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Israel retira todas as tropas de Khan Yunes. O que isso significa?

A SITUAÇÃO DA GUERRA DE GAZA VIRA DE PONTA CABEÇA – vou tentar imaginar, pois explicar, não dá.

A retirada total das tropas do IDF era exigência básica do Hamas para devolver os reféns. Em todas as rodadas de negociações, a conversa terminou neste ponto. Israel se retirar para ATENDER uma demanda de negociação do Hamas, significaria dar a vitória ao Hamas, enquanto o grupo está acossado e derrotado restrito basicamente a 5 ou 6 km do sul da faixa de Gaza e uma cidade: Rafah.

As tropas foram retiradas, na noite do dia 6/abril, enquanto as novas rodadas de negociações no Cairo se iniciaram no dia 7, domingo.

A notícia inicial de que TODAS AS TROPAS HAVIAM SIDO RETIRADAS, menos uma brigada para proteger a nova estrada transversal que liga Be’eri ao litoral, não é correta, mas se originou da mídia israelense. O noticiário do Canal 12 da TV de Israel trouxe uma informação mais correta e tranquilizadora. Ficaram na Faixa de Gaza 4 brigadas: na estrada de Netzarim (esta estrada nova), no Corredor Humanitário (a estrada de quatro pistas do litoral), em Beit Hanoun e no norte próximo a fronteira com Israel. As brigadas de infantaria em Israel, dependendo da missão e necessidade são compostas por 2.000 soldados no mínimo até 5.000 soldados no máximo.

As tropas foram retiradas unilateralmente sem qualquer pressão do Hamas. Isso foi até além do que a resolução do Conselho de Segurança exigiu, que era o cessar fogo no Ramadã (termina dia 10). Obviamente sem tropas lá, não há combates diretos, portanto pode-se entender como um cessar fogo.

Curiosamente as mídias sociais do Hamas não citam nada disso. As agências de notícias do governo do Irã publicaram.

Avaliação: existem alguma possibilidades

1) Israel decidiu encerrar a guerra em Gaza – POUCO PROVÁVEL.

2) Israel decidiu retirar as tropas do sul para o norte para o conflito com o Hezbollah – POUCO PROVÁVEL, pois há outras divisões e brigadas alocadas para o norte.

3) Israel decidiu retirar-se de Khan Yunis para dar um repouso as tropas antes de atacarem Rafah, se reequiparem, analisarem táticas e equipamentos – PROVÁVEL.

4) Israel ao se retirar de Khan Yunis, abre espaço para dezenas de milhares ou centenas de milhares de civis de Gaza voltarem para lá e irem para as cidades do norte e com isso fica resolvida a questão do que fazer com os “refugiados internos” que estão em Rafah, antes de Rafah ser atacada – MUITO PROVÁVEL.

Aqui é necessária uma explicação. As imagens que recebemos de ruas, prédios e casas completamente destruídos desde o norte da Faixa de Gaza até Khan Yunis são imagens “fechadas” de áreas onde houve combate. Não houve combate em absolutamente todo o tecido urbano como as imagens dão a entender. Lamentavelmente são pouquíssimas as imagens das regiões da Faixa de Gaza onde não aconteceram combates. Ainda neste domingo, o IDF afirmou que vão voltar a funcionar 20 padarias do norte da Faixa de Gaza.

Este “achismo” meu é baseado nas informações públicas. Precisamos acreditar no governo de Israel e no comando militar do IDF. Nunca podemos esquecer que eles se apoderaram de mais de 70 milhões de arquivos digitais do Hamas, o servidor de computador deles com tudo o que havia dentro e ainda existem as informações tanto dos prisioneiros, quanto dos terroristas que se entregaram, inclusive gente em funções de comando. Portanto, é uma miríade imensa de informações sigilosas que os levam a decidir e nós apenas a imaginar.

Por José Roitberg – jornalista e pesquisador

Imagem: soldados do IDF em uma esquina em Khan Yunes um dia antes da retirada – foto de divulgação do IDF.

José Roitberg

José Roitberg é um jornalista brasileiro e pesquisador em história, formado em Filosofia do Ensino sobre o Holocausto, pelo Yad Vashem de Jerusalém.