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Eleições em Israel nesta terça. Pesquisas indicam mesmo beco sem saída

Todas as pesquisas em Israel indicam a vitória do Bibi Netanyahu e do Likud, novamente, e novamente, novamente, novamente, novamente, pela quinta vez em três anos, a impossibilidade do vencedor formar o governo, desta vez por uma cadeira. A solução continua a mesma e impossível: para a direita se unir, Bibi Netanyahu precisa sair. A direita política unida teria o número suficiente de cadeiras para governar sem qualquer dos três partidos religiosos.

Nem vale mais a pena discutir o nó, ou beco sem saída que se tornou a democracia israelense. Uma esquerda insignificante de um partido Meretz que conseguiu destruir apenas o governo do qual participava, o atual.

Uma direita oriunda do mesmo partido, fragmentada em apoiadores deste ou daquele líder de votos, com este eu me sento, com aquele eu não sento, e três ramos religiosos ortodoxos lutando para tirar uma cadeira um do outro.

E as pesquisas dão como grande vencedor entre os religiosos, o partido mais radical de todos, com o qual não poderia haver qualquer negociação. Ele se denomina “sionismo religioso”, mas é um partido exclusivista radical que prega abertamente um Estado de Israel sem árabes regido apenas pelas leis da Torá. E isso não é o que imagina o mundo judaico ou a grande maioria da população de Israel.

O que ninguém consegue entender e ninguém consegue explicar é como o voto por esta proposta vem aumentando a cada eleição e de onde vem os votos. Ninguém pode imaginar que trabalhistas socialistas do Avodá, e socialistas-comunistas do Meretz se transmutaram em religiosos supremacistas. Será que estes partidos minguaram e os votos deles foram para o Likud, já os mais radicais do Likud passaram a votar numa agenda supremacista religiosa?

Na eleição passada um leitor amigo me confrontou com a seguinte questão: como você pode criticar uma aliança com judeus para governar Israel, enquanto saúda uma aliança com árabes que querem destruir Israel para governar o país? E o leitor tem razão. A aliança com os árabes era repudiada por metade do eleitorado israelense e não deu certo.

Já a aliança com os partidos judaicos ortodoxos só deu certo para estes partidos e não para o Estado e é repudiada pela outra metade do país. Isso se configura para os próximos dias, com um agravante: para aportar o apoio enorme de 12 talvez 13 cadeiras, Itamar ben Givir exigiu e Bibi Netanyahu concedeu o cargo de Ministro da Polícia (ou da Segurança Interna). Não se pode imaginar o que virá daí.

Um kahanista aberto e conhecido que prefere atirar primeiro e perguntar depois, comandando a segurança interna de Israel pode resultar em uma situação dramática. Ademais, este partido, em troca, também pretende passar uma lei anulando os indiciamentos de Bibi Netanyahu, que consegue empurrar seu julgamento há anos, não permitindo o desfecho da questão.

E se achávamos que tal coisa era impossível, bem, é só olhar pelas nossas janelas no Brasil e ver que sim, com o ativismo judicial é bem possível anular indiciamentos, processos, provas e condenações, ao arrepio das leis de qualquer nação.

Uma das promessas de campanha de Netanyahu, veja se pode, é cancelar o acordo de fronteira marítima recém assinado com o Líbano.

Soldado escolhendo o papelzinho com a sigla do partido em que irá votar, em 2021. O papel será colocado no envelope, e este, na urna. Foto de divulgação do IDF.

Existe um problema gravíssimo com esta quinta eleição sem previsão de desfecho em pouco mais de dois anos. O custo. E não vamos encontrar ‘nenhunzinho’ só comentarista político ou jornal israelense criticando ou mostrando o somatório dos gastos até o momento. Para o leitor imaginar os valores, o dado oficial que se tem para esta eleição é que cada voto terá um custo de 79 dólares. Vejam só. Existe a montagem e operação das eleições, existe a gráfica, pois lá o eleitor pega num escaninho um papel padronizado com a sigla de seu partido e a coloca na urna. Eu nunca soube quantos papeizinhos destes são impressos. Se alguém souber, serei todo ouvidos. Mas imagine o número de eleitores, multiplicado por 34 partidos, tendo que ter o mesmo número em excesso de papéis para cada partido. São muitos milhões de papéis, que não são cédulas.

Perceba que as gráficas que produzem isto, faturaram em três anos o que deveriam faturar em 20 ano anos (cinco eleições normais), então para elas, a indefinição está ótima. Como também para os partidos, pois por lei, para cada eleição cada partido tem direito à verba eleitoral, portanto também receberam em três anos o que iriam receber em vinte. A sociedade israelense simplesmente não está se importando com estes custos.

Opinião de José Roitberg – jornalista e pesquisador

Imagem: ilustrativa eleições em Israel

José Roitberg

José Roitberg é um jornalista brasileiro e pesquisador em história, formado em Filosofia do Ensino sobre o Holocausto, pelo Yad Vashem de Jerusalém.