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Visita de Biden foi muito bacana, mas desapontadora, em parte

Quanto maiores as expectativas, maiores os desapontamentos, pelo menos na esfera oficial.

A normalização entre Arábia Saudita e Israel não aconteceu. Como escrevemos nas últimas semanas, poderia ter acontecido, mas não enquanto o rei Salman, 86, estiver vivo. Não significa que estejamos desejando a morte do rei. Muito pelo contrário, que este Salomão árabe viva até os 120, como desejamos entre os judeus.

É assim que funciona uma monarquia. Um rei idoso se aposenta do dia-a-dia, nomeia um príncipe “CEO” regente do reino. E o CEO não fará nada que o rei não aprove. Portanto, podemos afirmar que as decisões já tomadas foram aprovadas pelo rei. A principal é a abertura do espaço aéreo saudita para as companhias aéreas israelenses. Voos para a Índia, China e Japão vão ficar mais curtos e o preço das passagens será similar aos das outras empresas aéreas. E os muçulmanos sunitas israelenses poderão ir à Meca direto de Tel Aviv. Isso está em vigor desde quinta-feira, 14/jul.

Lapid e Biden comemoraram oficialmente e publicamente, mas o ministro saudita das relações exteriores jogou um balde de areia fria. Muito esperto, declarou que isso nada tinha a ver com normalização de relações com Israel. Enquanto o rei Salman estiver entre nós, só quando a solução dos Dois Estados estiver implementada. Ou seja, nunca, pois a Autoridade Palestina não deseja implementar esta solução e perder toda a ajuda financeira que o status de “refugiados”, lhes permite.

Pior que isso, Mahmoud Abbas, sabiamente, pelo ponto de vista dele, prefere não ser o chefe de uma nação e ter que respeitar todo o rol legítimo que regula as ações entre países, pela ONU. Não constituindo um país, os palestinos não precisam obedecer a regra alguma e podem exigir que Israel obedeça a todas as regras. Já o Hamas não aceita a Solução dos Dois Estados, e abertamente afirma que luta pela destruição do Estado Judeu.

Sendo assim, a conversa entre Biden e Abbas, muito agradável, com presidente americano falando o que o líder palestino queria ouvir, nem aproximou uma solução, nem a afastou. Apenas uma conversa inofensiva para inglês ver. Aliás, os ingleses não mandam mais em nada mesmo. Vários amigos meus apontaram as declarações de Biden a Abbas como prova de que ele não está a favor de Israel.

Amigos e amigas, o presidente norte-americano tem que ser a favor dos Estados Unidos! E dos interesses norte-americanos. E isso ele deixou bem claro em Jeddah, capital saudita, quando afirmou que os EUA não vão abrir o menor espaço para o Irã, a Rússia ou a China, adquirirem posições políticas relevantes na península da Arábia e isso, para mim, está ótimo.

Com Lapid, Biden assinou a pomposa Declaração de Jerusalém, que Lapid rapidamente mandou emoldurar e pendurar na parede de seu escritório. Da mesma forma que para Abbas, o que Abbas queria ouvir, para Lapid foi igualzinho: os dois aliados estão comprometidos a não permitir que o Irã tenha armas atômicas, as relações entre Israel e os palestinos continuarão em discussão, vamos procurara expandir os Acordos de Abraão, e vamos combater o antissemitismo.

Um dos presidentes da FIERJ com quem trabalhei me ensinou o “segredo de discursar para plateia desconhecida ou hostil”. Diga o que a plateia quer ouvir. Você sairá aplaudido. E esta é a essência mais básica do discurso político e é o que Biden fez. Mas o que Biden fez não é o que interessa.

A agenda dele em Israel foi deixada intencionalmente frouxa e ninguém faz ideia dos encontros sigilosos que aconteceram lá. E estes são os de verdadeira importância.

O que aconteceu no terreno desde quinta-feira, quando Biden voou de Tel Aviv para Jeddah dá uma indicação maior. No domingo, o general 4 estrelas Michael E. Kurilla, comandante do CENTECOM norte-americano, que o comando central de combate abrangendo o Oriente Médio, Golfo Pérsico, parte do norte e do oeste da África, esteve em Israel. Entre outras coisas foi verificar os avanços na nova versão do Domo de Ferro e os canhões a laser do Raio de Ferro. Também tinham sido mostrados a Biden, sem os detalhes militares logo na chegada dele.

Na segunda-feira 18/jul, o comandante do IDF, do general Gantz esteve no Marrocos, sendo a primeira visita de um comandante militar israelense ao país.

Também na segunda-feira o porta-voz dos Marines, os fuzileiros navais norte-americanos postaram, vídeo, fotos e declaração comemorando o primeiro teste que esta importantíssima unidade militar dos Estados Unidos realizou com uma bateria do Domo de Ferro, lá nos EUA, num polígono de tiro militar no Novo México. Este teste bem-sucedido já se trata da esperada transferência de tecnologia. Foram utilizados o lançador e mísseis israelense, com radar e central de controle e computadores norte-americanos.

Opinião de José Roitberg com dados do Times de Israel, Jerusalem Post, Arutz 7 e YetNews.

Imagem: General Kurilla comandante do CENTECON, à esq, recebido pelo general Aviv Kohavi, comandante do IDF, recorte do vídeo oficial do evento.

José Roitberg

José Roitberg é um jornalista brasileiro e pesquisador em história, formado em Filosofia do Ensino sobre o Holocausto, pelo Yad Vashem de Jerusalém.