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Festas judaicas com risco real em Uman e em outros lugares

O Ano Novo Judaico acontece no próximo domingo. Até lá, a situação de 20 mil a 30 mil peregrinos hassídicos a cidade de Uman, no centro-sul da Ucrânia terá sido decidida para o bem ou para a desgraça.

Para entender o motivo os peregrinos hassídicos recusarem o pedido de Israel para não irem para a Ucrânia, recusarem o alerta da Rússia para não irem para a Ucrânia, e também recusarem os alertas de pedidos do próprio governo ucraniano para não irem para a Ucrânia, devemos entrar em considerações desagradáveis.

Para a maior parcela dos judeus ortodoxos e ultra-ortodoxos, entre estes, os hassidim do rabino Zalman de Liadi (enterrado em Uman), tudo, absolutamente tudo, emana de Deus. Nesta visão que elimina a razão, a física, a química, a história e a política, o que acontecer de normal e positivo é uma benção e o que acontecer de negativo “é um decreto amargo”.

Se um avião de peregrinos for abatido por engano ou intencionalmente, se a Rússia mandar um míssil contra Uman para acusar a Ucrânia, ou a Ucrânia mandar um míssil contra Uman para acusar a Rússia, isso será um decreto amargo do Deus de Israel punindo pecadores entre os religiosos que morrerem ou ficarem feridos. Os que sobreviverem não são pecadores. É muito estranho falar nisso, mas é o que eles pensam.

Eu, como comentarista e analista, tenho certeza de que nenhum peregrino, ou praticamente nenhuma pessoa teve o interesse de observar a Zona de Exclusão aérea devido à Guerra da Ucrânia. A imagem deste post é da tela do FlightRadar24 que mostra a posição de TODOS as aeronaves civis do mundo em tempo real. Foi tomada às 19h20 do dia 19/set/2022, hora de Brasília. A área de exclusão para a aviação civil é absolutamente enorme. Não é só o céu da Ucrânia que está fechado. Uma área maior que a Ucrânia, sobre a Rússia está fechada, bem como o espaço aéreo da Moldávia, no nordeste e parte do leste da Romênia, e de mais de 70% da Bielorrússia. Clique na imagem para ver maior.

Uman, está ali, em destaque. Onde esta gente toda pretende desembarcar, é um mistério, neste momento. Em 2020 houve uma confusão de dias na fronteira entre a Ucrânia e a Bielorrússia, que não queria permitir que peregrinos cruzassem a linha para pegar vôos fora da Ucrânia. Mas hoje, esta fronteira é de zona de guerra entre dois países inimigos. Mudou o status ali.

Não se pode torcer pelo bom senso de ninguém. Por um lado é uma questão de fé, por outro lado qualquer um dos players do conflito pode pretender envolver de forma trágica Israel e os judeus nesta questão.

E por outro lado, neste dia 18/set o conselho de segurança nacional de Israel emitiu um alerta para os próximos 18 dias, envolvendo Rosh Hashaná e dez dias depois, o Iom Kipur para ataques do Estado Islâmico e do Irã (por motivações diferentes), tanto contra alvos israelenses quanto alvos judaicos em países asiáticos e na Europa.

A pergunta que precisa ser feita é simples: existe possibilidade de uma unidade do Estado Islâmico ou do Hezbollah, chegar a Uman ou atacar os peregrinos na ida ou volta até a cidade? Sim existe. Neste ponto da guerra é impossível saber se todos os militares muçulmanos sunitas chechenos enviados pela Rússia para atacar Kiev e matar Zelensky, a partir do norte, a Bielorrússia foram de fato eliminados. E também não se tem ideia de onde estão empregados os 7 mil soldados de tropas especiais sírias muçulmanas sunitas e xiitas retirados do cenário da Guerra da Síria e levados para Guerra da Ucrânia, pela Rússia.

E bastam um, dois ou três destes militares muçulmanos para realizar a desgraça em Uman. O governo de Zelensky já afirmou que não tem como garantir a segurança dos peregrinos hassídicos judeus.

Opinião de José Roitberg – jornalista e pesquisador

José Roitberg

José Roitberg é um jornalista brasileiro e pesquisador em história, formado em Filosofia do Ensino sobre o Holocausto, pelo Yad Vashem de Jerusalém.