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Aumenta o poder dos intolerantes do novo governo de Israel

Infelizmente tudo que você vai ler abaixo é a mais suja verdade, em artigo de opinião de José Roitberg – jornalista e pesquisador.

Avi Maoz, líder do partido Noam, de uma cadeira, que nem deveria existir vai ser o no chefe do Departamento de Identidade Judaica, um percalço novo. O acordo com assinado com o Likud no domingo 27/nov. Este departamento ficará junto ao gabinete do Primeiro Ministro.

Aos repórteres Maoz disse nesta segunda-feira: “Entrar em Israel de acordo com a lei. Nós vamos agir de acordo com a Lei. Todos os Judeus são aptos a imigrar”. Mas quem define quem é judeu sou eu… É claro que ele não disse isso. Mas note o seguinte e isso é muito importante: Maoz não disse, no início da frase, imigrar para Israel, e sim entrar em Israel, e a visão dele pode ser muito mais restritiva do que parece.

Está parecendo que dois intolerantes, o anti LGBT que faz da homofobia sua campanha eleitoral, anti pluralista e anti árabe Maoz terá o dever de determinar quem é judeu. Já fique sabendo que ele vai tentar ou conseguir excluir todos os judeus LGBT. Enquanto isso, o Arie Dery, do Shas, se o judiciário lhe permitir assumir o Ministério do Interior, também terá o dever de definir quem é judeu. E quem será judeu na cabeça deles?

Maoz já havia definido que só aceitaria novos imigrantes convertidos pela ortodoxia. Os que fossem judeus, não teriam “problemas”. Como assim? Ao chegarem à Israel, Reformista e Liberais tem muitos problemas. São aceitos como cidadãos de Israel, mas não são aceitos para casamentos religiosos, “guêt” divórcio religioso, e até mesmos para enterros, lhes sendo EXIGIDA a conversão à ortodoxia lá. E isso vai piorar, para nós, é claro. Falta um trisquinho para o Maoz definir que apenas judeus ortodoxos poderão imigrar para Israel.

Sobre as mulheres, ele disse publicamente em entrevista em Israel que as unidades militares femininas devem ser fechadas. Ou seja, não quer mulheres nas forças armadas pois isso, segundo ele, “são valores estrangeiros importados para Israel”.

Itamar Ben Gvir do Otzma Yehudi, pressionou Netanyahu por mais poder e conseguiu. A polícia de fronteira que opera na Judeia e Samaria ficará sob seu comando, saindo da estrutura de comando do exército. Falando com repórteres ele disse que uma das primeiras medidas é alterar as “regras de engajamento”, quando um soldado ou policial pode disparar contra alguém. Gvir dará autorização para disparar contra pessoas portanto pedras ou coquetéis molotov, antes que façam uso delas. Ele sempre foi assim: atirar primeiro, perguntar depois e a mídia internacional que se f…

Mas, e os rapazes do próprio grupo de dele e outros extremistas religiosos que jogam pedras em soldados e policiais israelenses? Vão ser alvejados também? Gvir disse que a regra só se aplica àqueles “que odeiam Israel.”

A regra em vigor há décadas é a dos “meios e intenções”. Alguém pode estar com uma pedra, ou com uma faca, ou até mesmo com uma arma de fogo. Mas tem intenção de utilizá-la para atacar alguém? Se tiver a arma e demonstrar a intenção de utilizar, sim pode e deve ser abatido. Mas isso é em Israel. Na Judeia e Samaria valem as regras do IDF, modificadas em 2021, passando a permitir disparar em quem jogou o coquetel molotov ou pedras, depois de terem jogado e quando não mais tiverem “meios”. Mas Gvir quer mudar a regra para “meios e potencial”: se tiver a arma pode ser abatido.

Gvir também anunciou seu principal assessor, Chanamel Dorfman, 27, como o “chefe” da polícia em Israel. Este sujeito está nos arquivos do Shin Bet (como publicado pela mídia israelense), constando como extremista ultranacionalista, ativo entre os jovens que ocupam colinas com um barraco (mas não líder), pessoa que frequentemente enfrenta palestinos, soldados e policiais de Israel, a quem chamava, até dois dias atrás de “antissemitas, corruptos e máfia”. Na ficha dele do Shin Bet conta “Perigo à Sociedade”. Agora vai ser o chefe da polícia! Vão segui-lo? Ninguém sabe. O acordo de Gvir e Dorfman, foi assinado com o Likud no dia 25/nov.

