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Crise em Israel 1: a saúde de Bibi Netanyahu e as mentiras

Na madrugada deste sábado para domingo, implantaram um marcapasso no primeiro-ministro israelense. O comunicado do hospital foi divulgado as 4 da manhã de domingo horário de Israel.

A surpresa do procedimento, poucos dias depois de ter sido colocado nele um holter subcutâneo para monitorar o coração foi menor que a continuação do relatório dos médicos pela manhã de domingo. Tudo amplamente divulgado pela mídia israelense. O quadro atual foi mostrado às claras e às claras, ficou comprovado que a condição médica verdadeira de Bibi Netanyahu foi deixada às escuras pelos últimos sete anos.

O primeiro-ministro deve apresentar publicamente um relatório de saúde anual. Não é lei. Apenas um protocolo do cargo. E desde 2016 Bibi omitiu o relatório. Omitir é mentir? Para alguns sim, para outros não. Mais especificamente, para os opositores sim, para os apoiadores não.

O chefe da cardiologia do hospital Sheba, afirmou que o marcapasso foi colocado numa ação emergencial pois havia risco de vida para o primeiro-ministro. Marcapassos são colocados quando existe a condição de bradicardia, ou seja, ritmo cardíaco muito lento, que pode levar a uma parada cardíaca ou infarto.

No caso específico a condição cardíaca era conhecida pelos médicos e pelo paciente desde 2016, pelo menos e isso não ter vindo a público é uma a omissão.

Mas desde que Bibi passou mal no Lago Kineret, no sábado passado, não aconteceram omissões, e sim mentiras. Desidratação: foi uma desculpa para ida ao hospital. Exames todos oks: mentira da equipe médica pois neste domingo o comunicado oficial foi de ter sido encontrada uma anomalia no eletrocardiograma, o que levou a decisão da implantação do holter. Apenas exames de rotina: não, foi submetido a um cateterismo para verificação de danos ao músculo cardíaco e válvulas. Não desmaiou em casa, é fake news: sim, desmaiou em casa conforme comunicado do Sheba. O primeiro-ministro está bem: não, existia uma suspeita de evolução grave do quadro cardíaco, tanto que o holter subcutâneo foi implantado. Todas as declarações oficiais à imprensa e à nação israelense divulgadas pelo Sheba e pelo gabinete do primeiro-ministro no sábado e domingo da semana passada foram mentiras, já desfeitas documentalmente.

E foi esta decisão CORRETÍSSIMA que pode ter salvado a vida de Bibi Netaynahu no meio da noite de sábado. O dispositivo detectou a condição perigosa e ele foi rapidamente encaminhado ao hospital e submetido a instalação do marcapasso.

Existem oito doenças cardíacas que podem diminuir o ritmo do batimento do coração. O pronunciamento do hospital Sheba afirmou que ele tem “transient heart block” (bloqueio cardíaco transitório), provavelmente de segundo grau, que é o que causa a diminuição do ritmo cardíaco. Trata-se de um bloqueio do sinal elétrico enviado pelo cérebro e não um bloqueio dos vasos sanguíneos. Mais conhecido por arritmia cardíaca. As causas são várias, desde alguma doença de fato, condição congênita, uso de medicamentos como beta-bloqueadores, até mesmo o stress (aumenta a formação das placas nas veias e artérias). O tratamento para o grau dois é especificamente o marcapasso.

Com o marcapasso Bibi não terá mais o problema. Mas o ponto crucial é simples: já ouviu o leitor falar de algum líder mundial portador de marcapasso? Pois é. Não tem. Este é um terreno inédito, pois o marcapasso exige também o uso de anticoagulante. A posição de um primeiro-ministro não é uma posição de campo de batalha, portanto, o anticoagulante não pode ser alegado como um fator limitador da capacidade de liderança. De fato, nem o dispositivo, nem o medicamento, em princípio interferem com a capacidade de dirigir um país.

Mas a recomendação médica protocolar é só retomar as atividades em 30 dias, coisa que Bibi dificilmente atenderá. Está em vigor, aprovada pela coalizão de governo, a lei que permite a remoção do primeiro-ministro apenas se ele não tiver condições de saúde física ou mental para permanecer no cargo e o novo embate ente oposição e coalizão acontecerá neste ponto. Me causa espanto ainda não ter iniciado.

Opinião de José Roitberg – jornalista e pesquisador

Imagem: Bibi Netanyahu foto mais recente publicada no dia 23-jul-2023 pelo GPO – foto de Amos ben Gerson

José Roitberg

José Roitberg é um jornalista brasileiro e pesquisador em história, formado em Filosofia do Ensino sobre o Holocausto, pelo Yad Vashem de Jerusalém.