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Só vale quando o voto estiver contado, mas Lapid e Bennet deverão formar o governo


Quando o grupo A oferece 16 bilhões de dólares em investimentos na comunidade do grupo B, por 4 votos, em qualquer lugar do mundo seria chamado de “compra de voto”. Em Israel, ninguém reclama disto.

Tá certo que estes 16 bilhões vão girar a economia em obras de infra-estrutura e de construção civil, e vão gerar muitos empregos, aos longo de 10 anos, talvez para milhares de palestinos que entram diariamente em Israel e são artífices da construção civil. E isto é bom.

Por outro lado, o grupo A não ofertou a grupo B seu próprio dinheiro, mas a “compra” dos quatro votos foi realizada com a promessa de dinheiro público, do bolso do contribuinte israelense e daqueles cidadãos de outros países que contribuem com Israel. E não importa a ideologia de quem contribui, pois dinheiro não tem ideologia.

A maioria das pessoas está imaginando que está decidido. Mas não está. É preciso de 61 votos formalizados dados numa sessão do Knesset nos próximos 12 dias. Neste momento, não tem data definida ainda. Até o dia 7 fica na gestão do presidente Rivlin, depois com Herzog.

E qualquer coisa pode acontecer. O cenário ideal é que as negociações da coalizão fiquem firmes e os 61 votos fiquem garantidos. Mas Bibi Netanyahu está fazendo tudo para cooptar qualquer um dos 61 para inviabilizar sua saída do poder. Será que consegue? É provável que não.

Mas dentro do Likud também há uma cisão entre pró-Bibi e anti-Bibi, quase em 50%. Não se pode descartar a possibilidade de parlamentares do Likud anti-Bibi aportarem seus votos na coalização Lapid-Bennett na hora do “vamosver”.

Bennett declarou hoje que será o homem mais odiado de Israel. Pelo menos ele está coberto de razão neste ponto. Israel jamais teve um primeiro-ministro de um partido com apenas 6 cadeiras e o país entra num território político inexplorado.

Eu li a lista divulgada dos ministros e benesses da negociação, e parece ser muito coerente, positiva para Israel e quiça positiva para resolver a questão das conversões ilegalizadas na América Latina desde 1924.

E a nova-oposição? Teoricamente não existe possibilidade do Shas, UTJ e “o outro”, votarem junto com a Lista Árabe em qualquer situação. Será que vão manter esta posição mesmo quando ambos os espectros políticos precisarem votar contra o novo governo?

Isso pode abrir uma brecha de abstenções tanto pelo lado judaico ortodoxo e ultra-ortodoxo, quanto pelo lado muçulmano árabe e comunista árabe. A simples abstenção de 3 ou 4 parlamentares daria uma margem muito confortável de votos para o provável novo governo. Como dito antes: é um território político inexplorado.

É muito provável que o Likud se divida novamente, por uma quarta ou quinta vez, na medida em que saia do poder. Caso ocorra esta nova divisão o Likud deixará de ser o partido majoritário e provavelmente nunca mais obterá 30 cadeiras. É sempre preciso lembrar que o Yamina é slipt do Likud, o New Hope é slipt do Likud, o Azul e Branco é na maior parte slipt do Likud, no Yesh Atid de Lapid há ex-integrantes do Likud e o Lieberman, do Israel Beitenu era homem de confiança do Bibi Netanyahu e decidiu ter como plataforma política a remoção dos rabinos ortodoxos e ultra-ortodoxos do governo. Parece que vai conseguir.

Esses 12 anos de governo do Likud alicerçado em sua base pelos partidos religiosos fez com que as pessoas pensassem que Israel sempre foi assim. É um ledo engano. O Shas, por exemplo é um partido criado apenas em 1984. As benesses financeiras que iam para o Shas e UTJ agora irão para o Raam! Será que isso vai funcionar?

José Roitberg

José Roitberg é um jornalista brasileiro e pesquisador em história, formado em Filosofia do Ensino sobre o Holocausto, pelo Yad Vashem de Jerusalém.