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Entenda: o Domo de Ferro está falhando na defesa de Israel? Ou não?

O Domo de Ferro é um sistema antimíssil de curto alcance desenvolvido contra mísseis de pequeno porte a baixas altitudes, quando tem precisão acima de 90%. O maior míssil que o Hamas usou em profusão é o R160 (Alcance de 160 km), clone de um míssil chinês. Tem 30 cm de diâmetro, 6 metros de comprimento e pesa 750 kg no lançamento. Os mísseis balísticos normais iranianos, são da família Shahab-3, com 1,2 metros de diâmetro, 16 metros de comprimento e 16 toneladas no momento do lançamento.

Nos últimos dias percebe-se uma mudança com o Domo de Ferro conseguindo abater os mísseis balísticos enormes, também a baixa altitude (na chegada), mas com uma precisão menor. O Domo de ferro usa um míssil com ogiva explosiva de detona na aproximação ao míssil inimigo.

Houve alguma mudança no sistema de radar e software do Domo de Ferro que passou a permitir isso.

Israel também possui e vem usando os sistemas Arrow, israelense, e THAAD americano. Estes sim interceptam mísseis balísticos enormes a longa distância, ainda sobre o espaço aéreo da Jordânia e Síria, em altitudes de até 40.000 metros. São progéteis cinéticos, não tem ogiva explosiva de colidem contra o míssil inimigo.

Existem ainda mísseis RIM-61, também cinéticos, disparados a partir de um Destroyer norte americano próximo à costa israelense, desde o dia 13. Ontem, chegaram mais dois navios de guerra deste tipo. São mísseis projetados para abater mísseis balísticos intercontinentais soviéticos/russos e podem realizar interceptação a até 1.000 km de altitude, ou seja, fora da atmosfera e tem conseguido abater alguns dos mísseis disparados a trajetórias altíssimas, pois o Shabab-3 pode ir até 400 km de altitude.

Mas nenhum sistema antimíssil é à prova de falhas e o desempenho tem sido ACIMA DO QUE ERA CONSIDERADO POSSÍVEL. Portanto, o índice de abate está ótimo e não ruim.

Irã superando a capacidade de defesa

O Irã sabe que, para superar qualquer sistema de defesa, a resposta é lançar mais mísseis em número maior do que estimam que a defesa pode abater. E fizeram isso nos 3 primeiros dias somente.

Uma das características do sistema de radar e computador do Domo de Ferro (é tudo 100% automático), é prever a trajetória dos mísseis. Cada bateria lida com até 20 mísseis ao mesmo tempo. Verifica e estima as trajetórias, decide no mapa interno se vai atingir área habitada ou não, lança até 20 mísseis e os guia, em trajetórias complexas até seus alvos. É uma máquina assustadoramente impressionante. Os que forem atingir áreas consideradas abertas não são interceptados, por economia. Cada disparo custa 150 mil dólares no modelo de míssil atual. Cada RIM-61 custa 11 milhões de dólares.

Ontem e hoje (16 e 17 de junho) vimos impactos em áreas completamente abertas e num estacionamento de ônibus de turismo em Hertzlia. Me arrisco a dizer que o computador permitiu passar de acordo com a programação tática e o mapa de situação.

O problema são os mísseis hipersônicos, disparados pelo Irã, que são projetados para não poderem ser abatidos e a maioria deles (poucos dentro do bojo de mísseis disparados pelo Irã) atinge o solo, mas sem precisão: são disparados não contra um alvo, mas contra uma cidade, onde pegar, pegou.

Estes mísseis viajam a velocidades entre 10.000 e 13.000 km/h, desde o lançamento até o alvo. São armas terríveis. Suas ogivas podem ser de 500 a 1.500 kg de explosivo. Para ter uma ideia de comparação, considera-se veloz um caça F-16 que voa a 2.000 km/h. O avião comercial em que você viaja trafega entre 900 e 1.00 km/h.

Os mísseis hipersônicos têm trajetória baixa e os normais têm trajetória parabólica alta, portanto, na região das fronteiras de Israel eles ainda estão altos demais para serem atingidos pelo Domo de Ferro, todavia baixos demais para os sistemas maior e mais caros. Temos visto comentário de pessoas perguntando: porque não colocar o Domo de Ferro nas fronteiras de Israel? Isso não funcionaria. Só podem ser atingidos pelo Domo de Ferro na chegada.

Existe ainda o míssil David Sling (Funda de David, do rei David) que também é cinético, com alcance 300 km, podendo abater mísseis em alturas baixas ou médias, mas não há divulgação oficial do que está sendo usado na guerra atual. Cada disparo custa 700 mil dólares.

