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Bibi fala abertamente na ONU sobre acordo possível com a Arábia Saudita

Um envelhecido primeiro-ministro de Israel abriu o jogo sobre o possível e provável acordo com a Arábia Saudita na Assembleai Geral da ONU. Pela vez dele o ministro saudita das relações exteriores nada disse e Mahmoud Abas, pelos palestinos disse que não vai haver.

A linha dura piromaníaca ortodoxa em no governo de Israel alinhou com Mahmoud Abas e também vai recusar o futuro acordo, principalmente se envolver concessões aos palestinos e claro que vão existir. Talvez até o fim do ano Bibi vai ter que escolher ficar ao lado dos kahanista e dos ultra-ortodoxos antissionistas ou ficar ao lado dos muçulmanos sauditas e provavelmente todos os outros países árabes que ainda não reataram relações com Israel.

Bibi não é a “sofia” da escolha. Bibi é a própria escolha. Precisará seguir o pragmatismo que sempre orientou os governos israelenses de esquerda e de direita e empurrar para o canto deles o misticismo religioso e os rabinos que tem que estar nos púlpitos e não nos ministérios e no parlamento.

Na esteira do discurso da ONU os sauditas nomearam um “embaixador não residente para a Palestina” e ele já está lá levando a proposta a Mahmoud Abas. Este também não uma “sofia”, e também é quem decide em primeira e última instância. Mas pode perder a cabeça. O Hamas é absolutamente piromaníaco e não vai aceitar qualquer acordo, ainda mais quando o grupo é amparado pelo Irã.

Ao mesmo tempo, o ministro do turismo do Estado Judeu, está oficialmente em Ryad, e é a primeira vez que um membro do governo israelense vai à Arábia Saudita.

Na época do Trump, foi oferecido aos palestinos um acordo, governo igualmente de Bibi. Eram dezenas de bilhões de dólares em investimentos de infraestrutura, industrialização e modernização do futuro estado palestino. A questão principal é que teriam que parar de incentivar a matança de judeus. E a resposta de Abas foi taxativa: “Não podemos ser comprados”. Será que dirá o mesmo aos sauditas? No caso de um acordo com os EUA o grana seria especificamente monitorada, com os sauditas, provavelmente não. E talvez nem precisa roubar, mas apenas acertar a parte de dele.

O que se sabe de forma aberta são alguns programas: aumento de usinas de dessalinização de água do mar, certamente para todos os países árabes que precisem disso.

Trem de alta velocidade entre Riad e Haifa facilitando a peregrinação à Meca vinda da Europa, mas principalmente o transporte de cargas entre Índia e Europa, e os indianos são parte integrante deste acordo maior. É claro que este hub novo vai facilitar os produtos chineses também e provavelmente será construído pela China.

Fornecimento de urânio enriquecido em Israel para o programa nuclear saudita em oposição ao Irã com quem os sauditas recém reataram relações.

O ACORDO NÃO VAI ACONTECER EM ISRAEL SEM O USO DE FORÇA

O Hamas não vai aceitar. Provavelmente vai se declarar independente, como Califado Islâmico de Gaza ou algo semelhante e armado até os dentes. Se fizer isso, a guerra de Gaza com Israel passa a ser regida pelas leis internacionais e o Hamas vai precisar deixar de utilizar seus meios de ataque atuais e Israel será mais criticado por estar “atacando” outro país.

O Jihad Islâmico, o Jihad Islâmico Palestino e a FPLP (Frente Popular para a Libertação da Palestina – grupo cristão-marxista) declararam que vão aumentar os ataques contra Israel e contra os judeus na Cisjordânia, logo depois dos sauditas anunciarem o embaixador não residente.

Pelo lado de Israel os kahanista do Otzma Yehudi (Poder Judeu) e Sionismo Religioso não vão aceitar qualquer acordo. A premissa deles é o Estado Único sem palestinos, portanto um Estado Palestino é inconcebível na mente deles. E também a ultra-ortodoxia mística que imagina poder moldar o mundo à Torá, vai ser absolutamente contra a solução de Dois Estados que é a solução de sempre do governo Israelense, seja Likud, Avodá e até mesmo Meretz.

O PIOR CENÁRIO

E o pior cenário não é a criação de um Estado Palestino que abdique da violência contra Israel trocando por uma integração econômica, de mão de obra e de indústrias. Esse é o melhor cenário. O terrível vai ser os colonos da Judeia e Samaria que são aderentes às ideologias extremistas judaicas e são hassidim (místicos), decidirem partir para o confronto aberto. O confronto não será contra a polícia palestina e sim contra as forças de defesa de Israel.

Ainda assim este não é o pior cenário. O fim de Israel estará marcado se e quando estes colonos tiverem que ser retirados da Cisjordânia, como foram antes retirados do Sinai e depois de Gaza. Entenda que isso já aconteceu duas vezes e é possível acontecer uma terceira vez.

Estavam no Sinais de 1967 a 1976 e no acordo com o Egito foram removidos pelas tropas israelenses debaixo de muita pancada. A maioria foi então para a Faixa de Gaza. Depois foram retirados de lá com muito mais choradeira que pancadas e boa parte foi para Sderot (onde viraram alvos de mísseis) e também para a Cisjordânia, enquanto outros estão ainda em áreas temporárias.

Trabalha-se com o número de 670.000 colonos judeus na Cisjordânia. Vivem estritamente dentro das leis judaicas. Se for necessário remover esta gente toda para dentro de Israel, eles vão querer continuar vivendo estritamente dentro das leis judaicas (eles estão certos, desde que vivam assim nas áreas deles). Mas não é isso que vai acontecer. Vão querer transformar as áreas onde estiverem em estritamente judaicas e o confronto será generalizado.

Diferente do normal, não vou só criticar desta vez. Vou dar uma solução. Eu já percorri muito o Golan. Sempre afirmo que com a construção de cidades modernas, os 16 milhões de judeus do mundo cabem apenas lá, sem maiores dificuldades. Portanto, os 670.000 também cabem. Se chegar-se ao pior cenário e os israelenses tiverem um mínimo de bom senso, criariam novas cidades religiosas no Golã e tudo se resolve, em princípio. Aliás, haveria a necessidade de um aporte gigante de mão de obra palestina na construção civil para isso e a solução econômica iria para os dois lados. Com aporte Saudita, americano e do Catar, tem grana sobrando para isso. O Golan é basicamente o antigo território da tribo de Dan.

Opinião de José Roitberg – jornalista e pesquisador

Imagem: colagem de fotos de divulgação do Gabinete do Primeiro Ministro de Israel e da Presidência da República do Brasil

José Roitberg

José Roitberg é um jornalista brasileiro e pesquisador em história, formado em Filosofia do Ensino sobre o Holocausto, pelo Yad Vashem de Jerusalém.