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Bennet autoriza caçada a membros do Estado Islâmico em Israel

Os dois últimos ataques terroristas em Israel tiveram como “novidade” terem sido cometidos por cidadãos árabes israelenses e não por terroristas palestinos. Há pessoas de fato surpresas por isso e “achando um absurdo”.

Outras cobram ações mais contundentes. O governo Bennett as tomou, e com certeza haverá uma repercussão midiática negativa nestes próximos dias. Não é possível combater o Estado Islâmico dentro da normalidade democrática, pois se tratam de batalhas individuais, sem qualquer aspecto geopolítico envolvido. Não se luta uma guerra de forma democrática.

O primeiro-ministro de Israel usou uma prerrogativa especial e autorizou a prisão sem mandato, sem causa provável, sem citar ao preso do que ele está sendo acusado, sem direito a advogado, e em princípio, sem prazo determinado. É um horror, ainda mais dentro de uma democracia.

Este expediente já foi utilizado inúmeras vezes, sem qualquer publicação na mídia, por se tratar de matéria sob censura militar em Israel, em operações pontuais contra terroristas na Cisjordânia. Desta vez é uma ordem ampla: caçar e prender cidadãos DE ISRAEL que o Estado sabe serem aderentes ao Estado Islâmico e outros suspeitos de serem aderentes também.

Utilizei o termo aderente, porque não são cidadãos do Estado Islâmico, nem sócios, nem membros, nem praticantes, nem filiados. Sequer há termo para descrever a situação.

As mídias israelenses citando fontes de governo publicaram que há entre 15 a 30 células adormecidas conhecidas do Estado Islâmico em Israel. Existem cidadãos que já foram presos e até mesmo condenados tendo cumprido pena integral anteriormente, como o beduíno (muçulmano sunita) autor do ataque mortífero a faca em Beer Sheva dias atrás. O governo brasileiro emitiu nota condenando o ataque e se solidarizando com as vítimas e suas famílias, todavia nenhum órgão da mídia brasileira publicou a “nota à imprensa número 49”.

Mohammed Abu al-Kiyan, o terrorista do ataque em Beer Sheva era um professor escolar beduíno, preso em 2016 e condenado a quatro anos de prisão por distribuir propaganda do Estado Islâmico e tentar convencer seus alunos a se engajar no EI. Ele se desculpou em 2019 e um juiz israelense, humanista, se convenceu da sinceridade e o soltou. Três anos depois ele matou quatro pessoas, incluindo duas mulheres e deixou outras duas pessoas feridas.

Os dois terroristas do taque em Hadera eram primos e postaram vídeo anterior ao ataque mostrando claramente sua aliança ao EI. Um deles já tinha servido 18 meses na prisão em Israel, por ter sido preso na Turquia tentando se unir aos EI na Síria.

Eu não quero ver cidadãos árabes israelenses acusados injustamente de serem quadros do Estado Islâmico, como vemos “espiões de Israel” serem presos no Irã, no Líbano ou em Gaza e nunca mais se escuta falar deles.

Ainda que estas 15 a 30 células do EI em Israel comportem umas 100 pessoas, isso também não pode ser utilizado para definir uma imagem ainda mais pejorativa de 1,8 milhões de árabes israelenses.

As pessoas são obrigadas a tentar compreender que estes quase 2 milhões de árabes israelenses SÃO CONSIDERADOS INFIÉIS, tanto quanto todos os judeus em Israel, e inimigos pelo Estado Islâmico. Todos os muçulmanos que não pertencem ao Estado Islâmico são considerados inimigos do Estado Islâmico. O Hamas, que é apoiado abertamente pelo Irã é inimigo número 2 do Estado Islâmico pois o Irã xiita é o inimigo número 1. A autoridade palestina ocidentalizada é composta por infiéis a luz do que pensam os quadros do EI. Os árabes cristãos, cristãos ortodoxos e católicos são inimigos do EI.

A questão do Estado Islâmico não é específica contra os judeus, apesar destes meros três ataques iniciais terem sido contra judeus (apesar de um dos policiais de fronteira assassinados em Hadera ser druso). Até hoje o número de judeus que o EI matou é irrelevante dentro do contexto, apesar de ser inaceitável para nós.

Em 2016, quando o Califa ainda era o al-Bagdahdi (2010-2019 morto), o EI publicou: “atinjam os pescoços dos infiéis em nome de Allah, com espadas, cortando órgãos e perfurando a carne daqueles que se opõe ao islã”. Onde o entendimento é: se a pessoa não se sujeitou e jurou obediência ao Califa, então ela se opõe ao islã. O comunicado diz ainda que é muito fácil e barato obter facas e as esconder e que elas são armas mortais que os muçulmanos devem usar. Onde o entendimento é: somente os membros do EI são muçulmanos.

Durante a gestão de al-Bagdahdi foi divulgado um vídeo oficial do EI, denominado “Aviso aos Sionistas”, onde o tal aviso era: “enquanto vocês treinam seus filhos para colocar votos em urnas, nós treinamos nossos filhos para matar seus filhos.” Onde “sionistas” significa além dos judeus, todos os cidadãos de qualquer religião de países que não se opõe a existência de Israel.

O Califa al-Qurayshi (2019-2022 morto), em seu primeiro pronunciamento declarou que o EI iria incentivar a matança de judeus e a libertação de Jerusalém.

A operação do Shin Bet, e das forças anti-terroristas de Israel iniciadas na noite de 28/mar/2022 certamente irá prender a maioria dos objetivos. Alguns talvez reajam e sejam mortos. Mas imaginar que isso debela o Estado Islâmico em Israel é uma bobagem.

A notícia oficial, na manhã do dia 29/mar é desapontadora para quem imaginava uma operação contundente. Foram presas 12 pessoas e revistadas 31 casas. Nùmeros que não estão de acordo com o tal número de células adormecidas citadas pelo governo.

Caso elas de fato existam, poderão partir para ações antes das forças de segurança chegarem a elas.

Desde o primeiro dia em que o EI se tornou conhecido, acrescido com a divulgação pelo FBI do manual de recrutamento deles, ficou claro, para qualquer pessoa interessada no tema, que a grande diferença do EI para qualquer outro grupo radical que já existiu, era o recrutamento, adesão e juramento de fidelidade pela internet, através das mídias sociais.

Os membros do EI não precisam ir a lugar nenhum para receber treinamento e jurar ao Califa. Podem fazer de seus telefones celulares. Os membros dos EI não precisam ir a lugar nenhum para obter suas facas, basta abrirem as gavetas de suas cozinhas. Os membros do EI não precisam criar nenhum plano de ataque e muito menos de fuga, basta esfaquearem ou dispararem contra qualquer pessoa em qualquer país.

Nenhum outro país promoveu até o momento uma caçada a membros ou aderentes do Estado Islâmico entre seus cidadãos. É necessário aguardar para se entender onde isso vai chegar. Seria o péssimo prender um monte de pessoas e os ataques continuarem.

opinião de José Roitberg – jornalista e pesquisador

José Roitberg

José Roitberg é um jornalista brasileiro e pesquisador em história, formado em Filosofia do Ensino sobre o Holocausto, pelo Yad Vashem de Jerusalém.