História

Os judeus da Sérvia,uma comunidade que teve 95% de seus membros assassinados no Holocausto

Traços de assentamento judaico na Sérvia de hoje datam do reinado de Alexandre, o Grande, ou seja, do século IV AEC. Nos séculos seguintes, muitos judeus de outros países vieram para a Península Balcânica, principalmente da Espanha e de Portugal (no século XIV), mas também das áreas da atual Polônia, Lituânia, Rússia (séculos XI- XIII).

Os judeus se estabeleceram principalmente na parte norte da Sérvia, na Voivodina>

Inicialmente , como parte da Hungria, a Voivodina tornou-se um importante centro de vida e cultura judaica,  O segundo maior centro da vida judaica era Belgrado, que durante séculos foi o centro cultural e comercial da região.

A população judaica no que hoje é a Sérvia aumentou muito após as expulsões de judeus da Espanha e Portugal na década de 1490. Os judeus sefarditas foram para o leste e se estabeleceram em áreas que faziam parte do império otomano, onde foram bem recebidos. Os judeus prosperaram durante os séculos seguintes, trabalhando como mercadores e comerciantes em uma atmosfera relativamente livre de perseguição violenta ou interferência governamental.

Quando o novo estado da Iugoslávia foi criado após a Primeira Guerra Mundial, os judeus sérvios se encontraram em uma federação de estados ou entidades anteriormente separadas, cada uma com suas próprias populações, organizações, história e costumes judaicos.

Cerca de 14.500 almas de uma população pré-guerra de 16.000 judeus sérvios foram mortos durante o Holocausto produzido pelos alemães nazistas no período da Segunda Guerra Mundial. A Iugoslávia comunista pós-Segunda Guerra Mundial era uma federação de seis repúblicas – Sérvia, Croácia, Eslovênia, Bósnia-Herzegovina, Macedônia e Montenegro – governada pelo herói partizan Marechal Josip Broz Tito.

A devastação ocorrida no Holocausto destruiu a maioria dessas comunidades.

Judeus foram presos em campos de concentração e extermínio e assassinados. Antes de 1941, 33.800 judeus viviam na Sérvia, dos quais, 83% foram assassinados no Holocausto.

Em agosto de 1942, um relatório nazista declarou oficialmente Belgrado como “Judenrein” (limpa de judeus). Um número significativo de judeus se distinguiu por seus valentes esforços na luta guerrilheira antinazista contra os alemães.

Após a guerra, muitos dos sobreviventes judeus emigraram para os EUA, Canadá ou Israel.

Em 2016  o parlamento sérvio aprovou uma lei para devolver à comunidade judaica os imóveis de vítimas do Holocausto sem herdeiros que foram apreendidos pelos nazistas e depois naturalizados pelo regime comunista na Iugoslávia. A lei regula a restituição dos ativos imobiliários apreendidos dos judeus entre abril de 1941 e maio de 1945, durante a ocupação nazista na Segunda Guerra Mundial. A lei também incluiu entregar, a partir de 2017, uma ajuda de 950 mil euros anuais durante 25 anos à Associação das comunidades judaicas da Sérvia, para serem investidos em programas de investigação e educação sobre o Holocausto e assistência aos sobreviventes.

Embora não seja tão comum, os incidentes antissemitas são mais frequentemente ligados a organizações de extrema direita, torcedores de futebol e grupos cujos membros são seguidores da ideologia nazista. Esses incidentes se refletem principalmente em mensagens antissemitas, pichações, a exibição de símbolos nazistas e a glorificação de colaboradores dos ocupantes que participaram de crimes e destruíram judeus na Sérvia durante a Segunda Guerra Mundial.

Apesar da Lei de 2009 na Sérvia proibir a exibição de símbolos e símbolos neonazistas e fascistas e a realização de manifestações de organizações neonazistas ou fascistas, bem como quaisquer atividades de tais organizações, em fevereiro de 2021, uma reunião deste tipo foi realizada, quando cerca de 50 membros de uma organização de extrema direita se reuniram em frente à igreja no centro de Novi Sad.

Além disso, vários incidentes antissemitas foram relatados em Novi Sad e Belgrado em 2020 e 2021.

 “Moisés”. Escultura de Slavo Brill, importante artista plástico judeu, nascido em 1926, preso e vitimado no campo de extermínio de Jasenovac, durante o Holocausto.Foto de Ronaldo Gomlevsky.

Marcia Salomão

Publicitária, com formação em publicidade, propaganda, marketing e relações públicas, Atua nas áreas de produção editorial e assessoria de imprensa.