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73 anos do Estado de Israel e a covid-19 sendo vencida: a ganância, não.

por José Roitberg

David ben-Gurion, declarou encerrado a Palestina do Mandato Britânico no dia 5 de Yar, em 1948, no dia 14 de maio no calendário gregoriano. Este ano, devido ao calendário lunar móvel israelense, a data correu um mês para trás e será comemorada no dia 14 de abril.

Israel foi fundado e dirigido nos seus primeiros 47 anos pelo partido Mapai (fundado em 1930), que em 1968, se transformou no Avodá: Partido Trabalhista. Apesar do Mapai (Mifleget Poalei Eretz Yisrael – Partido dos Trabalhadores do Estado de Israel), ser denominado social democrata ou democrata socialista, era filiado à Internacional Socialista soviética. Seus principais membros, como David Ben-Gurion, Golda Meir, Shimon Peres e outros, eram filiados individualmente à Internacional Socialista. Seria um despautério imaginar que a Internacional Socialista filiava indivíduos e partidos políticos não-comunistas.

O coletivismo nas fazendas (kibutzim) e em empresas funcionou surpreendentemente bem à construção de uma nação a partir da areia, mas ao longo do tempo foi superado pela natureza humana e pela necessidade de competição nos mercados internacionais. E pela verdade, apesar de filiado a Internacional Socialista, o Mapai implementou de fato uma democracia de esquerda com eleições livres, multipartidarismo e educação bastantes livre. Nunca seguiu as ‘democracias de partido único’ de outras nações comunistas.

O símbolo inicial do Mapai, utilizado nas eleições dos primeiros 10 anos do Estado de Israel era a letra ‘alef’ estilizada como a foice e o martelo, na cor vermelha, para que não houvesse dúvidas. Mas isso são as origens e o Avodá atual é de fato um partido de centro-esquerda, muito dissociado dos falidos ideais comunistas. A União Soviética foi uma apoiadora de primeiro momento do Estado de Israel, somente se distanciando, rompendo relações diplomáticas e tornando-se abertamente inimiga, em outubro de 1967, após a constatação do fracasso do plano que ela engendrou para levar Israel e Egito à guerra, prevendo a derrota de Israel. Somente a partir deste momento é que os EUA põe o pé na porta deixada aberta pela URSS.

 Neste dia 14 de março há o que comemorar em Israel. Por que este ano é diferente de todos os anos? A travessia do povo do Estado Judeu composto por judeus, muçulmanos, católicos, cristãos ortodoxos, evangélicos, bahais, samaritanos, drusos, beduínos, palestinos e trabalhadores estrangeiros, principalmente do Vietnã, através areias movediças da pandemia de Covid-19, parece ter se encerrado e todas as restrições estão levantadas.

 Todavia o cenário político permanece bizarro: a democracia está forte, o governo está fraco e impossível. Aparentemente Bennet, com as 6 cadeiras do Yamina (partido denominado Direita), pretende retornar à aliança com o Likud, mesmo assim, não são atingidas as 61 necessárias para estabelecer um governo viável.

 Para complicar, poucos dias antes da eleição de número quatro, o governo pediu um pacote emergencial de 2 bilhões de dólares para a compra de vacinas da Pfizer, ainda sem ter esclarecido porque pagou mais do que o dobro inicialmente divulgado, pelas vacinas já recebidas e aplicadas. Este pedido ainda não foi votado. A ideia do governo era votar pelo parlamento que saia, agora precisa votar pelo parlamento que entrou.

As mídias israelenses dão um quadro mais sombrio, citando fontes do ministério da saúde israelense e da Pfizer. Estes 2 bilhões, seriam para a compra antecipada de 36 milhões de doses. Israel comprou, anteriormente, antecipadamente, 15 milhões de doses, das quais ainda restam 600 mil, insuficientes para o público abaixo de 16 anos. Seriam necessárias mais de 3 milhões de doses para as duas vacinações mandatórias.

 Então por que 36 milhões? Citando fontes não nominadas da Pfizer, a mídia israelense aponta extorsão, sem usar esta palavra. Que outro nome teria uma declaração: “ou Israel deposita os 2 bilhões de dólares ou vamos tirar o país da primeira posição da lista de compradores e embolar com os outros. Não somos uma entidade filantrópica.” Caso esta citação seja verdadeira, e tem tudo para ser, mostra o cenário imaginado, a um ano atrás, dos governos ficarem a mercê de empresas farmacêuticas, que não estão interessadas apenas em ganhar dinheiro com a mais esta vacina, mas ganhar muito dinheiro e muito rápido.

Na matemática, a Pfizer majorou o preço em 56 dólares por dose, querendo receber este valor antecipadamente para o ano de 2021, 2022 e talvez 2023. O custo inicial declarado pela Pfizer era em torno de 20 dólares. Em valores atuais, cada cidadão vacinado com Pfizer, custaria ao Brasil 112 dólares, ou seja 640 reais. Vacinar os 150 milhões de adultos brasileiros geraria um gasto de 96 bilhões de reais. E tem gente que fica reclamando que é “culpa do Bolsonaro” o Brasil não ter comprado a Pfizer.

Esta queda de braço bizarra entre Pfizer e o governo de Israel não está perto de ser resolvida e impacta na vacinação anual que deverá se tornar obrigatória. Até o momento as vacinas estão mantendo seus níveis de anticorpos pelo sétimo mês. Imagina-se que a vacinação precisará ser anual, principalmente devido às mutações, mas não existe certeza alguma. Bibi Netanyahu chegou a falar, dias atrás, numa possível terceira dose de reforço.

José Roitberg

José Roitberg é um jornalista brasileiro e pesquisador em história, formado em Filosofia do Ensino sobre o Holocausto, pelo Yad Vashem de Jerusalém.