Uncategorized

Hamas está ao Sul, ao Norte e em breve a Leste de Israel

O Hamas disparar mísseis militares Grad e morteiros do Sul do Líbano é chocante. No primeiro ataque deles com 44 projéteis conseguiram ser mais efetivos do que com mais de 10.000 mísseis que disparam de Gaza. Simples: equipamento militar versus fabricação própria.

Ao mesmo tempo ver bandeiras do Hamas em Al Aqsa, é horrível, tanto para Israel, quanto para a Jordânia, quando para a Autoridade Palestina.

Os ataques contra judeus migraram, obviamente, para “o outro lado do muro”. É mais fácil matar judeus do lado palestino do muro que do lado Israelense. E os ataques não está sendo suicidas, fugindo da característica do terrorismo islâmico sunita palestino contra israelenses.

Emboscar carros civis com placas Israelenses, atirar contra o primeiro que passar e fugir, é de uma simplicidade total, alta efetividade e falta de necessidade de planejamento elaborado. Não serem ataques suicidas muda o quadro geral.

Quem não quiser compreender que o Hamas deixou de estar presente apenas na Faixa de Gaza e possui soldados e simpatizantes na Cisjordânia e infraestrutura no Sul do Líbano, portanto “cercou” Israel, vai entender errado. De cercado na Faixa de Gaza, para “cercar” Israel é uma grande vitória para eles. E estão capitalizando isso, apesar de Israel não estar cercado, é o que a propaganda deles publica.

O que aconteceu na semana passada é a realização da violência esperada e anunciada para este Ramadã. Lembre, aconteceu uma conferência regional para tentar evitar isso. Só não se imaginava que seria tão eficiente. Não posso relacionar isso com a zona que está o governo ou com a recusa de apresentação de reservistas. É só ao mesmo tempo, mas sem relação de causa.

Infelizmente grande parte dos analistas da mídia israelense, tanto da situação como da oposição e a mídia mundial, coloca os conflitos internos e externos da coalizão de governo israelense como fator principal, ou pelo menos catalizador da violência praticada pelo Hamas na Mesquita da Al Aqsa já por três vezes neste Ramadã. Mesmo pessoas muito importantes do governo de Israel e ex-diretores de inteligência estão utilizando os ataques do Hamas como “prova” de que “os inimigos estão sentindo o cheiro da fraqueza de Israel”, como se estivéssemos nas savanas africanas, cercados por hienas, o que é uma imagem horrível, lamentável e não apropriada.

Israel não está fraco. As forças armadas não estão desestruturadas. Ataques covardes a tiros ou golpes de faca ou por atropelamento contra civis israelenses não são nem novidades nem exceções: são norma.

E o uso político destes ataques é lamentável. Itamar ben Gvir, o kahanista Ministro da Segurança Nacional, no governo anterior, de Ganz e Lapid, se deslocava rapidamente a cada local onde acontecera um ataque palestino ou árabe contra soldados ou civis israelenses e repetia para as câmeras a mesma frase: “É culpa da esquerda política. É culpa do ministro da segurança.” Agora o ministro é ele. E é claro, ele não vai a nenhum dos locais onde aconteceram os ataques. Isso já diz muito sobre o que ele é.

Mas hoje, segunda-feira, liderou entre 17.000 e 20.000 seguidores dele e de Smotrich numa marcha de 1,7 km até o assentamento ilegal de Evyatar, situado 9 km ao sul de Nablus e próximo a Huwara. A marcha foi aprovada e planejada em conjunto com o IDF e a Guarda de Fronteira e aconteceu sem incidentes. Evyatar, na foto desde artigo, é um assentamento ilegal, pela lei israelense, estabelecido em 2013 após Evyatar Borowsky, 32, pai de cinco crianças ter sido esfaqueado e morto por um palestino, ligado a Autoridade Nacional Palestina, num ponto de ônibus da região. Ao longo dos anos, as casas simples foram demolidas pelo IDF e reconstruídas, até o esvaziamento total em 2021. A legalização de Evyatar está no acordo entre Bibi e os apoiadores ortodoxos de seu governo.

Nos discursos e pronunciamentos feitos em Evyatar, a promessa da agenda kahanista e retomar aquele assentamento e criar muitos outros na Cisjordânia, Negev e Galileia. Calma, não estou maluco nem errei a redação. Ben Gvir e outros falaram sim em colonizar o Negev e a Galileia, ou seja, criar colônias dentro de Israel, seja lá o que isso signifique.

