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Direita radical vai derrubar Netanyahu? Que notícia é esta?

Neste domingo participei de uma live com o Ronaldo Gomlevsky sobre a origem das agressões árabes muçulmanas contra os judeus na Palestina do Mandato Britânico, desde o ano de 1920, portanto nada tendo a ver com a existência do Estado de Israel, e sobre a atuação da esquerda judaica e não judaica no Brasil contra Israel e a favor dos palestinos.

Uma das perguntas que Ronaldo fez no início e no final da live, foi o que se podia esperar da esquerda em relação a formação do provável próximo governo de Israel contendo os partidos de esquerda Avoda e Meretz na situação e não na oposição. Os quadros judaicos da esquerda ligados ao Meretz vão parar de tripudiar sobre a bandeira de Israel no Brasil?

Os partidos políticos comunistas-socialistas brasileiros vão continuar pregando a Solução de Um Estado Laico, como se fosse possível um estado muçulmano laico? Respondi que não: os ataques vão continuar.

Para entender a ojeriza da esquerda por Israel, além de manterem as últimas instruções do Kremlim comunista soviético em vigor – pois ninguém em Moscou apagou a luz ou desfez as últimas ordens e orientações – há uma vertente evidentemente antissemita e sugerimos a leitura do artigo de opinião do jornalista J. R. Guzzo, publicado no jornal O Estado de São Paulo no último dia 30 de maio “O veneno antissemita”. É a opinião muito fundamentada de um não-judeu, portanto, mais contundente que a nossa posição de autodefesa.

O exemplo de minha resposta dada na noite do dia 30, já havia sido redigida pela agência de notícias France Press, como uma fake news racista e diabólica comprada, paga e publicada pela Globo: “Líder da direita radical de Israel se une a coalizão anti-Netanyahu”, com referência a Naftali Bennett.

O Benet não é o que se denomina como extrema-direita em Israel: ele é um sionista conservador. Isto é uma falácia da mídia brasileira nas notícias de hoje. Bennett é um judeu ortodoxo. A Ayelet Shaked também. Mas são pessoas modernas, não retrógradas. Ela foi excelente ministra da Justiça e ele, entre outros cargos, ótimo ministro da educação. O partido Yemina foi criado para distanciar os Ortodoxos positivos e Sionistas dos ortodoxos negativos, exclusivistas e ultranacionalistas do Shas, UTJ e dessa nova coalizão pútrida autodenomina de Sionista. O partido Yemina é de centro-direita conservador e absolutamente sionista contendo duas vertentes principais: a ortodoxa contemporânea e a secular.

Ao definir para os leitores que o Yamina é da extrema-direita, a mídia mente forma descarada, estudada e intencional, para confundir os leitores, igualando Bennett Shaked aos rabinos políticos do Shas, do UTJ e do Partido Religioso Sionista, legenda fajuta sob a qual se abrigam os políticos ortodoxos kahanistas e piores que os kahanistas. É deste último grupo que surgiu toda a violência anti-árabe em Israel nas últimas semanas, imaginando que iriam permanecer no poder.

Na possível nova coalizão de governo que precisa ser apresentada até a meia noite do dia 2 de junho e votada no Parlamento ao longo do dia 3 de junho, portanto na próxima quinta-feira, estão os seguintes partidos

Yesh Atid: de Yair Lapid, centro, sionismo liberal.

Azul e branco: de Gantz, centro, sionismo liberal.

Yisrael Beitenu: de Liberman, centro-direita, sionismo revisionista, secularismo.

Yamina: de Bennett, conservadorismo nacionalista, sionismo revisionista.

Meretz: de Nitzan Horowitz, esquerda, sionismo trabalhista, social democracia, filiado à Internacional Socialista.

Avodá: de Amir Peretz, esquerda, sionismo trabalhista, social democracia.

Nova Esperança: de Gideon Sa’ar, centro-direita, nacional liberalismo, sionismo.

Esta coalizão entre direita, centro e esquerda, entre sionismo trabalhista, sionismo liberal e sionismo revisionista (volta aos ideais de Theodor Herzl) é a única possível, todavia, coloca-la em prática no dia-a-dia exigirá um esforço imenso, principalmente por passar a ter toda a ortodoxia e ultra-ortodoxia alicerçadas nos três partidos, hora em coalizão com o Likud, na oposição e isso se verá nas ruas.

Não tenha a dúvida que os seguidores de Bezalel Smotrich, que prega um Israel regido apenas pela Torá, de Itamar Ben-Gvir, kahanista que prega a expulsão dos árabes de Israel, e de Avi Maoz, que além de pregar pela expulsão dos árabes, tem como principal plataforma política as ações anti-LGBT, vão para a rua implementar a violência. Desta vez, é muito provável que a violência não seja apenas contra árabes, mas também contra judeus seculares. Todavia, como não estarão mais no governo, a polícia irá com tudo para cima deles. Estes três aí é que são os líderes ultra-direitistas, jamais o Bennet.

Como dito acima, aqueles partidos só oferecem 57 das 61 cadeiras necessárias. O Raam, partido árabe muçulmano antissionista, não faz parte da coalizão. Mas se comprometeu a dar os 4 votos na sessão formal do Knesset no dia 3.

Eu não me surpreenderia, se no momento da votação o Raam se abstivesse para não permitir a formação de governo a fim de aprofundar a crise de governança israelense. Dois meses atrás eu escrevi um artigo intitulado O Golpe de Mestre de Abbas e tomei cacetada de tudo quanto é lado. O Raam é um partido em Israel, da família-tribo Abbas.

Neste instante, e era o que o artigo previa, a formação de governo em Israel está exclusivamente nas mãos do líder palestino, que prega a não cooperação com Israel. Pode ser que haja um acordo secreto ou público com os líderes da direita citados acima para fortalecimento da Autoridade Palestina frente ao HAMAS (sugerido ao final da guerra recente pelo Gantz e pelo comandante do IDF), então Abbas liberaria os quatro votos e retiraria do poder o Likud, o Bibi, e todos os partidos religiosos. Serão 3 dias complicados.

Caso não seja concretizado um governo, o Knesset terá 28 dias para formar um grupo de 61 votos, o que continuaria sendo impossível e então seria convocada a sexta eleição que continuaria a não resolver o problema. Caso haja uma sexta-eleição o Likud vai tentar aprovar uma mudança na legislação introduzindo a eleição direta em dois turnos para primeiro-ministro.

Como latino-americano é minha esperança que essa coalizão aconteça pois com Shaked na posição já anunciada de Ministra do Interior, poderá e deverá ser anulada a posição do Shas, e atualmente a posição oficial de Israel, sobre o não reconhecimento de todas as conversões ao judaísmo realizadas em toda a América Latina desde 1924 (decisão esta do Shas, tomada com validade retroativa eliminando juridicamente tudo que aconteceu neste quesito mais de 80 anos depois). Quando e se esta decisão for revogada, pois era um compromisso de Lapid e Gantz quando formavam juntos o Azul e Branco, será um dia de volta à normalidade judaica

Num assunto lateral, mas relacionado, as lideranças ultra-ortodoxas estão impedindo a realização do inquérito sobre as mortes dos ultra-ortodoxos na festa de Shavuot no Monte Meron. Segundo analistas na mídia israelense, os líderes teriam recieo de serem responsbilizados criminalmente: inquérito já!

Opinião de José Roitberg – jornalista e pesquisador.

José Roitberg

José Roitberg é um jornalista brasileiro e pesquisador em história, formado em Filosofia do Ensino sobre o Holocausto, pelo Yad Vashem de Jerusalém.