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Conheça as informações mais relevantes sobre a Ucrânia vazadas do Pentágono

Após a consulta a parte dos documentos vazados, conforme ainda disponíveis na Internet a conclusão é preocupante. Não se de análises de informações coletadas da mídia e dos canais nas mídias sociais, tanto ucranianos, quanto russos, quanto britânicos que cobrem o conflito. São briefings secretos para os comandantes militares norte-americanos e partes aliadas envolvidas no conflito. São documentos para os comandos e não para os comandados.

O formato é muito interessante, conforme o leitor pode apreciar nas imagens. Os documentos foram impressos por Teixeira onde ele teve acesso, num papel amarelado e grosso, pouco comum, dobrados e provavelmente levados no bolso. Pelo formato elaboradíssimo e coloridíssimo dos documentos, é improvável terem sido criados de forma falsa por alguém. Não se pode descartar a possibilidade de uma ação de contrainteligência, criando uma história com muita credibilidade para vazar informações falsas. Mas não é o que parece.

O documento sobre como Israel poderia ser envolvido para enviar armas ofensivas à Ucrânia, classificado como “top secret” é uma bobagem no bojo do que foi divulgado e não oferece nenhuma informação à Rússia, pois é uma projeção de possibilidades. Os outros, não. São absolutamente comprometedores para o lado que apoia a Ucrânia.

Os briefings diários sobre a guerra são feitos até pelo Exército Brasileiro, mostrando posições dos batalhões e brigadas de ambos os lados, ataques e perdas do dia anterior e consolidados até o momento e também as alterações da linha de frente. Tenha a certeza de que os documentos americanos e russos são semelhantes. Então isso pouco importa.

Mas no briefing do dia 1/mar/2023, determinado como “top secret” (segredo alto), como em todas as folhas diárias existe a contabilização dos batalhões ucranianos e dos batalhões russos presentes no cenário, o número de combates do dia anterior, o número de ataques de artilharia com canhões, mísseis e drones e sua efetividade. Aqui existe a primeira informação boa para os russos: efetividade de sua artilharia de longa distância.

Abaixo, num quadro destacado em fundo invertido (fundo preto e letras brancas) o total acumulado de baixas dos dois lados, mas com informações diferentes. Aqui o documento é mais interessante. Num outro briefing mais amplo, também de março, o Pentágono estimava 220.000 (baixas russas) e 120.000 (baixas ucranianas) desde o início da guerra. Mas “baixas” é o somatório de militares retirados da linha de frente por doenças, ferimentos ou morte. Os números que vinham sendo dados até dias atrás confundiam “baixas” com mortes.

Sendo assim, o título do quadro é “Total Assessed Losses”, o que significaria que houve acesso a documentos que comprovariam tais números, em ambos os lados e aí seria uma indicação para a espionagem americana estar operando onde estão os dados de guerra russos. Seriam então, desde fevereiro de 2022 entre 35.500 e 43.000 mortes do lado russo e entre 16.000 e 17.500 mortes do lado ucraniano. É preciso recordar que a invasão russa contou com 150.000 militares somando marinha, exército e aeronáutica e foram 220.000 baixas, portanto praticamente toda a força invasora se perdeu e seus substitutos foram duramente atingidos. Estes números são muito mais realistas do que 200 mil mortos de um lado e 150 mil do outro.

Teriam sido abatidos 72 caças ou aviões de ataque ao solo e 82 helicópteros russos, enquanto a Ucrânia teria perdido 60 caças ou aviões de ataque ao solo e 32 helicópteros, o que mostra porque as operações aéreas quase não estão existindo nos últimos meses.

O briefing de 1/mar/2023 também mostra que os russos teriam perdido 6.004 veículos sem especificar quais. Não mostra as perdas de veículos ucranianas, mas mostra que a Ucrânia perdeu 11 baterias de mísseis antiaéreos de longo alcance e 34 de médio alcance. Números estes que nunca apareceram nos comentários diários sobre a guerra nas mídias sociais civis e mostra uma boa performance dos russos em neutralizar ameaças aos seus aviões. E são apenas estes os números divulgados. Curiosamente blogueiros pró-Rússia editaram a imagem deste quadro até de forma estúpida mudando o número de aeronaves perdidas de 72 e 82 para 7 e 8 respectivamente, o número de veículos perdidos de 6.000 para 600, a quantidade de baterias antiaéreas foi praticamente dobrada, e a linha das perdas ucrânias foi para o lugar das perdas russas, e as ucranianas foram ampliadas para 71.500 mortos. Típico da guerra de fake news.

O segundo documento mais importante é altamente comprometedor mostrando a situação diária da força aérea ucraniana, com o número de aeronaves por tipo e o número de defesas antiaéreas por tipo, a quantidade de mísseis em estoque, além de avaliações por escrito. Este é um documento valioso para os Russos.

O documento principal é o denominado “US Allied & Partner UAF Combat Power Buildup” (EUA, Aliados e Parceiros, Aumento do Poderio de Combate o Exército Ucraniano). Denominado apenas como “secreto” e com cópia para Finlândia, Ucrânia, FVEY (Five Eyes – Aliança de Inteligência Militar, composta por EUA, Inglaterra, Canadá, Austrália e Nova Zelândia) e OTAN.

Este documento mostra não só quais veículos militares estão sendo, foram ou serão enviados para a Ucrânia, quais brigadas receberão quais equipamentos, a linha de tempo das entregas entre janeiro e março 2023, quais países estão treinando as brigadas ucranianas e a porcentagem do treinamento finalizado até o dia às 18h do dia 23/fev/2023, visando a “ofensiva da primavera” em abril, o mês em que estamos.

Os números são superiores ao que os canais privados vinham noticiando e os modelo, consideravelmente mais variados com a inserção de blindados de transporte de tropas não só norte americanos, como britânicos, canadenses, alemães, australianos e eslovacos (estes, material soviético). Estariam sendo preparadas para a ofensiva de abril 12 brigadas, das quais 3 treinadas na ucrânia, por ucranianos e as outras 9 treinadas pelos EUA na Alemanha, pela Polônia, Inglaterra e a própria Alemanha. Seriam equipadas com 253 tanques de guerra, 381 blindados de transporte de tropas com esteiras (todos M113A3 muito velhos que não deveriam ir para um campo de batalha moderno e serão um caixão de alumínio para 12 soldados), 480 blindados de transporte de tropas com pneus, 147 canhões autopropulsados e 571 Humvee blindados (4 homens) da última geração disponível (deixou de ser o principal veículo desta categoria nos EUA em 2019).

No dia 23 de fevereiro, das 12 brigadas, uma estava com 60% do treinamento concluído, outra com 40%, a terceira com 20%, a quarta com apenas 10% e as outras oito não tinham começado o treinamento.

Opinião de José Roitberg – jornalista e pesquisador.

Abaixo, de forma ilustrativa, alguns dos veículos menos conhecidos que o plano de aumento de poderio do exército ucraniano (acima) definiu. Fotos oficias dos exércitos americano e britânico em domínio público. São apenas uma referência, não necessariamente os modelos que a Ucrânia vai receber, principalmente quando aos kits extras de blindagem.

José Roitberg

José Roitberg é um jornalista brasileiro e pesquisador em história, formado em Filosofia do Ensino sobre o Holocausto, pelo Yad Vashem de Jerusalém.