Carnaval em Terê – Arboretum Judeorum – A Arvore dos Judeus
Eternidade de Israel
Em meio às barracas da Feirinha bela arvore imponente e centenária domina a pracinha do Alto, no vale emoldurado por elevações elegantemente sinuosas. Antigamente a sua sombra muitos e muitos judeus se reuniam, jogando conversa fora em yiddish nas manhãs dos domingos. Mas hoje, apenas os compristas vem descansar um pouco no banco redondo construído a sua volta. Meio oculta pelas barracas, cada vez em maior quantidade, cordas e toldos a escondem entre bolsas, casacos e malhas.
Nos bons tempos a pracinha efervescia com a geração de imigrantes, misturada aos demais frequentadores, as criancinhas em seus carrinhos e os que chegavam para almoçar no Ângelo e o Ernesto, ali na esquina. Não havia shopping nem edifícios altos, um ou outro carro estacionava, apenas casas e a tranquilidade, o canto dos passarinhos.
À sombra daquela arvore multidões desfilaram, até que os imigrantes se foram e ficamos nós, brasileiros natos já de varias novas e vibrantes gerações. Ao contrario de nossos avós, os assuntos hoje são outros, não mais buscando noticias de antigos “landsman”, comentando as novidades, fazendo aqui e ali algum “shidech” (promover encontro para formar casais, visando o casamento).
A comunidade se espalhou pelos bairros e condomínios, acabou o aglomerado judaico no Hotel Belvedere, extravasando pela porta e se esparramando pela calçada. Em seu lugar prosaica loja de tintas, não muito longe da sinagoga que congrega piedosos “veranistas”, como se dizia antigamente.
Não mais as filas na Padaria Teresópolis, tantos rostos conhecidos, carros estacionando vindo buscar aquele pão quentinho de sabor tão especial não encontrado no Rio.
A cidade bucólica não existe mais. No lugar do antigo Hotel Higino, um tapume esconde o terreno onde foi destruído o antigo casarão que enfeitava a paisagem, poluindo a paisagem diante do outro Higino, o Condomínio, em cujos salões múltiplos bailes já não mais alegram os dias do Carnaval. O ultimo a acabar foi o famoso Infantil da Wizo, no domingo de tarde.
A cidadezinha mudou. Teresópolis eclodiu qual ameba urbana enlouquecida, desmatando morros, invadindo bairros, cada vez mais densos, “progresso” jamais imaginado. Prédios imensos alteram a paisagem, engarrafamentos, pequena grande metrópole. Ainda assim Terê ainda tem ares de paraíso, guardando ponderável parcela da Mata Atlântica que viu Cabral chegar.
Protegida pelos espíritos, a Mãe Natureza um dia se revoltou e veio cobrar seu preço. Inocentes pagaram pelos crimes ambientais dos outros, nas enxurradas e desabamentos.
Mal poderiam aqueles antigos imigrantes imaginar como tudo esta tão diferente. O trem cansado já não arrasta mais o peso dos vagões subindo a serra para mais um alegre fim de semana. Já não se fala mais em “viajar” para Terê, promessa de horas e horas nos engarrafamentos pela antiga estrada pequena e acanhada, substituída pela imponente Rio-Teresópolis, encurtando a distancia como se fosse um tapete mágico negro serpenteando pelas colinas.
Neste Carnaval, o verão quase se igualou ao do Rio, sem o friozinho e nevoeiro, acompanhado pela chuvinha miúda que se arrastava sem pressa de parar. Mas algo não mudou … no sábado de Carnaval a tradicional Sinagoga Shalom, na Reta, Av Oliveira Botelho, no Alto, efervescia com as orações, entoadas por inúmeros fieis. Apos a pandemia e alguns anos em que esteve menos frequentada, novamente volta a catalisar os veranistas e moradores, realizando na pratica o Sonho de Jacob, sobre a Eternidade de Israel.
Apos o serviço religioso, o farto kiddush reuniu os presentes, com direito a um saboroso tchulent. Assim é em Terê … as gerações se sucedem, com os mesmos ideais, as mesmas esperanças, e arrostando as dificuldades do caminho, ontem como hoje seguimos o nosso destino, tementes a D´us e guardando a nossa fé indestrutível. Seguimos confiantes, animados pela esperança inquebrantável na vinda do Messias ainda em nosso tempo. Amém e Amém.
Altaneira, a Arvore dos Judeus ainda se destaca na paisagem. La do alto, dos Ganei Eden, aqueles que sentavam a sua volta, ainda a admiram e enviam suas bênçãos, enquanto as criancinhas brincam no parquinho da Praça do Alto …
Israel Blajberg, Terça de Carnaval, 04/março/2025.