Há três vídeos, de três ataques diferentes, em que os mísseis iranianos são atingidos rapidamente em sequência, típico do que se espera de um canhão laser. Não se veem mísseis interceptadores nas imagens. É muito provável que haja um canhão de 100 Kw em Haifa e outro em Tel Aviv, mas seria leviano afirmar isso. Depois das FDI publicarem que usaram um canhão a laser pequeno, potência entre 1 e 10 Kw, dezenas ou centenas de vezes contra drones do Hezbollah no norte do país, durante os combates anteriores sem que houvesse qualquer menção ou imagem no momentos dias dos fatos, torna plausível o uso atual. A Rafael, que é a fabricante da arma, há quase dois anos anuncia, no site dela, o modelo 100 Kw para venda internacional, listado normalmente entre os produtos da empresa.

Inquietação

Nos dias 16 e 17, vimos ataques reduzidíssimos de mísseis iranianos. Para o dia 16 a Guarda Revolucionária anunciou que seria um ataque sem precedentes. E foi. A primeira onda teve 8 mísseis e as duas seguintes apenas um cada. No dia 17 novas duas ondas, uma com 15 e a outra com 10 somente. Todos foram abatidos. As pessoas já esqueceram que o primeiro ataque iraniano, em 2024 teve 180 mísseis balísticos lançados e o segundo, 200. A diferença para o momento atual é gritante.

Existem duas explicações e algumas especulações. Vamos primeiro a elas. O Irã estaria guardando seus mísseis. O Irã estaria poupando seus mísseis para atacar durante mais dias.

As explicações são mais plausíveis. As FDI, no final do dia 17 declararam já ter destruído 200 caminhões lançadores de mísseis balísticos e que isso seria a metade dos existentes. As bases fixas de lançamento de mísseis já teriam sido 100% destruídas. Portanto, está a cada onda, mais difícil para o Irã posicionar seus caminhões, além dos caminhões de abastecimento de combustível líquido. Os mísseis balísticos por combustível liquido não podem ser transportados abastecidos. Precisam ir ao local de lançamento, serem erguidos (leva dois ou três minutos) e abastecidos, operação que leva ed 30 a 40 minutos é a janela que a Força Aérea de Israel tem para atacar. Mas os aviões detectarem o lançamento, vão imediatamente caçar e destruir o caminhão, pois o caminhão é a arma. O míssil é a munição.

A segunda explicação tem a ver com a doutrina militar da artilharia. Eu sou oficial da reserva de artilharia no Brasil. Certa vez, num dos acampamentos, ainda durante o curso do CPOR, realizamos tiro noturno, por volta das 20hs. Aí, nosso tenente determinou que o canhão onde eu fazia parte da guarnição, iria praticar o que se denomina de “fogo de inquietação”, uma estratégia estranha criada durante os combates de trincheiras da Primeira Guerra Mundial.

O ‘fogo de inquietação” era, desde as 21h até as 05h da manhã, a cada hora, disparar um tiro de canhão “contra o inimigo”. Explicou o tenente que isso não deixaria o inimigo dormir. Pedi permissão para falar e returquei: “Tenente, isso também não vai deixar dormiir ninguém aqui no nosso acampamento…” A resposta foi: “Claro que sim, 30 flexões de braço, agora!” (punição lúdic militar normal). Bem, naquela noite nosso acampamento de artilharia ficou “inquietado” e ninguém dormiu, inclusive o tenente. Enquanto isso nosso inimigo virtual não teve problema algum para seu sono e sonhos virtuais.

E é isso que está acontecendo em Israel, apesar de ninguém comentar. Com 3 alertas de sirenes e ida ao bunker a meia-noite, duas e quatro da manhã, praticamente ninguém consegue dormir. Ninguém mesmo. E já vamos para o quinto dia. População cansada e estressada, policiais, paramédicos e bombeiros idem. E isso vai levar a erros e acidente.

Hoje, no final do dia 17, o Home Front mudou as regras e vai parar com o alerta de 30 minutos e que vai haver um alerta posterior. O absolutamente necessário neste momento é que só fossem comandadas sirenes e ordens de ir para bunker, sobre a região possível de impacto, no caso dos ataques com apenas um ou dois mísseis. Nos outros, com 10 ou 20, talvez não. Mas as FDI precisam minimizar o estresse causado pelo protocolo de mandar o país inteiro se proteger quando o ataque é localizado contra uma cidade, e sua região maior apenas.

Por José Roitberg – jornalista e pesquisador

José Roitberg

José Roitberg é um jornalista brasileiro e pesquisador em história, formado em Filosofia do Ensino sobre o Holocausto, pelo Yad Vashem de Jerusalém.