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Crise em Israel 2: oposição vai para o lado errado

56 parlamentares dos partidos israelenses em oposição ao governo realizaram um “walk out”, abandono intencional do plenário antes da terceira votação do fim da irrazoabilidade para as decisões da Suprema Corte, permitindo ao governo um placar horrível de 64 a zero.

Assusta verificar que os pretensamente inteligentes membros da oposição decidiram pela pior das soluções. Alguns podem dizer: vai ficar marcado para sempre que protestamos e não reconhecemos o resultado. Outros dirão: vai ficar marcado para sempre que vocês preferiram se abster ao lutar até o fim, mesmo com a certeza de derrota. Ou será que o walk out significa que agora vai ser no conflito aberto?

Analogia da época do bullying politicamente correto. Sabe aquele garoto que vai tomar porrada de cinco outros mais velhos e ao invés de se defender como puder, sai correndo?

Mas, diriam ainda outros, abandonar o plenário retira a legitimidade do voto vencedor.

Existem dois ótimos exemplos de abandono de plenário na história recente. Um deles foi quando a oposição venezuelana decidiu não participar das eleições, dando ao Hugo Chávez não a maioria do congresso, mas a totalidade das cadeiras. Com isso, toda a sociedade da Venezuela pode ser virada de cabeça para baixo dento da legalidade do voto de congressistas eleitos livremente e com isso aprovaram formas de se manterem no poder indefinidamente. Nenhuma das leis da constituição bolivariana foi questionada ou negociada, pois não havia oposição eleita. Situação muito diferente de Cuba e China onde o voto é em congressistas de um partido único. Mas o resultado é o mesmo. A oposição fica quicando, falando em ditadura e não reconhecendo o governo, e o governo defeca para isso pois tem o poder de fato e as leis que criou. A oposição se retirar totalmente quando não é expulsa é de uma burrice a toda prova.

O segundo exemplo é mais antigo e devido a ele estamos discutindo Israel hoje. Foi a votação da ONU da Partilha da Palestina do Mandato Britânico, em 1947. Todos os países árabes, sabendo que iriam perder, realizaram um “walk out” da Assembleia Geral e não votaram. De fato, foram votados dois planos de partilha. O proposto pelos árabes não recebeu nenhum voto, nem mesmo o deles. Igual aos venezuelanos 60 anos depois, os árabes determinaram que a votação foi ilegítima. Mas isso não importou para os judeus que fundaram o Estado de Israel na área destinada aos judeus da partilha. Já os árabes que abandonaram o voto e se abstiveram, atacaram o Estado Judeu com a intenção aberta de o destruir e exterminar os judeus lá, no dia seguinte da Proclamação da Independência de Israel. Abandonaram a sessão, optaram pelo conflito armado e perderam. De fato, perderam quatro vezes seguidas em 25 anos. No vigésimo oitavo ano, o primeiro país árabe, o Egito, reconhecia Israel e de lá para cá viemos até os Acordos de Abraão.

A lição é simples: quando a oposição tenta deslegitimar a situação ou a maioria, se abstendo, se ferra. A lei está aprovada. Nenhuma nova lei da reforma judicial poderá ser questionada sobre o princípio da irrazoabilidade. Nenhuma decisão ministerial poderá ser questionada idem. É a nova realidade e por culpa de todos os políticos da direita política israelenses que preferiram ir para a oposição ao invés de se manterem no Likud que poderia governar sozinho sem estar atrelado aos religiosos.

Opinião de José Roitberg – jornalista e pesquisador

Imagem: meme sobre o 64 a zero que a oposição proporcionou no Knesset, do autor.

José Roitberg

José Roitberg é um jornalista brasileiro e pesquisador em história, formado em Filosofia do Ensino sobre o Holocausto, pelo Yad Vashem de Jerusalém.