou a exigir que Israel cumpra a sentença… que é prevenir… complicado. O governo Lula tinha certeza de que a sentença seria o cessar-fogo.

⁂ Imediatamente após a decisão em Haia, Itamar Ben Gvir a declarou “antissemita”, pois dois dos artigos que Israel é obrigado a cumprir, sempre foi obrigado, e sempre cumpriu, são não matar civis palestinos intencionalmente e não expulsar civis palestinos. Bem, ou mal, a plataforma eleitoral e o eleitorado de ben Gvir e Smotrich é muito claro que expulsar os palestinos, o que violaria a carta sobre genocídio. Para meio entendedor, meia pedrada basta: determinar que os judeus extremistas de direita religiosa-política não podem expulsar os palestinos é antissemitismo, na visão deles. Portanto, não podemos nós, liberais e tolerantes, tolerar tal discurso. Precisa ser exposto porque é verdadeiro. Sempre com a ressalva: é discurso de ministros emponderados da coalizão de governo, mas não é o discurso de governo.

⁂ A partir do dia 10/dez/23 o IDF passou a divulgar diariamente, as 13hs (ISR) 8h (DF) o número total de baixas militares. (em preto o número atual, em verde o número de 7 dias antes). Neste dia 22/jan/24 temos: Mortos desde o início da guerra (7/out) 557 – 535 ; desde o início da operação em Gaza (27/out) 220 – 200 . Feridos hospitalizados hoje – 35 – 47 graves, 242 – 254 médios, 115 – 106 simples. Feridos desde o início da guerra 2.784 – 2.672 ; desde o início da operação em Gaza 1.276 – 1.222. Adicionalmente, 59 policiais foram mortos no dia 7/out.

⁂ Ontem, uma festa de milhares de membros kahanistas, com a participação de 11 ministros e 15 parlamentares do Knesset, foi não para comemorar uma festa religiosa ou casamento de alguém. Estes 26 políticos, montaram uma festa com muita música e dança (só de homens) para anunciar plano de recolonização da Faixa de Gaza, que implica na expulsão da população palestina de lá e a ida dos membros de seus próprios grupos radicais para lá. Ok, isso vai especificamente de encontro à convenção de prevenção do genocídio da ONU. Juraram que “pela vontade de Deus vão até o fim”. Depois da constatação deste absurdo na sociedade e na política israelense, a “resposta à corte de Haia”, Bibi Netanyahu disse que os ministros e membros do parlamento podem falar o que eles bem entenderem, pois Israel é uma democracia e garantiu que esta solução para o pós-guerra não faz parte das opções do governo. O que Bibi quis dizer mesmo é que os kahanistas podem falar qualquer merda, pois nunca o deixaram de fazer.

⁂ Parte da população palestina da Faixa de Gaza já se posicionou contra o Hamas por três vezes. Duas pequenas manifestações pedindo que o Hamas entregue os reféns e a guerra termine e numa grande coluna de pessoas evacuando Khan Yunis cantando pedindo para o Hamas se entregar. De fato, no mesmo dia, mais 100 combatentes do Hamas se entregaram em Khan Yunis. E neste dia 29/jan, após algumas mídias judaicas precipitadas darem que foi chegado a um acordo para nova entrega de reféns, o Hamas declarou que só entregará os reféns quando todas as tropas de Israel tiverem saído da Faixa de Gaza.

José Roitberg

José Roitberg é um jornalista brasileiro e pesquisador em história, formado em Filosofia do Ensino sobre o Holocausto, pelo Yad Vashem de Jerusalém.