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Casos de covid passam de 50 mil após serem apenas 200 em Israel

Reabertura, variante delta, gente indo e vindo de avião a outros países, mais de 1,2 milhões de árabes israelenses não vacinados (porque não querem se vacinar), mais de meio milhão de judeus israelenses não vacinados (porque também não querem se vacinar).

Este número era o conhecido até hoje, 16 de agosto, quando o ministério da saúde de Israel divulgou novos dados e declarou que 5,8 milhões de habitantes receberam pelo menos uma dose, 5,4 milhões já teriam recebido a segunda dose e, um milhão a terceira dose. Como a população de Israel é de 9,3 milhões de habitantes, o total de não-vacinados é de 3,5 milhões, mais que o dobro de 1,7 conhecidos publicamente até o momento.

Culpar os não vacinados pela nova onda de internações?

O governo israelense ainda não chegou a este ponto.

Sempre é preciso lembrar que a resistência a receber a vacina entre a população judaica não se concentra no setor ultraortodoxo, apesar de parte dele também se recusar. Não se pode acusar os religiosos judeus neste caso. O motivo da recusa à vacina por mais da metade da população árabe ainda não foi divulgada. Pelo lado judaico é o mesmo que vem acontecendo em todo o mundo, em todas as sociedades e com todas as religiões. Vai acontecer no Brasil. Nos EUA onde a recusa à vacina de gripe gira em torno de 51% ao ano, a taxa de recusa está semelhante para a vacina da Pfizer. Ou seja, todo mundo quer Pfizer e 138 milhões de americanos não querem. 

O que aconteceu em Israel

O fato concreto é que as autoridades de Israel não têm certeza absoluta do que está acontecendo apesar de declararem que a maioria dos casos é entre não-vacinados. Quando a vacinação começou, exatamente em Israel, falava-se ainda em imunidade de rebanho pelo conceito errado: o rebanho vai contraindo a doença, quem morrer morreu, até um ponto onde há poucos do rebanho que não contraíram e a doença se extingue. Mas a imunidade de rebanho se dá pela imunização da maior parte do rebanho e não pelo contágio. O contágio possibilita as mutações do vírus. Antes se falava de 50%, depois passou a se falar em 70%.

Isto não está sendo confirmado no mundo real para este vírus safado. Há um meme: ‘Antes o que não matava te fazia forte. Hoje o que não te mata, muta e tenta de novo’. Os EUA estão com 51% da população totalmente vacinada e a epidemia continua. Israel, oficialmente está com 66% da população vacinada, ou 85% do público-alvo inicial (pela idade) inteiramente vacinado e uma nova onda de casos graves e mortes está ocorrendo.

Portanto, para este vírus, a imunização de 70% da população não resulta em desaparecimento da doença. Mas este dado não é totalmente verdadeiro. 66% é o número divulgado uma semana atrás. No dia 16 de agosto o número oficial do ministério da saúde caiu para 62%. Estou intencionalmente mostrando as contradições dos números.

Nesta segunda-feira, 16 de agosto, o número de casos ativos de covid-19 em Israel chegou a 50.000, enquanto há dois meses, eram apenas 200 pessoas e todos comemoravam o fim da doença, contando com a vitória antes do jogo terminar. Há dois meses também se comemorava dois dias sem nenhuma morte em Israel. De lá para cá já morreram mais 241 pessoas, com 41 mortes nas últimas 24 horas.

Hoje, o número de casos sérios, que há dois meses era de menos de 20, está em 528. Existem 908 pessoas hospitalizadas com covid em Israel, das quais apenas 98 em ventiladores. A variante Delta é responsável por 97% dos novos casos.

Quem quiser ver, que veja. Quem quiser entender, que entenda. Infelizmente, precisamos evoluir para a realidade, Israel acaba sendo o balão de ensaio por ter vacinado rapidamente sua população. O que der de errado lá vai se repetir no restante dos países e como os países têm populações muito maiores que Israel e são muito mais desorganizados que Israel, a nova onda que atingiu Israel atinge a todos. 

O que está acontecendo no Brasil

A prefeitura do Rio de Janeiro declarou que 60% dos casos de covid na cidade já são da variante delta. Em muito breve serão 100%. Não temos no Brasil dados sobre a taxa de vacinação e tipo da vacina entre os novos casos. Um médico que eu conheço e que está na linha de frente desde o início, me contou que estão tratando os pacientes e que não lhes é perguntado se foram vacinados e com qual vacina. Mas devia ser perguntado e tabulado a nível nacional. Não é feita a sorologia de cada paciente para saber qual é a cepa do vírus e há questões com os planos de saúde sobre pagamentos por estes exames.

Os dados divulgados pelo ministério da saúde de Israel são claríssimos. Para os novos casos, a taxa é de 151,5 pessoas a cada 100.000 entre os não vacinados; 40,9 pessoas/100.000 entre os parcialmente vacinados e apenas 19,3/100.000 entre os totalmente vacinados. As vacinas funcionam, dentro das limitações técnicas delas.

A recusa a se vacinar tem vários fatores motivadores e não pode ser atribuída a um fator só, entre eles: não confiar nos possíveis efeitos de vacinas desenvolvidas fora do lento padrão anterior (sem entender, que exceto as vacinas de vírus inativado, como a Coronavac, as outras possuem tecnologias novas, antes consideradas impossíveis), não confiar no governo (não necessariamente neste ou naquele partido político ou líder), fatores religiosos contra o tratamento médico, fatores religiosos de um julgamento divino, fatores religiosos e alimentares (vegans) contrários à inserção no corpo de qualquer substância artificial, a não crença em qualquer vacina, a crença na liberdade total de fazer com seu próprio corpo e com sua própria vida o que bem entender, não acreditar que o vírus exista, não acreditar que vai adoecer pois só os outros adoecem, acreditar que se os outros se vacinarem você estará protegido também, além de demais circunstâncias de crença individual.

Devemos estender nossos agradecimentos, cada vez mais, a todos os profissionais de saúde que estão no combate já há 17 meses.

 Opinião de José Roitberg – jornalista e pesquisador

José Roitberg

José Roitberg é um jornalista brasileiro e pesquisador em história, formado em Filosofia do Ensino sobre o Holocausto, pelo Yad Vashem de Jerusalém.