IsraelÚltimas notícias

Defendendo Itamar ben Gvir no Monte do Templo

O atual Ministro da Segurança Nacional de Israel não fez nada de errado em relação aos árabes e ao islã. Já as lideranças mundiais, inclusive o Brasil e os Estados Unidos, promoveram uma reação exacerbada e dissociada da realidade “culpando” o ministro israelense por uma agressão aos palestinos. Itamaraty definiu a caminhada de “incursão”.

Existe lei e existem acordos em Jerusalém que permitem e promovem uma convivência pacífica entre todas as religiões. Claro que quando um árabe muçulmano israelense ou palestino decide ir esfaquear judeus em Jerusalém ou manda seu filhos menores de idade esfaquearem judeus em Jerusalém, não existe convivência possível e o crime precisa ser interrompido, antes, durante ou punido posteriormente.

Leve em conta que para boa parte dos palestinos, esfaquear um judeu (com técnicas ensinadas pela TV oficial palestina) não é crime, mas uma ação de martírio por Allah. São heróis e não assassinos.

Ben Gvir, por anos incentivou e promoveu a ida de judeus ao todo do Monte do Tempo ou seja, à Esplanada das Mesquitas para rezar. Provavelmente proferir o Shemá e alguns salmos. Ele avisou que ia, se comprometeu com o primeiro-ministro a não ir, e em seguida foi. Aqui temos um exemplo claro do que venho escrevendo a semanas: quem está enganando quem, quem está mentindo para quem nessa coalizão intragável que hoje governa Israel.

Pela verdade: e isso é muito importante. Ben Gvir apenas deu uma caminhada curta de 15 minutos pela Esplanada das Mesquitas acompanhado por assessores e seguranças ministeriais. Não existiu qualquer incidente com os muçulmanos que lá estavam.

Apesar da maioria dos judeus “achar” que Jerusalém é indivisível, isso é o que pretendem que seja, e não o que é. Jerusalém Velha é dividida em bairros étnico-religiosos muito bem delimitados e a Jerusalém Nova também, possuindo ainda a área árabe de Jerusalém Oriental. E a Esplanada das Mesquitas apesar da maioria dos judeus “achar” que pertence a Israel, é administrada pelo Waqf da Jordânia.

Ou melhor, pelo “Department of the Jerusalem Awqaf and Al-Aqsa Mosque Affairs”, em tradução liberal Departamento de Ativos (imóveis e moeda) de Jerusalém e Assuntos da Mesquita de Al-Aqsa, em cuja direção está o “Islamic Awqaf Council” o Conselho Islâmico de Ativos, nomeado pelo Rei da Jordânia. Uma ou outra forma de Waqf existiu ali desde o ano de 1187 quando os muçulmanos expulsaram em definitivo os Cruzados de Jerusalém. Domínio que viria a cair apenas em dezembro de 1918.

Vai surpreender a maioria dos leitores, mas o acordo com a Jordânia foi definido após a Guerra dos Seis Dias em 1967. Israel é responsável pelos acessos. Jordânia é responsável pelo que acontece em cima: praça monumental, Mesquita de Al-Aqsa, Domo da Rocha e Al-Burak. Os palestinos não tem qualquer mando lá e Mahmud Abbas assinou um acordo formal com o rei Hussein, em 2013, aceitando o mando da Jordânia sobre a área. Todo o financiamento do Waqf e da manutenção da Esplanada é aportado pela Jordânia.

PORTANTO, A IDA DE UM ISRAELENSE JUDEU A ESPLANADA DAS MESQUITAS É UM ASSUNTO ENTRE ISRAEL E JORDÂNIA e não entre Israel e os palestinos.

Ademais a presença de judeus na Esplanada das Mesquitas é ABSOLUTAMENTE PERMITIDA pela Jordânia. Em todas as vezes em fui à Jerusalém eu fui à Esplanada e entrei no Domo da Rocha. Nenhum problema desde que se siga as normas de modéstia muçulmanas: não dar as mãos à mulheres nem beijos em mulheres. Nada diferente do que gere uma intervenção também em Mea Shearim, o bairro ultra-hareidi algumas centenas de metros distante. Quer entrar no Domo da Rocha, e deve fazer isso, tire os sapados e meias, coloque junto aos outros que estiverem do lado de fora, lave as mãos, e os pés e vá. Ninguém irá impedir. Em Al-Aqsa se disser que brasileiro, provavelmente vão deixar entrar. Se for israelense, não vão deixar.