A marcha desta segunda feira, contou com outros ministros ortodoxos além de Gvir e Smotrich, além de parlamentares de seus partidos no Knesset e tinha o objetivo aberto de pressionar Bibi a cumprir o acordo. Espero que você tenha entendido. Ministros fundamentais e parlamentares da base do governo utilizando formato de protesto de oposição contra o seu próprio governo. Pode ser mais um indício de que a coalizão vai cair.

Desde o domingo, dia 9/abr, vemos na parte radical do mundo árabe que é contra Israel a conclamação aos árabes israelenses e aos palestinos para ocupar a mesquita de Al Aqsa pois “os judeus vão destruí-la”. Esse é um libelo antissemita muito velho na região, tendo iniciado em 1928, quando com ele, Haj Amin al Husseini provocou ataques aos judeus e pogroms em Hevron, Jerusalém, Haifa além de emboscadas contra ônibus e carros de judeus em diversas estradas. São quase 100 anos propalando a mesma mentira e tendo ótima acolhida entre os muçulmanos mais radicais.

Umas duas semanas atrás eu escrevi que a melhor coisa seria Israel ser atacado, pois iria unir as pessoas. O primeiro discurso de Bibi, depois dos foguetes é pedir a união perante o inimigo comum. Coisa óbvia.

Eu até hoje não sei se Israel permitiu o Hamas e o Hezbollah escavarem profundamente e se armarem com um arsenal de mísseis num volume que nenhum país tem, exceto EUA, Rússia, China e Coreia do Norte, talvez Índia também. Ou se foram honestamente incapazes de impedir isto.

A não ser que Hamas e Irã tenham uma máquina de teletransporte, tudo que entrou em Gaza, centenas de toneladas de armas, explosivos, uniformes militares, equipamentos, maquinário, produtos químicos para fabricação de explosivos e combustível sólido de mísseis veio de algum lugar, passou por muitos lugares e meios de transporte diferentes até chegar lá. Foram interceptados por duas vezes apenas. Um navio que não poderia aportar, pois Gaza não tem porto e um ataque realizado contra um comboio no Sudão. Só. Mais nada. No Sul do Líbano é diferente pois existe uma rodovia militar subterrânea saindo da Síria e Israel jamais a atacou, nem para obstruir temporariamente os acessos a ela na Síria.

Todos os bombardeios de Israel contra a Faixa de Gaza e agora contra as posições do Hamas no Sul do Líbano, são precisos, efetivos e não resolvem absolutamente nada no quadro maior do conflito. As fotos lá do Sul do Líbano mostram o uso de bombas perfurantes de bunkers que são muito eficientes, e caras. Já as fotos dos locais de impacto dos mísseis disparados pelo Hamas mostram danos diferentes, variando de simples ogivas explosivas a ogivas soviéticas antipessoais, que enviam centenas de bilhas de aço altamente perfurantes no momento da explosão. Mas fotos do exército libanês, mostram dois mísseis kassan, de manufaturados pelo Hamas, no Líbano. Isto é: o Hamas tem capacidade para fabricar seus próprios mísseis vagabundos em território libanês, além de ter recebido alguns artefatos militares do Hezbollah.

É muito provável que em breve Israel se veja num cenário como o da última temporada da série de TV Fauda, onde mísseis kassan foram disparados desde a Cisjordânia contra Israel em roteiro artístico. Não é a toa que Fauda foi top 1 na Netflix do Líbano. Todos os envolvidos assistiram. A partir da Cisjordânia o número de alvos para o Hamas se torna enorme e em direções variadas, muito diferente de atacar para o norte e leste a partir de Gaza ou para o Sul a partir do Líbano.

Qualquer comentário político sobre a situação que remova da equação o fato do Hamas ter declarado em 2019 que a paz não existe, existe apenas a jihad, a guerra santa permanente, torna impossível compreender o quadro maior.

Opinião de José Roitberg – jornalista e pesquisador

Imagem: Evyatar, o assentamento ilegal que se tornou símbolo do embate interno na coalizão de governo israelense. WIkipedia CC 4.0 foto de Iair Dov.

José Roitberg

José Roitberg é um jornalista brasileiro e pesquisador em história, formado em Filosofia do Ensino sobre o Holocausto, pelo Yad Vashem de Jerusalém.