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E os abrigos para guerra nuclear da Ucrânia?


A Ucrânia foi preparada para ataques nucleares durante a Guerra Fria. Não só fazia parte ativa do sistema de ataques atômicos contra o ocidente, como fornecia 90% do yellow cake, o pó de urânio utilizado nas centrífugas para ser enriquecido e obter urânio em grau de armamento.

Quando vc ouvir no noticiário da guerra, o nome Kamianske, levante as orelhas. Lá era produzido o yellow cake, dentro de uma. das cidades secretas soviéticas. Foi desativado e sucateado a partir de 1991. É tudo como o local mais radioativo da Europa. Fica 85 km ao norte de Zaporitza, já ocupada pelos russos.

A URSS possuiu várias cidades secretas que não estavam nos mapas públicos e não eram de conhecimento geral, a maioria relacionada aos programas de armas nucleares. A característica delas era uma qualidade de vida elevada e acesso a produtos ocidentais que inexistiam para a população em geral.

Todas as grandes cidades ucranianas possuem sistemas completos de bunkers construídos pelos soviéticos, divididos em áreas militares, áreas de administração e serviços públicos e áreas para a população civil.

Desde o início da guerra os bunkers não entraram nos noticiários. Mas eles estavam, pelo menos na Europa, em janeiro. Artigos da BBC e CBC davam conta de que Zelensky estabeleu um grupo de trabalho para verificar, reativar, preparar e estocar todos os bunkers de Kiev e das principais cidades.

Ao longo dos anos a maioria dos bunkers deixaram de ser propriedade pública e foram ocupados por moradores, comércios, restaurantes e bares. Em Kershon, 17 dos 139 abrigos eram públicos antes da guerra.

Vários estavam trancados. Muitos estavam inundados. Um relatório de dezembro 2021 dizia que apenas 11% dos 21.000 bunkers da Ucrânia estavam em condições de uso imediato.

Karkiv tem 4.300 instalações de subsolo. Kiev possui 4.500. o número inclui cerca de 15% de bunkers e o restante, de porões.

Com essa informação dá para entender porque havia 1.500 pessoas naquele bunker debaixo do teatro de Mariupol atacado pelos russos.

Leve em conta que nos bunkers mantidos intocados, os móveis, camas, equipamentos, eletrodomésticos, telefones, fiação elétrica, fuziveis, encanamentos, são dos anos 1950 a 1970, talvez alguns dos anos 1980.

TENTANDO ENTENDER O ATAQUE AO TEATRO EM MARIUPOL

Mentir para o inimigo faz parte de qualquer guerra.

Existem 21.000 bunkers para guerra nuclear construídos na Ucrânia no período soviético. É lícito imaginar que ao se preparar para invadir o país, o relatório de informações russo tenha um caderno gigante com localização, planta, capacidade e acessos de todos eles.

Um bunker para 1.000 ou 1.500 pessoas é enorme.

Imaginar que os russos não sabiam que existia um enorme bunker sob o teatro é irreal.

Mas, o bunker não foi atacado, e sim o teatro. Se alvo fosse o bunker, deveria haver o primeiro ataque para demolir o teatro e depois uma bomba o míssil penetradora de bunker teria matado todos os mil ou mais que estavam lá.

É possível que os russos tenham atacado o teatro dentro de uma estratégia espúria de destruir uma a uma todas as edificações de Mariupol, sem saber da existência do bunker? Possível mas pouco provável.

É possível que a Ucrânia tenha atacado o teatro com a certeza de que as mil pessoas estariam seguras no bunker para culpar os russos pelo ataque? Sim, é possível.

É possível que a Rússia tenha atacado o teatro, sabendo do bunker para culpar os Ucrânianos pelo ataque? Sim, é possível.

Tudo permanece nebuloso, mas as notícias russas de hoje dão conta que as tropas estão se retirando para a Bielorrusia para reabastecer, o que seria uma estupidez tática, perdendo todo o território obtido a custa de sangue e aço queimado ao longo de um mês, indicando que a logística de fato foi comprometida. Se estas tropas voltarem a se dirigir a Kiev, vão enfrentar uma defesa ainda mais forte e capacitada e precisar reconquistar todas as dezenas de km de território da Ucrânia que estão abandonando.

Opinião de José Roitberg – jornalista e pesquisador

José Roitberg

José Roitberg é um jornalista brasileiro e pesquisador em história, formado em Filosofia do Ensino sobre o Holocausto, pelo Yad Vashem de Jerusalém.