IsraelÚltimas notícias

Ministro das relações exteriores de Israel divulga encontro com ministra líbia e a confusão fica estabelecida

Eli Cohen, 50, filho de um casal nascido no Marrocos, está no Knesset desde 2015. Foi ministro da economia e indústria entre 2017-2020, ministro da inteligência de 2020 a 2021 e atualmente é ministro das relações exteriores. É um quadro experiente e de grande qualidade do Likud aliado íntimo a Bibi Netanyahu. Desta vez lhe faltou inteligência, muita inteligência.

Neste domingo, uma notícia parecia ótima e espantosa. Eli Cohen revelou que teve um encontro com a ministra das relações exteriores da Líbia, na semana passada na Itália. Isso mesmo: Líbia. Situação sem precedentes e parecendo indicar uma reaproximação muito inesperada.

Só que o encontro era secreto e deveria ter sido mantido assim. Hoje, um dia depois, oposição e membros da coalizão de governo estão sentando o verbo no ministro das relações exteriores de Israel por ter aberto a boca, e o encontro ter sido publicado em todas as mídias israelenses como notícia positiva. Após Eli Cohen, bobamente, publicar um post nas mídias sociais dele, com cópia em árabe, que foi retirada algumas horas depois. Além do post, o ministro enviou uma declaração para todas as mídias israelenses

“Infligiu sérios danos a diplomacia israelense”, é a principal acusação dentro do próprio governo.

A ministra líbia Najla Mangoush precisou fugir do país dela, pois passaram a tentar matá-la e conseguiu ir rapidamente para a Turquia, onde está. Algumas horas depois da publicação de Eli Cohen a Naijla foi suspensa pelo primeiro-ministro líbio e passou a condição de investigada. O líder do governo líbio, Abdul Hamid al-Dbeibeh, para salvar o próprio pescoço, emitiu uma nota oficial afirmando que o encontro não foi oficial.

Rapidamente aconteceram protestos violentos em Tripoli onde o ministério das relações exteriores foi invadido e a casa da ministra, além de invadida e saqueada, foi incendiada.

Mas a história não é tão simples assim e parece ser um pouco mais bizarra. Uma fonte não identificada da diplomacia israelense disse ao jornal “The Times of Israel” que o governo líbio havia concordado com a divulgação do encontro e que a reação foi uma surpresa. Isso pode indicar que o primeiro-ministro líbio armou uma arapuca para Israel e para os ministros das relações exteriores dos dois países. Sempre é preciso um pouco de precaução com essa prática de “fonte não identificada”, porque por vezes isso é verdade, por vezes isso é uma invenção patética.

A teoria de ter sido uma arapuca ganha um tom mais firme após a declaração da Casa Branca: o episódio vai impedir outros países árabes de embarcar na normalização e matou as conversas de reconhecimento com a Líbia.

Existem várias facções que odeiam a reaproximação entre os países árabes e Israel, principalmente as muçulmanas jihadistas. Uma delas ainda domina parte da Líbia. Chega a ser curiosamente suspeita a velocidade como produziram camisetas estampadas com a bandeira de Israel e as fotos de ambos os ministros para serem queimadas nas manifestações de rua na Libia, principalmente posando para fotógrafos de agências internacionais.

Nas mídias sociais em árabe anti-israel, a ministra líbia passou a ser xingada de “sionista”.

Numa notícia relacionada, o ministro das finanças de Israel, Bezalel Smotrich declarou que não aceitará nenhuma concessão aos palestinos em troca da normalização com a Arábia Saudita. Sendo a assim, os radicais religiosos dos dois lados do conflito querem o conflito e não a solução.

Opinião de José Roitberg – jornalista e pesquisador

Imagem: em poucas horas, na Líbia, os manifestantes já estavam nas ruas com imagens dos ministros e bandeira de Israel em folhas de papel e estampadas em camisetas, prontas para serem queimadas. Papéis com bandeiras de Israel impressas também foram queimados enquanto outros com bandeiras palestinas impressas foram brandidos. Tinta colorida para impressora não falta em Tripoli. Imagem maior publicada no X por manifestante e a menor é parte de uma imagem da AP.

José Roitberg

José Roitberg é um jornalista brasileiro e pesquisador em história, formado em Filosofia do Ensino sobre o Holocausto, pelo Yad Vashem de Jerusalém.