Com Bezalel Smotrich nada foi assinado ainda. Ele acusa Bibi de ter voltado atrás no que se comprometeu e Bibi acusa Smotrich de estar exigindo demais. Uma das novas demandas é dirigir a pasta dos Assentamentos na Judeia e Samaria, e a pasta de Absorção de Novos Imigrantes. Então será mais um intolerante a erguer barreiras contra judeus não ortodoxos em Israel. Além disso, Smotrich passou a exigir ser o controlador do sistema de conversões ao judaísmo em Israel. Será que um novo imigrante vai ter que passar agora pelo crivo de Dery, Maoz e Smotrich? Na boa, não existe outra palavra: estamos perdidos!

A esperança para a sociedade israelense e para os judeus que vivem fora de Israel e imaginam um dia imigrarem para Israel é que Bezalel Smotrich faça exatamente o que fez na eleição anterior e se retire da coalização acusando o Likud e Bibi de mentirem para ele. Até o momento, o trajeto parece ser exatamente este. O leitor precisa se perguntar por que este sujeito, cada vez que recebe o que pede, volta a pedir mais. Acha ele que conseguirá tudo? Ou faz isso para não conseguir nada e permanecer na oposição?

Pouco antes da meia noite do dia 28/nov, o porta-voz do Likud em Israel divulgou que o partido aceitou uma demanda dos partidos ortodoxos apoiadores e vai entrar com um projeto de lei para alterar completamente o sistema de conversões hoje em vigor em Israel. Apenas as conversões através do Rabinato Chefe (a Rabanut) serão válidas, para fins de cidadania. Desde março de 2021 havia sido implementado um avanço permitindo aceitação das conversões por qualquer comunidade organizada em Israel, incluindo reformistas e conservadores. Para assuntos religiosos só era válida a conversão pela Rabanut. Agora isto vai ser estendido à cidadania. É preciso entender que existem também conversões ortodoxas inválidas para a Rabanut.

ATENÇÃO: o que foi divulgado hoje é que essa mudança da lei NÃO VAI AFETAR AS CONVERSÕES REALIZADAS FORA DE ISRAEL, para fins de cidadania. Apenas as realizadas em território israelense estarão sujeitas a nova regra, que não será retroativa e as conversões realizadas desde março de 2021 ficam válidas e mantidas.

O prazo final para Benjamin Netanyahu apresentar um novo governo para ser votado no Knesset termina a meia-noite do dia 11 de dezembro.

Eu preciso deixar claros alguns pontos. (1) As informações por mais bizarras que possam parecer são do Times de Israel, Yediot Aharonot, Arutz-7. Eu jamais usei ou usarei o Haaretz como fonte, pois para mim, a credibilidade dele é zero, enquanto para a esquerda judaica é de 100% – é como se fôssemos enxergar o Brasil pelo portal 247.

(2) Os adjetivos que não estão entre aspas, são exclusivamente meus. Mostram meu repúdio, como judeu liberal de direita política à teocracia judaica (lugar de rabino é na sinagoga) e ao partido ao qual sou filiado internacionalmente. Partidos mudam, políticos mudam. Eu vejo uma mudança para PIOR, enquanto, talvez uns 2 milhões de israelenses veem uma mudança para MELHOR.

3) Por isso, não posso me imaginar como arauto da verdade futura, ou profeta da destruição da estrutura democrática israelense, pois muita gente boa, inclusive amigos, afirmam claramente que eu estou errado.

(4) Mas uma coisa eu sei: nunca existiu teocracia democrática.

Imagem: ilustrativa do Knesset, Parlamento Israelense, por Ronaldo Gomlevsky ©2000

José Roitberg

José Roitberg é um jornalista brasileiro e pesquisador em história, formado em Filosofia do Ensino sobre o Holocausto, pelo Yad Vashem de Jerusalém.