“Anúncio e Aviso – De acordo com a Torá é proibido a qualquer pessoa entrar na área do Monte do Templo devido a sacralidade dele. O Rabinato Chefe de Israel.”

Quem de fato impede a reza judaica lá em cima são nossos rabinos. Por dois motivos. Como toda a praça tem status teológico de mesquita, não faz muito sentido fazer orações judaicas numa mesquita. Esse é o ponto prático. Mas existe também o motivo místico. A entrada de “qualquer um, de qualquer judeu no Templo (que não existe)”, para rezar, o estaria profanando. Sempre existiram placas e cartazes lá embaixo na praça do Kotel, ou coladas em Jerusalém, indicando que era proibido aos judeus subirem à Esplanada das Mesquitas, mas a proibição é NOSSA e não dos árabes ou muçulmanos. Sei que as pessoas tendem a não acreditar nisto, então estamos postando três fotos de momentos diferentes desta proibição. Aliás, para não dizerem que estão proibindo os judeus, nossos amados e amorosos rabinos chefes proibiram todas as pessoas de irem lá, sem distinção.

Por favor, leve em conta que sob as pedras do piso da Esplanada não está o Segundo Templo e sim o Templo de Júpiter, erigido pelo imperador romano Adriano após destruir a cidade de Jerusalém, no ano 135 EC. Este templo de modelo arquitetônico padronizado que foi construído em vários locais do império romano foi destruído pelo Império Bizantino cristão que ocupou a Judeia entre os anos de 313-636 EC. Quando os muçulmanos conquistaram a cidade pela primeira vez, no ano de 638, após praticamente dois anos de cerco e batalhas, toda aquela área sobre o Monte se encontrava em ruínas, como consta nas crônicas muçulmanas. Do ano 135 até 638 EC, da Roma Imperial e Roma católica, os judeus eram proibidos da habitar a região. Com o domínio islâmico, lhes foi permitido voltar.

Abaixo do templo de Júpiter está o que restou do Segundo Templo, abaixo dele o que restou da Casa de Yahwe (o Primeiro Templo) e abaixo dele o topo do Monte Sion.

As primeiras construções muçulmanas no local que eles denominam Haram al-Sharif (Santuário Nobre) começaram apenas no ano 685 e precisaram de 20 anos para serem concluídas.

Eu acredito que as pessoas podem mudar e torço para que parte da radicalização de Itamar ben Gvir se esvaneça. Na primeira peitada, ele foi bem, convenhamos.

Este é um cartaz colado junto aos hotéis de Jerusalém nos anos 1930 durante do Mandato Britânico para a Palestina. “Aviso público – por sua Eminência o Rabino Chefe de Eretz Israel A. I. Kook (o rabino Kook, mesmo, o criador do Sionismo Religioso original). Nossos caros irmãos que vêm de longe e de perto para visitar a Cidade Sagrada de Jeruslaém, estejam avisado e se lembrem de que é estritamente proibido pela Lei Judaica e pela Religião entrar na área do Templo (Haram ash-Sharif) ou subir ao Har-Habait.”
Esta placa foi colocada em 1967 após a Guerra dos Seis Dias e a foto foi tirada vários anos depois. Os termos são os mesmos, em hebraico, inglês e francês. É interessante observar que os rabinos-chefes utilizavam de acordo com “Lei Judaica”, e contemporaneamente passaram a afirmar que “está na Torá”.

Opinião de José Roitberg – Jornalista e pesquisador

Imagens: placas são de Domínio Público na Wikimedia e Ronaldo Gomlevsky junto com membro do Waqf islâmico de Jerusalém defronte ao Domo da Rocha, do arquivo Menorah, todos os direitos reservados.

José Roitberg

José Roitberg é um jornalista brasileiro e pesquisador em história, formado em Filosofia do Ensino sobre o Holocausto, pelo Yad Vashem de Jerusalém.