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Rabino chefe-sefaradi de Israel desce mais um degrau da escada e afirma que os que não comem kosher, se tornam estúpidos, entre outras coisas

Foi no sermão deste sábado, quando falava sobre a atitude correta do grupo Rosh Yehudi, de Tel Aviv ao desobedecer ordem judicial que o proibia de estabelecer barreiras físicas separando as mulheres dos homens para a cerimônia de Yom Kippur que decidiram realizar em via pública e não dentro da sinagoga deles. Pela verdade, a proibição não foi de separar as mulheres dos homens, mas de erigir obstáculos em via pública. Tivessem colocado as mulheres de um lado e os homens do outro, ou as mulheres atrás sem separação física a ordem da prefeitura garantida pela Suprema Corte teria sido atendida e a segregação estaria feita.

Infelizmente, nós aqui, liberais, reformistas ou conservadores, não conseguimos explicar, dentro de qualquer lógica, o motivo da separação ter que possuir uma barreira física e dentro do costume árabe, expandido depois para ramos europeus, de uma forma em que até seja impossível a uns, verem os outros.

As coisas já foram bem piores entre alguns ramos judaicos. Na imagem deste post temos um cartão postal da virada do século IX para o XX mostrando, por incrível que possa parecer, uma sinagoga de Salônica (hoje Tessalônica), na Grécia. A comunidade judaica grega foi formada por sefaraditas da Península Ibérica e falam ladino até os dias de hoje. A nas iluminuras antigas sobreviventes dos judeus de Portugal vemos homens e mulheres juntos dentro da sinagoga. A realidade é que a Grécia fazia parte do Império Otomano (muçulmano sunita) desde o século XIV. Quando os judeus ibéricos chegam lá entre 1492 e 1506 (virada do século XV para o XVI), encontram uma Grécia muçulmana só desfeita em 1830 quando declarou sua independência.

Diferente da separação territorial no Marrocos e Norte da África com judeus de fato sefaraditas, de origem Ibérica nas cidades do litoral e judeus berberes-árabes nas cidades o interior, na Grécia, isso não existia e os Ibéricos adotaram os costumes islâmicos de segregação das mulheres. Voltando a foto, que é muito importante. Está acontecendo uma cerimônia na sinagoga e não sabemos qual é. Na entrada pode-se ver um lençol branco criando uma barreira não física, mas bem marcada e contra a visão para dentro e para fora. E todas as boas mulheres judias de Salônica estão acompanhando (ou não) a cerimônia do lado de fora da sinagoga, onde é o lugar delas, pois “sempre” foi assim (só que não foi), e elas aceitam absolutamente as imposições sobre elas. Sabemos que existem sinagogas entre nós onde as mulheres de fato ficam atrás e até mesmo fora do local da sinagoga, mas dentro do prédio, ou ficam em cima, ficam ao lado, separadas por paredes, etc. A Sinagoga Israelita de Petrópolis, foi construída assim em meados do século XX: mulheres na perpendicular, atrás de uma parede com uma abertura e um porta. Note bem: não é uma crítica, apenas uma constatação.

Como em sã consciência poderíamos eu ou você criticarmos uma atitude de ortodoxos e ultra-ortodoxos em Israel, quando no Rio, em SP, Buenos Aires, Nova Iorque, Londres etc acontece exatamente a mesma coisa, da mesma forma e também de formas semelhantes?

A segregação de mulheres nos cultos religiosos está ACIMA DE QUALQUER POSSIBILIDADE DE CRÍTICA ENTRE NÓS. É uma questão de nicho religioso e a pratica quem quer praticar. Enquanto as mulheres naqueles ramos e seitas judaicas decidirem que é correto para elas ficarem separadas de seus maridos, filhos, pais e avôs, está tudo certo. Enquanto as mulheres nos nossos ramos judaicos reformista, liberal e conservador, continuarem decidindo que não há divisão entre nós, também deveria estar tudo certo, mas não está.

O rabino-chefe safaratida, e o mais correto seria rabino-chefe árabe, Yitzhak Yosef prossegue a linha do pai, Ovadia Yossef, fundador do partido político Shas, em se posicionar de forma agressiva, preconceituosa e ofensiva contra os judeus que são diferentes do que ele imagina que um judeu deve ser.

Desta vez, declarou para o atento público dele e depois postou nas mídias sociais deles que “os judeus que não são religiosos não possuem significado na vida, são ciumentos em relação aos ultra-ortodoxos e se tornaram mentalmente estúpidos por não comerem alimentos kosher.

Avigdor Liberman, parlamentar e líder do partido Israel Beitenu (Israel é nosso lar), de direita política secular, não deixou barato: “Nossa estupidez é pagar o salário dele com o dinheiro dos impostos da população.”

As palavras lamentáveis do rabino que mantém a anulação de todas as conversões ao judaísmo realizadas na América Latina a partir de 1928, definindo que os descendentes de todas as mulheres que se converteram ao judaísmo não são judeus e que seus barmitzvas, casamentos, separações e enterros foram todos ilegais, cujo pai determinou que Hitler foi o instrumento de nosso Deus para punir almas judias pecadoras, foram:

“Estou na corte rabínica recebendo casos e vendo o que acontece na comunidade secular. A comunidade secular está sofrendo. Eles não encontram realização na vida. Tudo é feito através de desejos mundanos.”

“É inacreditável, mas nós temos que trazê-los para perto. O que algumas organizações, ainda bem, estão fazendo – trazê-los para perto e retorna-los ao arrependimento. Isso precisa ser feito e é o que o rabino-chefe Ovadia Yossef (pai de Yitzhak) fez”, falando sobre o grupo Rosh Yehudi e o incidente em Tel Aviv.

Durante o sermão, Yossef declarou que “se uma pessoa come alimentos não kosher, o cérebro dela fica estúpido e ela não pode entender coisa, não pode compreender. Assim que a pessoa começa a manter a kashrut, você pode começar a influenciá-la.” O rabino também disse que os judeus seculares têm ciúmes dos hareidim, é tudo ciúmes, tudo vem dos ciúmes e se torna ódio.”

Yar lapid, o líder da oposição também detonou para cima do rabino-chefe: “Com suas palavras o rabino Yossef mudou a definição do papel dele. Elss não é o rabino-chefe de Israel, mas ao invés disso é o rabino de minoria vocal que amaldiçoas milhões de judeus que servem o exército e sacrificam suas vidas, trabalham e sustentam este país. Em uma coisa ele está certo – eles estão se sentindo um pouco estúpidos esta noite quando eles lembram que são eles que pagam seu salário.”

Um aspecto que todos precisam compreender é que as palavras dos Yossef iraquianos não são as palavras de um homem qualquer. Além dele ser o juiz de cargo mais alto da corte rabínica de Israel, o que ele diz pauta praticamente o discurso e ação de quase todos os rabinos árabes no mundo, além dos seguidores destes rabinos e dele próprio em Israel. O que ele diz tem um impacto global no mundo judaico.

Sei que algumas pessoas não acreditam quando eu escrevo isso, então um dos links para a questão deste domingo é https://www.timesofisrael.com/sephardic-chief-rabbi-clams-secular-jews-who-eat-non-kosher-food-get-stupid/

Opinião de José Roitberg – jornalista e pesquisador, um estúpido como definido pelo rabino Yossef, meu xará.

José Roitberg

José Roitberg é um jornalista brasileiro e pesquisador em história, formado em Filosofia do Ensino sobre o Holocausto, pelo Yad Vashem de Jerusalém.