IsraelÚltimas notícias

Pogrom na Cisjordânia, mas fomos nós que fizemos. Aliás, nós não: “eles-nós”

No domingo 26/fev/2023 terroristas palestinos disparam contra o carro onde estavam os irmãos judeus israelenses Hallel Yaniv, 21, e Yagel Yaniv, 19, assassinados no ataque. Aconteceu na pequena cidade de Huwara, bem no centro-norte da Judeia e Samaria. É uma cidade palestina com cerca de 7.260 habitantes.

Horas depois do ataque, colonos judeus das proximidades realizaram o que até mesmo a mídia ortodoxa em Israel nomeou como “pogrom”, incendiando carros e casas de palestinos em um ponto apenas da entrada da cidade Huwara.

Não existe fazer justiça pelas próprias mãos no judaísmo. Muito menos quando são atacadas pessoas que nada tiveram a ver com o crime. Punir inocentes por crimes de terceiros é de uma burrice sem mais tamanho. Existe uma vertente ultra-ortodoxa que está hoje com o poder político que prega abertamente que o Estado Judeu pode fazer com os outros, o que os estados católicos e muçulmanos fizeram com os judeus. Se fizermos isto, seremos “eles”, nossos inimigos, e não nós, que temos uma longa linha ético-filosófica.

Mas é o que estamos escrevendo já por meses. Ministros piromaníacos, seguidores e eleitores igualmente piromaníacos.

Nesta segunda-feira 27/fev/2023 o presidente de Israel, Isaac Herzog emitiu uma declaração duríssima condenando a “destruição violenta e cruel” em Huwara.

“Israel é um país de leis e nós temos orgulho disto. Nossos princípios e fundamentos como nação e país são totalmente opostos a quaisquer ataques contra inocentes. Eu condeno veementemente a destruição cruel e violenta contra os moradores de Huwara, ontem. Não é assim que agimos. É violência criminosa contra inocentes. Ela fere o Estado de Israel, ela nos fere e também fere os colonos. Ela fere as forças de segurança que estão trabalhando para localizar os responsáveis pelo ataque terrorista, a acima de tudo, nos fere como uma sociedade moral e um país obediente a lei.”

“Estamos em dias difíceis”, prosseguiu o presidente Herzog, pedindo aos líderes políticos e cidadãos para agir com “responsabilidade” e “seguir a lei e permitir que as forças de segurança façam o trabalho delas.”

Soldados do IDF que estavam na região e tentaram interferir no pogrom foram apedrejados por jovens colonos e conseguiram prender apenas dois deles. Inclusive um comandante de brigada estava lá e foi apedrejado também. Nas mídias sociais árabes a narrativa é inversa, afirmando que os soldados levaram os colonos para lá e os protegeram enquanto atacavam propriedades palestinas.

Ainda na segunda (27/fev) pela manha o parlamentar Zvika Fogel, do partido ortodoxo de extrema-direita Otzma Yehudi (Força Judaica), que é o presidente do Comitê de Segurança Nacional do Knesset (algo completamente absurdo), em entrevista à rádio Galei Israel declarou que “Ontem, um terrorista veio de Huwara. Pronto, Huwara queimada. É isso que eu quero ver. Este é o único caminho para obter ‘deterrence’ (intimidação para o inimigo não atacar). Depois de um assassinato como o de ontem não precisamos queimar vilas quando o IDF não age.”

A oposição liderada por Yar Lapid acusou o governo de Netanyahu de alimentar o “terrorismo” por parte dos colonos. Disse ainda que o governo perdeu o controle  que Israel está “a beira de um desastre de segurança.”

E Bibi continua afirmando em público que mesmo com todas as leis que quer e vai aprovar, não se transformará num ditador nem Israel será um estado Haláchico (pelas leis da Torá). Cada vez mais difícil de defender esta fala.

Pesquisas de opinião pública divulgadas neste domingo 26/fev, antes do ato terrorista e da vingança, davam ao Likud menos nove cadeiras se novas eleições fossem ontem, encerrando esta possibilidade de coalizão. Mas já sabemos que pesquisas da mídia podem não corresponder à realidade.

Nesta segunda-feira um jovem palestino de 17 anos foi preso após postar no Tik Tok elogios aos terroristas de Huwara e afirmar que ia entrar num kibutz e massacrar todos os judeus.

Opinião de José Roitberg – jornalista e pesquisador.

Imagem: captura de vídeo postado por morador de cidade de Huwara no Twitter.

José Roitberg

José Roitberg é um jornalista brasileiro e pesquisador em história, formado em Filosofia do Ensino sobre o Holocausto, pelo Yad Vashem de Jerusalém.