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Bibi volta seis meses no tempo e diz em inglês que a cláusula de “sobrepor” da reforma foi removida, mas em hebraico diz que está mantida

Dias atrás Bibi Netanyahu afirmou em entrevista ao Wall Street jornal, que a cláusula de “override”, de sobreposição do Knesset às decisões da Suprema Corte estava “morta” e removida da reforma judicial. Nesta segunda-feira, em Israel, declarou que não está.

Essa cláusula é a única que de fato pode mudar o relacionamento do Estado de Israel com a justiça. Permitiria ao Knesset revogar decisões da Suprema Corte. Assim, a palavra final seria do parlamento e não da justiça.

Em princípio parece democracia, mas não é. Simplesmente por não existir qualquer limite para o que um parlamento poderia rever das decisões judiciais. Bibi conta com os sapos dentro do saco, como se seus 62 votos da coalização fossem sempre garantidos. Mas, semanas atrás, a coalizão perder a cadeira na mesa de escolha do próximo juiz da Suprema Corte, por 58 votos favoráveis a oposição. Teriam parlamentares do Likud e do Shas (é o que a mídia israelense afirma) votado contra o governo e tendo ficado em abstenção.

Portanto, não há como saber o que analisar. Não tem mais override em pauta? Tem override em pauta? A única análise possível é de Bibi ter acreditado nele mesmo e achar que o duplo discurso é a chave para contentar gregos e troianos (coisa que não deu certo nem na época de Troia).

Ao sair a entrevista no Wall Street Journal, o bloco ortodoxo e a linha mais dura do Likud, caso fossem muçulmanos, teriam jogado seus sapatos em Bibi, e as ameaças internas a Coalizão subiram de tom. Ameaças estas, que os ameaçadores também acham que estão dando certo.

O bloco ortodoxo pretende com a possibilidade de override, enterrar a lei que obriga seus jovens a se apresentarem para o serviço militar, mantendo uma asneira que a esquerda de David ben Gurion criou no nascimento do Estado de Israel e foi pervertida ao longo dos anos. Evidentemente também contam com os 62 sapos dentro do saco imaginando que terão maioria ou poder de ameaça de romper o governo, para desaprovar várias das leis que consideram “anti-eles”.

Mas imaginando que não vão conseguir isso, tentam apressar a tramitação de outra lei que já está pautada e cujo alcance é impossível de prever. Querem que “o estudo da Torá” seja um dos objetivos nacionais que norteiam o caráter do Estado de Israel na sua Lei Básica. Acreditam eles que desta forma nenhuma lei poderá desobrigá-los a estudar a Torá por absolutamente nada, mantendo o bloqueio total do ensino do currículo normal que todas as pessoas do mundo deveriam aprender, nas suas escolas religiosas.

Neste momento ninguém é capaz de prever se a Coalização voltará a ter seus 62 votos para aprovar o que quiser e isso precisará ser testado com alguma outra lei com menos consequências.

As manifestações que levaram 90 mil às ruas na semana anterior, levaram 150 mil neste sábado a noite. O aeroporto Ben Gurion foi palco de uma tentativa de bloqueio nesta segunda-feira pelos manifestantes antigovernistas.

A resposta do governo foi mais lenha na fogueira: começaram a falar num projeto de lei que impeça que leis aprovadas sejam revogadas pelo Knesset, o que é de uma estupidez política sem precedentes: leis definitivas proibidas de serem emendadas ou revogadas. E a posição contra isso já será a pauta da vigésima sétima semana de protestos, no sábado que vem.

A oposição se colocou ao lado do governo em todas as ações que forem tomadas em Jenin, mas reservistas voltaram a dizer que não vão se apresentar. Israel hoje parece uma vitrine que levou algumas pedradas. Não vai quebrar, mas fica cada vez mais difícil de enxergar através dela.

Opinião de José Roitberg – jornalista e pesquisador

Imagem: polícia de Israel impedindo manifestantes de entrar no aeroporto Ben Gurion, nesta segunda feira, do Twitter de Or-ly Barlev, jornalista independente em Israel. Ela está sempre nas manifestações então é uma conta interessante para ver o que acontece.

José Roitberg

José Roitberg é um jornalista brasileiro e pesquisador em história, formado em Filosofia do Ensino sobre o Holocausto, pelo Yad Vashem de Jerusalém.